9

Durante anos, inflamava-me em amor de Deus a consideração do anseio de Jesus em incendiar o mundo com o seu fogo. E não podia conter dentro de mim aquele fervor que se abria impetuosamente na minha alma e que, expressando-se nas mesmas palavras do Mestre, saía aos gritos da minha boca: ignem veni mittere in terramet quid volo nisi ut accendatur?... Ecce ego quia vocasti me25; vim trazer fogo à terra, e que quero eu senão que arda?... Aqui estou, porque me chamaste.

Todos os meus filhos devem sentir esse desejo magnânimo de empenhar-se, com o sacrifício que for necessário, para que se ativem as energias aprisionadas e adormecidas dos homens em serviço de Deus, fazendo próprio aquele grito do Senhor: misereor super turbam26, tendo afeto à multidão.

Ninguém pode viver tranquilo no Opus Dei sem experimentar inquietação perante as massas despersonalizadas: rebanho, manada, vara, disse-vos alguma vez. Quantas paixões nobres existem, na sua aparente indiferença, quantas possibilidades! É preciso servir a todos, impor as mãos sobre cada um, como fazia Jesus – singulis manus imponens27 –, para trazê-los de volta à vida, curá-los, iluminar as suas inteligências e fortalecer as suas vontades, para que sejam úteis! E então converteremos o rebanho em exército, a manada em mesnada, e da vara extrairemos os que não quiserem ser imundos.

Hoje a Obra cheira a campo abençoado28 e – perante a fecundidade do trabalho – não é preciso fé para perceber que o Senhor bendisse o nosso trabalho a mãos cheias. Há anos, que, fazendo oração, com agradecimento ao Senhor, cantava à Obra aquele verso da minha terra: botãozinho, botãozinho, / já te estás a tornar rosa: / já está a chegar a altura / de dizer-te alguma coisa. Meus filhos, hoje tendes nas vossas mãos rosas belíssimas, esplêndidas, embora tenham espinhos. Este é o momento de não adormecer, de vibrar, para colher – e entregar a Jesus Cristo e à sua Santa Igreja – a colheita ganha com tanto esforço.

Notas
25

Lc 12,49; 1 Sm 3,9. «ignem veni mittere...»: aludiu a este facto em diversas ocasiões, que aparece recolhido nos seus Apontamentos íntimos (n. 1741, 16 de julho de 1934, cf. Josemaría Escrivá de Balaguer, Camino, ed. crítico-histórica preparada por Pedro Rodríguez, 3ª ed., Rialp, Madrid, 2004, p. 899-902). (N. do E.)

26

Mc 8,2.

27

Lc 4,40.

28

Cf. Gn 27,27.

* «foi definido pela Igreja»: foi definido no Concílio de Trento (Sessão XXIV, 11 de novembro de 1563, Canones de Sacramento Matrimonii, n. 10), em Conciliorum oecumenicorum decreta, ed. de Hubert Jedin e Giuseppe Alberigo, Bologna, Istituto per le scienze religiose di Bologna, 1973, p. 75. (N. do E.)

Este ponto noutra língua