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Entre os discípulos de Cristo, estava representada toda a sociedade do seu tempo: seguiam-no tanto a gente do povo, como os homens influentes. Muitas vezes vos ajudei a fixar a vossa atenção naqueles dois discípulos: Nicodemos, doutor da lei e homem importante – talvez membro do sinédrio – e José de Arimateia, rico, da aristocracia laica do supremo tribunal de Jerusalém. Agiam discreta e silenciosamente, firmes na vida pública aos imperativos da sua consciência29 e corajosos e ousados, de rosto descoberto, na hora difícil30. Sempre pensei – e já vos disse – que esses dois homens entenderiam muito bem, se vivessem hoje, a vocação dos Supranumerários do Opus Dei.

Assim como entre os primeiros seguidores de Cristo, nos nossos Supranumerários está presente toda a sociedade atual, e estará a de todos os tempos: intelectuais e homens de negócios; profissionais e artesãos; empresários e operários; pessoas da diplomacia, do comércio, do campo, das finanças e das letras; jornalistas, homens do teatro, do cinema e do circo, desportistas. Jovens e velhos. Saudáveis e doentes. Uma organização desorganizada, como a própria vida, maravilhosa; verdadeira e autêntica especialização do apostolado, porque todas as vocações humanas – limpas, dignas – se tornam apostólicas, divinas.

Interessam-nos pessoas que vêm de todas as profissões e ofícios, de todas as condições sociais, das mais diversas situações que ocorrem ou podem ocorrer, nesse entrelaçamento de serviços mútuos que é a sociedade humana: porque todo esse conjunto de inter-relações vivas deve ser penetrado pelo fermento de Cristo.

Notas
29

Cf. Lc 23,50-51.

30

Cf. Mc 15,43; Jo 19,39.

* «não destacamos umas profissões ou condições sociais sobre as outras»: São Josemaria assinalou como um dos fins específicos do Opus Dei o influxo cristão entre os intelectuais, pela sua repercussão no resto da sociedade (cf. José Luis González Gullón e John F. Coverdale, Historia del Opus Dei, Rialp, Madrid, 2021, p. 56, nota), mas desde os primeiros anos da sua atividade fundacional ressoa esta afirmação «somos para a multidão, nunca viveremos de costas para a massa» (Carta de Josemaria Escrivá a Francisco Morán, Burgos, 4 de abril de 1938, em Camino, ed. crítico-histórica, op. cit., p. 250; cf. comentário ao n. 914, inspirado numa anotação de 12 de outubro de 1931, onde já aparece o tema da “multidão”). Na documentação mais antiga que conservamos capta-se o seu anseio de chegar a operários, empregados de lojas, artistas, enfermeiras, etc., a pessoas de todas as profissões e condições sociais, entre as quais encontrará quem estiver preparado para se incorporar ao Opus Dei. Por exemplo, em Apontamentos íntimos, n. 373 (3 de novembro de1931) lê-se: «Com a ajuda de Deus e a aprovação do padre confessor, procurarei reunir em breve um grupinho separado de operários seletos», cit. em Luis Cano, “Los primeros supernumerarios del Opus Dei (1930-1950)”, em Santiago MARTÍNEZ SÁNCHEZ e Fernando CROVETTO (ed.), El Opus Dei. Metodología, mujeres y relatos, Thomsom Reuters Aranzadi, Pamplona, 2021, p. 379. (N. do E.)

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