Lista de pontos

Há 3 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Vontade de Deus → prudência e liberdade.

O sentido da liberdade

Nunca poderemos entender perfeitamente a liberdade de Jesus Cristo, imensa - infinita - como o Seu amor. Mas o tesouro preciosíssimo do Seu generoso holocausto deve levar-nos a pensar: porque me deste, Senhor, este privilégio com que sou capaz de seguir os teus passos, mas também de Te ofender? Acabamos, assim, por calibrar o recto uso da liberdade, se se inclina para o bem; e a sua errada orientação, quando, com essa faculdade, o homem se esquece, se afasta do Amor dos amores. A liberdade pessoal - que defendo e defenderei sempre com todas as minhas forças - leva-me a perguntar com uma segurança convicta e também consciente da minha própria fraqueza: que esperas de mim, Senhor, para o fazer voluntariamente?

O próprio Cristo nos responde: Veritas liberabit vos; a verdade far-vos-á livres. Que verdade é esta, que inicia e consuma o caminho da liberdade em toda a nossa vida? Resumi-la-ei com a alegria e com a certeza que provêm da relação de Deus com as suas criaturas: saber que saímos das mãos de Deus, que somos objecto da predilecção da Santíssima Trindade, que somos filhos de um Pai tão grande. Peço ao meu Senhor que nos decidamos a apercebermo-nos disso, a saboreá-lo dia após dia: assim actuaremos como pessoas livres. Não esqueçamos: quem não sabe que é filho de Deus desconhece a sua verdade mais íntima e carece, na sua actuação, do domínio e do senhorio próprios dos que amam Nosso Senhor, sobre todas as coisas.

Persuadamo-nos de que para ganhar o Céu temos de nos empenhar livremente, com uma decisão plena, constante e voluntária. Mas a liberdade não se basta a si mesma: necessita de um norte, de uma orientação. Aalma não pode andar sem ninguém que a dirija; e para isso foi redimida de modo que tenha por Rei Cristo, cujo jugo é suave e a carga leve (Mt 11, 30), e nãoo diabo, cujo jugo é pesado.

Não nos deixemos enganar pelos que se conformam com uma triste vozearia: liberdade! liberdade! Muitas vezes, nesse mesmo clamor, esconde-se uma trágica servidão: porque a escolha que prefere o erro não liberta; o único que liberta é Cristo, pois só Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Perguntemo-nos de novo, na presença de Deus: Senhor, para que nos deste este poder? Porque depositaste em nós esta faculdade de Te escolher ou de Te rejeitar? Tu desejas que usemos acertadamente esta nossa capacidade. Senhor, que queres que eu faça? A resposta é diáfana e precisa: amarás o Senhorteu Deuscom todo o teu coração e comtoda a tua alma e com toda a tua mente .

Vêem? A liberdade adquire o seu sentido autêntico quando se exerce ao serviço da verdade que resgata, quando se gasta a procurar o amor infinito de Deus, que nos desata de todas as escravidões. Aumentam cada vez mais os meus desejos de anunciar em altos brados esta insondável riqueza do cristão: a liberdade da glória dos filhos de Deus! Nisso se resume a boavontade que nos ensina a seguir o bem, depois de o distinguir do mal.

Gostaria que meditássemos num ponto fundamental que nos situa perante a responsabilidade da nossa consciência. Ninguém pode escolher por nós: eis o grau supremo da dignidade dos homens:que, por si mesmose não por outros, se dirijam para o bem . Muitos de nós herdámos dos nossos pais a fé católica e, por graça de Deus, quando recém-nascidos recebemos o Baptismo, começou na alma a vida sobrenatural. Mas temos de renovar ao longo da nossa existência - e mesmo ao longo de cada dia - a determinação de amar a Deus sobre todas as coisas. É cristão, digo, verdadeiro cristão, aquele que se submete ao império do único Verbo de Deus, sem impor condições a esse acatamento, disposto a resistir à tentação diabólica com a mesma atitude de Cristo: Adorarás o Senhor teu Deus e sóa Ele servirás .

S. Tomás aponta três actos deste bom hábito da inteligência: pedir conselho, julgar rectamente e decidir. O primeiro passo da prudência é o reconhecimento das nossas limitações: a virtude da humildade. Admitir, em determinadas questões, que não conseguimos chegar a tudo, que não podemos abarcar, em tantos e tantos casos, circunstâncias que é preciso não perder de vista à hora de julgar. Por isso nos socorremos de um conselheiro. Não de um qualquer, mas de quem estiver capacitado e animado pelos mesmos desejos sinceros de amar a Deus e de o seguir fielmente. Não é suficiente pedir um parecer; temos de nos dirigir a quem no-lo possa dar desinteressada e rectamente.

Depois, é necessário julgar, porque a prudência exige habitualmente uma determinação pronta e oportuna. Se às vezes é prudente atrasar a decisão até conseguir todos os elementos do juízo, noutras ocasiões seria uma grande imprudência não começar a pôr em prática, quanto antes, aquilo que julgamos necessário fazer, especialmente quando está em jogo o bem dos outros.