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Há 2 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Luta ascética  → alegre e desportiva.

Tive oportunidade de observar, em algumas ocasiões, como reluziam os olhos de um desportista, perante os obstáculos que tinha de saltar. Que vitória! Observai como domina as dificuldades! Assim nos contempla Deus, que ama a nossa luta: seremos sempre vencedores, porque nunca nos nega a omnipotência da sua graça. E não importa então que haja luta, porque Ele não nos abandona.

A castidade é combate e não renúncia, já que respondemos com uma afirmação gozosa, com uma entrega livre e alegre. Não deves limitar-te a fugir da queda ou da ocasião, nem o teu comportamento deve reduzir-se, de maneira alguma, a uma negação fria e matemática. Já te convenceste de que a castidade é uma virtude e, como tal, deve desenvolver-se e aperfeiçoar-se? Não basta ser continente, cada um segundo o seu estado. Insisto: temos de viver castamente, com virtude heróica. Este comportamento é um acto positivo, com o qual aceitamos de boa vontade o pedido de Deus: Præbe, fili mi, cor tuum mihi et oculi tui vias meas custodiant, entrega-me, meu filho, o teu coração e espraia os teus olhos pelos meus campos de paz.

Pergunto-te eu, agora: como encaras tu esta batalha? Bem sabes que a luta já está vencida, se a mantivermos desde o princípio. Afasta-te imediatamente do perigo, mal percebas as primeiras chispas de paixão, e até antes. Fala, além disso, com quem dirige a tua alma; se possível antes, porque abrindo o coração de par em par não serás derrotado. Um acto repetido várias vezes cria um hábito, uma inclinação, uma facilidade. É preciso, pois, batalhar para alcançar o hábito da virtude, o hábito da mortificação, para não recusar o Amor dos Amores.

Meditai no conselho de S. Paulo a Timóteo: Te ipsum castum custodi, conserva-te a ti mesmo puro, para estarmos, também, sempre vigilantes, decididos a defender o tesouro que Deus nos entregou. Ao longo da minha vida, quantas e quantas pessoas não ouvi queixarem-se: Ah! Se eu tivesse cortado ao princípio! E diziam-no cheias de aflição e de vergonha.

Se, por desgraça, se cai, é preciso levantar-se imediatamente. Com a ajuda de Deus, que não nos faltará se usarmos os meios adequados, chegaremos, o mais depressa possível, ao arrependimento, à sinceridade humilde, à reparação, para que a derrota momentânea redunde numa grande vitória de Jesus Cristo.

Habituai-vos também a travar a luta longe das muralhas principais da fortaleza. Não podemos andar a fazer equilíbrios nas fronteiras do mal; temos de evitar com firmeza o voluntário in causa. Temos de afastar a mais pequena falta de amor, temos de fomentar as ânsias de apostolado cristão, contínuo e fecundo, que necessita da santa pureza como alicerce, sendo esta, aliás, um dos seus frutos mais característicos. Devemos, além disso, encher o tempo com trabalho intenso e responsável, procurando a presença de Deus, porque nunca nos podemos esquecer que fomos comprados por alto preço e que somos templos do Espírito Santo.

Que outros conselhos vos hei-de eu sugerir, senão os que sempre foram utilizados pelos cristãos que pretendiam, de verdade, seguir Cristo? Trata-se, afinal, dos mesmos que empregaram os primeiros a escutarem o apelo de Jesus: o encontro assíduo com o Senhor na Eucaristia, a invocação filial da Santíssima Virgem, a humildade, a temperança, a mortificação dos sentidos - porque não convém olhar o que não é lícito desejar, advertia S. Gregório Magno - e a penitência.

Dir-me-eis que, ao fim e ao cabo, tudo isto é uma síntese da vida cristã. Na verdade, não seria correcto separar a pureza, que é amor, da essência da nossa fé, que é a caridade, ou seja, um renovado apaixonar-se por Deus que nos criou, nos redimiu e que nos estende continuamente a sua mão, ainda que muitas vezes não nos apercebamos disso. Deus não nos pode abandonar. Sião dizia: Yavé abandonou-me e o Senhor esqueceu-se de mim. Pode a mulher esquecer-se do fruto do seu ventre, não se compadecer do fruto das suas entranhas? Pois , ainda que ela se esquecesse, Eu não te esqueceria. Não vos causam estas palavras uma enorme alegria?

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura