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Há 4 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Prudência → necessidade.

A prudência, virtude necessária

Na passagem do Evangelho de S. Mateus da missa de hoje, lemos: tunc abeuntes pharisæi, consilium inierunt ut caperent eum in sermone, reuniram-se os fariseus a fim de combinarem entre si como poderiam apanhar Jesus nas suas palavras. Não esqueçais que este sistema, próprio dos hipócritas, continua a ser táctica corrente no nosso tempo. Julgo que a erva má dos fariseus nunca se extinguirá do mundo; tem gozado sempre de uma prodigiosa fecundidade. Talvez o Senhor permita que ela cresça para nos tornar prudentes, a nós, seus filhos, porque a virtude da prudência é imprescindível para quem quer que tenha de dar critério, de fortalecer, de corrigir, de animar, de alentar os outros. Aliás, qualquer cristão deve actuar em relação aos que o rodeiam precisamente assim, como apóstolo, aproveitando as circunstâncias do seu trabalho quotidiano.

Levanto neste momento o coração a Deus e peço, por mediação da Virgem Santíssima - que está na Igreja, mas sobre a Igreja: entre Cristo e a Igreja, para proteger, reinar e ser Mãe dos homens, como o é de Jesus, Senhor Nosso-; peço que conceda a prudência a todos nós, mas especialmente àqueles que, metidos na torrente circulatória da sociedade, desejam trabalhar por Deus. Realmente, convém-nos aprender a ser prudentes.

Actuar com rectidão

Se, em cada momento, não tiramos do Evangelho consequências para a vida actual, é porque não meditamos nele suficientemente. Muitos de vós sois jovens; outros já entrastes na maturidade. Todos vós quereis, queremos todos - senão não estaríamos aqui - produzir bons frutos. Tentamos meter na nossa conduta o espírito de sacrifício, o empenho de negociar com o talento que o Senhor nos confiou, porque sentimos o zelo divino pelas almas. Mas, apesar de tanta boa vontade, não seria a primeira vez que algum de nós cairia nas malhas dessa rede - ex pharisæis et herodianis - composta por pessoas que deviam defender os direitos de Deus, visto que são cristãos, mas que, pelo contrário, de um modo ou de outro, cercam insidiosamente outros irmãos na Fé, outros servidores do mesmo Redentor, aliando-se e identificando-se com os interesses das forças do mal.

Sede prudentes e actuai sempre com simplicidade, virtude tão própria dos bons filhos de Deus. Sede naturais na vossa linguagem e na vossa actuação. Chegai ao fundo dos problemas; não fiqueis à superfície. Reparai que é preciso contar antecipadamente com o sofrimento alheio e com o nosso, se desejamos deveras cumprir santamente e com honradez as nossas obrigações de cristãos.

Et viam Dei in veritate doces, e ensinas com verdade o caminho de Deus - continuam eles. Ensinar, ensinar, ensinar! Mostrar os caminhos de Deus segundo a pura verdade! Não deves assustar-te por verem os teus defeitos; os teus e os meus; eu tenho o desejo de os tornar públicos, contando a minha luta, o meu empenho de rectificar este ou aquele ponto da minha luta por ser leal ao Senhor.

O esforço por eliminar e vencer essas misérias já será um modo de indicar os caminhos divinos: primeiro, e apesar dos nossos erros manifestos, com o testemunho da nossa vida; depois, com a doutrina, como nosso Senhor, que coepit facere et docere, começou pelas obras e mais tarde se dedicou a pregar.

Depois de vos confirmar que este sacerdote vos quer muito e que o Pai do Céu vos quer mais, porque é infinitamente bom, porque é infinitamente Pai; depois de vos dizer que não posso lançar-vos nada à cara, considero, no entanto, que tenho de ajudar-vos a amar Jesus Cristo e a Igreja, seu rebanho, porque nisto penso que não me ganhais: emulais-me, mas não me ganhais. Quando vos aponto algum erro através da pregação ou nas conversas pessoais com cada um de vós, não é para vos fazer sofrer; move-me exclusivamente o empenho de amarmos mais o Senhor. E ao insistir na necessidade de praticar as virtudes, não perco de vista que essa necessidade também se impõe a mim.

Certa ocasião, ouvi dizer a um superficial que a experiência das nossas quedas serve para voltar a cair cem vezes no mesmo erro. Eu, pelo contrário, digo-vos que uma pessoa prudente aproveita esses reveses para ficar escarmentada, para aprender a fazer o bem, para renovar a decisão de ser mais santa. Da experiência dos vossos fracassos e triunfos no serviço de Deus tirai sempre, juntamente com o aumento do amor, um empenho mais firme de prosseguir no cumprimento dos vossos direitos de cidadãos cristãos, custe o que custar; sem cobardias, sem fugir às honras nem às responsabilidades, sem nos assustarmos perante as reacções que se levantem ao nosso redor - provenientes talvez de falsos irmãos - quando procuramos leal e nobremente a glória de Deus e o bem dos outros.

Portanto, temos de ser prudentes. Para quê? Para sermos justos, para vivermos a caridade, para servirmos eficazmente Deus e todas as almas. Com muita razão se chamou à prudência genitrix virtutum, mãe de todas as virtudes, e também auriga virtutum , guia de todos os bons hábitos.

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura