Lista de pontos

Há 4 pontos em «Cristo que Passa» cujo tema é Jesus Cristo  → perfeito Deus .

Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito homem

O Filho de Deus fez-se carne e é perfectus Deus, perfectus homo, perfeito Deus e perfeito homem! Neste mistério há qualquer coisa que deveria emocionar os cristãos. Estava e estou comovido; gostava de voltar a Loreto… Vou lá em desejo para reviver os anos da infância de Jesus, repetindo e considerando: Hic Verbum caro factum est!

Jesus Christus, Deus Homo, Jesus Cristo, Deus-Homem! Eis uma magnalia Dei, uma das maravilhas de Deus em que temos de meditar e que temos de agradecer a este Senhor que veio trazer a paz na terra aos homens de boa vontade, a todos os homens que querem unir a sua vontade à Vontade boa de Deus. Não só aos ricos, nem só aos pobres! A todos os homens, a todos os irmãos! Pois irmãos somos todos em Jesus; filhos de Deus, irmãos de Cristo. Sua Mãe é nossa Mãe.

Na terra há apenas uma raça: a raça dos filhos de Deus. Todos devemos falar a mesma língua: a que o nosso Pai que está nos Céus nos ensina; a língua dos diálogos de Jesus com seu Pai; a língua que se fala com o coração e com a cabeça; a que estais a usar agora na vossa oração. É a língua das almas contemplativas, dos homens espirituais por se terem dado conta da sua filiação divina; uma língua que se manifesta em mil moções da vontade, em luzes vivas do entendimento, em afectos do coração, em decisões de rectidão de vida, de bem-fazer, de alegria, de paz.

É preciso ver o Menino, nosso Amor, no seu berço. Olhar para Ele, sabendo que estamos perante um mistério. Precisamos de aceitar o mistério pela fé, aprofundar o seu conteúdo. Para isso necessitamos das disposições humildes da alma cristã: não pretender reduzir a grandeza de Deus aos nossos pobres conceitos, às nossas explicações humanas, mas compreender que esse mistério, na sua obscuridade, é uma luz que guia a vida dos homens.

Vemos - diz S. João Crisóstomo - que Jesus saiu de nós, da nossa substância humana, e que nasceu de Mãe virgem; mas não entendemos como pode ter-se realizado esse prodígio. Não nos cansemos, tentando descobri-lo; aceitemos antes com humildade o que Deus nos revelou sem esquadrinharmos com curiosidade o que Deus nos escondeu. Assim, com este acatamento, saberemos compreender e amar; e o mistério será para nós um esplêndido ensinamento, mais convincente do que qualquer outro raciocínio humano.

*Homilia pronunciada em 6 de Janeiro de 1956, Epifania do Senhor.

Ainda não há muito tempo, tive oportunidade de admirar um baixo-relevo em mármore, que representa a cena da adoração de Deus Menino pelos Reis Magos. Emoldurando esse baixo-relevo, havia outros: quatro anjos, cada um com seu símbolo - um diadema, o mundo coroado pela cruz, uma espada e um ceptro. Deste modo, utilizando símbolos bem conhecidos, ilustrava-se plasticamente o acontecimento que hoje comemoramos: uns homens sábios - reis, segundo a tradição - prostram-se diante do Menino, depois de perguntar em Jerusalém: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?

Também eu, instado por esta pergunta, contemplo agora Jesus, deitado numa manjedoura, num lugar que só é próprio para os animais. Onde está, Senhor, a tua realeza: o diadema, a espada, o ceptro? Pertencem-lhe e não os quer; reina envolto em panos. É um rei inerme, que se nos apresenta indefeso; é uma criança. Como não havemos de recordar aquelas palavras do Apóstolo: aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo.

Nosso Senhor encarnou para nos manifestar a vontade do Pai. E começa a instruir-nos estando ainda no berço. Jesus Cristo procura-nos - com uma vocação, que é vocação para a santidade -, a fim de consumarmos com Ele a Redenção. Considerai o seu primeiro ensinamento: temos de co-redimir à custa de triunfar, não sobre o próximo, mas sobre nós mesmos. Tal como Cristo, precisamos de nos aniquilar, de sentir-nos servidores dos outros para os conduzir a Deus.

Onde está o nosso Rei? Não será que Jesus quer reinar, antes de mais, no coração, no teu coração? Por isso se fez menino: quem é capaz de ter o coração fechado para uma criança? Onde está o nosso Rei? Onde está o Cristo que o Espírito Santo procura formar na nossa alma? Cristo não pode estar na soberba, que nos separa de Deus, nem na falta de caridade, que nos isola dos homens. Aí não podemos encontrar Cristo, mas apenas a solidão.

No dia da Epifania, prostrados aos pés de Jesus Menino, diante de um Rei que não ostenta sinais externos de realeza, podeis dizer-lhe: Senhor, expulsa a soberba da minha vida, subjuga o meu amor próprio, esta minha vontade de afirmação pessoal e de imposição da minha vontade aos outros. Faz com que o fundamento da minha personalidade seja a identificação contigo.

Aprendamos desta atitude de Jesus: durante a sua vida na Terra, não quis sequer a glória que Lhe pertencia, pois, tendo direito a ser tratado como Deus, assumiu a forma de servo, de escravo. O cristão sabe, portanto, que toda a glória é para Deus e que não pode servir-se da sublimidade e grandeza do Evangelho como instrumento de interesses e de ambições humanas.

Aprendamos de Jesus: a sua atitude, ao opor-se a toda a glória humana, está em perfeita correlação com a grandeza de uma única missão - a de Filho predilecto de Deus, que encarna para salvar os homens. Missão que o amor do Pai rodeou cheia de ternura: Filius meus es, ego hodie genui te. Postula a me et dabo tibi gentes hereditatem tuam. - Tu és meu filho, Eu hoje Te gerei. Pede-Me e Eu Te darei as nações em herança…

O cristão que, seguindo Cristo, vive nessa atitude de completa adoração do Pai, recebe também do Senhor palavras de amoroso desvelo: Porque espera em Mim, Eu o livrarei; protegê-lo-ei, porque conhece o meu nome.

Não quero terminar sem uma última reflexão: o cristão, ao tornar Cristo presente entre os homens, sendo ele mesmo ipse Christus, não procura apenas viver numa atitude de amor, mas também dar a conhecer o Amor de Deus através desse amor humano.

Jesus concebeu toda a sua vida como uma revelação desse amor: Filipe, - respondeu a um dos seus Apóstolos - quem me vê a Mim, vê o Pai. Seguindo esse ensinamento, o Apóstolo João convida os cristãos a que, já que conheceram o amor de Deus, o manifestem com as suas obras: Caríssimos, amemo-nos uns aos outros; porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece-0. Aquele que não ama não conhece Deus, porque Deus é Amor. Nisto se manifestou o amor de Deus para connosco: em ter enviado o seu Filho unigénito ao mundo para que por Ele vivamos. Nisto consiste o seu amor: não fomos nós que amámos Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho para propiciação pelos nossos pecados. Caríssimos, se Deus nos amou assim, também nos devemos amar uns aos outros.