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Sabeis muito bem, meus filhos, que o nosso trabalho apostólico não tem uma finalidade especializada*: tem todas as especializações, porque está enraizado na diversidade das especializações da própria vida; porque exalta e eleva à ordem sobrenatural, e transforma em autêntico trabalho de almas todos os serviços que uns homens prestam aos outros, na engrenagem da sociedade humana.

Nos últimos séculos, os religiosos de vida ativa, procurando aproximar-se do mundo – embora sempre a partir de fora – tentaram especializar os seus apostolados e infundir o espírito cristão em certas tarefas humanas: educação, beneficência, etc. Trabalho benemérito, embora muitas vezes não tivesse por finalidade configurar ou exprimir a vocação própria dos religiosos, mas sim suprir a falta de iniciativa dos cidadãos católicos. Estes, talvez por terem negligenciado a sua formação cristã, não sentiam a responsabilidade de cristianizar as instituições temporais.

Mas os religiosos, nessa tarefa – não específica da sua vocação, mas supletiva –, ao buscar a especialização, viam-se limitados, pois há muitos campos humanos que, sendo nobres e limpos, são absolutamente incompatíveis com o estado próprio dessas almas, cuja principal missão comum é oferecer ao mundo – do qual santamente se segregaram – o testemunho da sua vida consagrada. Além disso, o laicismo dos últimos tempos – em muitos países, inclusive católicos – está a expulsar os religiosos das escolas, das instituições de caridade, ou – pelo menos – a limitar as suas atividades não estritamente religiosas.

Com o apostolado da Obra, os leigos, sem suplências de nenhum tipo*, mas assumindo – com consciência plena e responsável – o campo específico que Deus lhes indicou como lugar da sua missão na Igreja, realizam um apostolado, cujas possibilidades de especialização são imprevisíveis, porque se confundem com as possibilidades do trabalho humano e das suas funções sociais e, sem imobilismos, este apostolado está aberto a todas as mudanças de estruturas que possam ocorrer, com o passar do tempo, na configuração da sociedade.

Não posso agora deixar de considerar que é muito difícil para os religiosos sentirem-se com uma vocação profissional secular e corrente – se a tivessem, não seriam religiosos – e que formá-los para um trabalho profissional é difícil, caro, sobreposto e artificial: acho que apenas um número muito pequeno de pessoas poderia, nessas condições, atingir o nível profissional médio das pessoas comuns.

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