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Há 5 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Amor de Deus → direitos de Deus.

Continua o episódio evangélico: e enviaram discípulos seus (dos fariseus) juntamente com alguns herodianos, que lhe disseram: Mestre… vede com que intenção retorcida lhe chamam Mestre; fingem-se admiradores e amigos, dão-lhe um tratamento reservado à autoridade de quem se espera receber ensinamentos. Magister, scimus quia verax es, sabemos que és verdadeiro… Que astúcia tão infame! Já vistes maior duplicidade? Andai por este mundo com cuidado. Não sejais desconfiados; mas deveis sentir sobre os vossos ombros - recordando a imagem do Bom Pastor que aparece nas catacumbas - o peso dessa ovelha, que não é uma alma apenas, mas a Igreja inteira, a Humanidade inteira.

Ao mesmo tempo que aceitais com brio esta responsabilidade, haveis de ser audazes e haveis de ser prudentes para defender e proclamar os direitos de Deus. E então, pela integridade do vosso comportamento, muitos vos considerarão e vos chamarão mestres, sem vós o pretenderdes, pois não procuramos a glória terrena. Mas não estranheis se, entre tantos que se aproximam de vós, se infiltrarem alguns que só pretendem adular-vos. Gravai nas vossas almas o que me tendes ouvido repetidas vezes: nem as calúnias, nem as murmurações, nem os respeitos humanos, nem o que dirão, nem muito menos os louvores hipócritas nos hão-de impedir jamais de cumprir o nosso dever.

Actuar com rectidão

Se, em cada momento, não tiramos do Evangelho consequências para a vida actual, é porque não meditamos nele suficientemente. Muitos de vós sois jovens; outros já entrastes na maturidade. Todos vós quereis, queremos todos - senão não estaríamos aqui - produzir bons frutos. Tentamos meter na nossa conduta o espírito de sacrifício, o empenho de negociar com o talento que o Senhor nos confiou, porque sentimos o zelo divino pelas almas. Mas, apesar de tanta boa vontade, não seria a primeira vez que algum de nós cairia nas malhas dessa rede - ex pharisæis et herodianis - composta por pessoas que deviam defender os direitos de Deus, visto que são cristãos, mas que, pelo contrário, de um modo ou de outro, cercam insidiosamente outros irmãos na Fé, outros servidores do mesmo Redentor, aliando-se e identificando-se com os interesses das forças do mal.

Sede prudentes e actuai sempre com simplicidade, virtude tão própria dos bons filhos de Deus. Sede naturais na vossa linguagem e na vossa actuação. Chegai ao fundo dos problemas; não fiqueis à superfície. Reparai que é preciso contar antecipadamente com o sofrimento alheio e com o nosso, se desejamos deveras cumprir santamente e com honradez as nossas obrigações de cristãos.

A cada um o que lhe pertence

Lede com atenção o episódio evangélico para aproveitar essas estupendas lições acerca das virtudes que devem iluminar o nosso modo de proceder. Acabado o preâmbulo hipócrita e adulador, os fariseus e os herodianos apresentam o seu problema: Que te parece? É lícito ou não pagar tributo a César?Notai agora a sua astúcia - escreve S. João Crisóstomo - porque não lhe dizem: "explica-nos o que é bom, o que é conveniente, o que é lícito", mas "diz-nos o que te parece". Estavam obsessionados por atraiçoá-lo e torná-lo odioso ao poder político. Mas Jesus, conhecendo-lhes a malícia, retorquiu: Porque me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. Eles apresentaram-lhe um denário. De quem é, perguntou, essa imagem e a inscrição? De César, responderam. Disse-lhes então: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.

Já estais a ver que o dilema é antigo, assim como é clara e inequívoca a resposta do Mestre. Não há, não existe nenhuma contradição entre servir a Deus e servir os outros; entre o exercício dos nossos direitos e deveres cívicos, e os religiosos; entre o empenho por construir e melhorar a cidade temporal e a convicção de que passamos por este mundo como por um caminho que nos leva à pátria celeste.

Também aqui se manifesta a unidade de vida que - não me cansarei de o repetir - é uma condição essencial para os que procuram santificar-se no meio das circunstâncias ordinárias do trabalho, das relações familiares e sociais. Jesus não admite essa divisão: Ninguém pode servir a dois senhores, porque, ou há-de ter aversão a um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro.

A escolha exclusiva de Deus feita por um cristão quando responde plenamente ao seu chamamento, leva-o a dirigir tudo ao Senhor e, ao mesmo tempo, a dar ao próximo tudo o que em justiça lhe corresponde.

Não é lícito escudar-se em razões aparentemente piedosas para expoliar os outros do que lhes pertence: Se alguém diz: "Eu amo a Deus" mas odeia o seu irmão, é mentiroso. Mas também se engana a si mesmo quem regateia ao Senhor o amor e a reverência - a adoração - que lhe são devidos como Criador e nosso Pai; a quem se nega a obedecer aos seus mandamentos com a falsa desculpa de que algum deles é incompatível com o serviço dos homens claramente adverte S. João que nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: Se amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. Porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados.

Talvez tenhais de escutar muitos que peroram e inventam teorias com o fim de reduzirem - em nome da funcionalidade, quando não da caridade! - as manifestações de respeito e de homenagem a Deus. Tudo o que seja para honrar o Senhor lhes parece excessivo. Não façais caso deles; vós continuai o vosso caminho. Essas elucubrações não passam de controvérsias que não conduzem a nada, a não ser escandalizar as almas e impedir que se cumpra o preceito de Jesus Cristo de dar a cada um o que lhe pertence, de praticar com delicada inteireza a santa virtude da justiça.

Deveres de justiça para com Deus e com os homens

Gravemo-lo bem na nossa alma, para que depois se note na nossa conduta: primeiro, justiça para com Deus. Essa é a pedra de toque da verdadeira fome e sede de justiça, que a distingue da gritaria dos invejosos, dos ressentidos, dos egoístas, dos cobiçosos… Com efeito, negar ao nosso Cria dor e Redentor o reconhecimento dos abundantes e inefáveis bens que nos concede é uma atitude que encerra a mais tremenda e ingrata das injustiças. Vós, se vos esforçardes deveras por ser justos, considerareis frequentemente a vossa dependência de Deus - pois, que tens tu que não tenhas recebido? - para vos encherdes de agradecimento e de desejos de corresponder a um Pai que nos ama loucamente.

Então avivar-se-á em vós o bom espírito de piedade filial, que vos fará tratar Deus com ternura de coração. Quando os hipócritas levantarem ao vosso redor a dúvida de saber se o Senhor tem direito a pedir-vos tanto, não vos deixeis enganar. Pelo contrário: ponde-vos na presença de Deus, dóceis, como a argila nas mãos do oleiro e confessai-lhe rendidamente: Deus meus et omnia! Tu és o meu Deus e o meu tudo! E se alguma vez surgir um golpe inesperado, uma tribulação imerecida por parte dos homens, sabereis cantar com nova alegria: faça-se, cumpra-se, seja louvada e eternamente glorificada a justíssima e amabilíssima Vontade de Deus sobre todas as coisas! Amen. Amen.

Referências da Sagrada Escritura
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