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Dai-vos conta, meus filhos, de que não destacamos umas profissões ou condições sociais sobre as outras*. O valor que buscamos em todas elas – sem discriminação, sem mentalidade de classe – é o que têm como serviço à comunidade, de forma que elevamos e engrandecemos até os ofícios que, aos olhos de alguns, têm pouca consideração social. Todas essas tarefas cooperam para o bem temporal de toda a humanidade e, se forem desempenhadas com perfeição e por um motivo sobrenatural – se forem espiritualizadas –, também cooperam na obra divina da Redenção, fomentam a fraternidade entre todos os homens, fazendo-os sentir-se membros da grande família dos filhos de Deus.

Não tiramos ninguém do seu lugar: ali, naquelas circunstâncias em que o Senhor o chamou, cada um deve santificar-se a si mesmo e santificar o seu ambiente, a parcela humana à qual está ligado, pela qual se encontra justificada a sua existência no mundo. Também nisto temos o mesmo sentir dos primeiros cristãos.

Recordai o que S. Paulo escreveu aos fiéis de Corinto: permaneça cada um na condição em que foi chamado. Eras escravo, quando foste chamado? Não te preocupes com isso, e, ainda que pudesses tornar-te livre, procura, antes, tirar proveito da tua condição*. Pois o que sendo servo, foi chamado pelo Senhor, é um liberto do Senhor. Do mesmo modo, o que era livre quando foi chamado, é servo de Cristo. Fostes comprados por um alto preço; não vos torneis escravos dos homens. Irmãos: permaneça cada um, diante de Deus, na condição em que se encontrava quando por Ele foi chamado31.

Notas
31

1 Cor 7,20-24.

* “procura, antes, tirar proveito da tua condição”: a tradução da Conferência Episcopal Portuguesa (2021), propõe outra versão possível: “Mas se, de facto, te podes tornar livre, é melhor aproveitar” (N. do T.).

* «uma finalidade especializada»: no âmbito do apostolado dos leigos, discutiu-se durante anos se era melhor seguir o modelo centralizado e tradicional da Ação Católica, orientado para a colaboração dos leigos nas diversas atividades paroquiais, ou o modelo “especializado”, que visava a inserção do militante católico nos problemas sociais do ambiente. Para o Opus Dei, segundo o seu Fundador, qualquer trabalho ou atividade honesta é instrumento de apostolado, pelo que o Opus Dei «está enraizado na diversidade das especializações» próprias da vida como ela é. (N. do E.)

* «sem suplências de nenhum tipo»: o Autor quer indicar que o apostolado dos leigos do Opus Dei no mundo é a «sua missão na Igreja» e que se articula através da «vocação profissional secular», como dirá no parágrafo seguinte. Isto é, não invade, nem se considera melhor ou superior ao apostolado que levam a cabo abnegadamente os religiosos no mundo: simplesmente é diferente, porque não provém de uma vocação para a vida consagrada, mas do Batismo, pelo qual Deus chama todos a serem discípulos missionários de Cristo. (N. do E.)

* «nos distingue claramente»: na realidade, hoje em dia essas diferenças são pequenas, do ponto de vista sociológico e apostólico; a diversidade – para São Josemaria – apoia-se aqui na universalidade do fenómeno pastoral e de comunhão que o Opus Dei representa e também na universalidade da sua hierarquia interna. Mas esta distinção não significa distância com quem compartilha o desejo de santidade, o dinamismo missionário na sociedade atual e mantém laços de comunhão e fraternidade. (N. do E.)

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