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Há 6 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Paz → sementeira de paz.

Se vivermos assim, realizaremos no mundo uma obra de paz; saberemos tornar amável aos outros o serviço a Nosso Senhor, porque Deus ama quem dá com alegria O cristão é uma pessoa igual às outras na sociedade; mas do seu coração transbordará a alegria de quem se propõe cumprir, com a ajuda constante da graça, a Vontade do Pai: e não se sente vítima, nem inferiorizado, nem coagido. Caminha de cabeça erguida, porque é homem e é filho de Deus.

A nossa fé dá todo o seu relevo a estas virtudes, que pessoa alguma deveria deixar de cultivar. Ninguém pode vencer o cristão em humanidade. Por isso, quem segue Cristo é capaz - não por mérito próprio, mas pela graça de Nosso Senhor - de comunicar aos que o rodeiam o que às vezes eles pressentem, embora não consigam compreender: que a verdadeira felicidade, o verdadeiro serviço ao próximo passa pelo Coração do Nosso Redentor; perfectus Deus, perfectus, homo.

Recorramos a Maria, nossa Mãe, a criatura mais excelsa que saiu das mãos de Deus. Peçamos-lhe que nos faça homens de bem e que essas virtudes humanas, engastadas na vida da graça, se tornem a melhor ajuda para aqueles que trabalham connosco no mundo pela paz e pela felicidade de todos.

Não vos comove que o Apóstolo João, sendo já velho, passe a maior parte de uma das suas epístolas a exortar-nos a que nos comportemos de acordo com essa doutrina divina? O amor que deve haver entre os cristãos provém de Deus, que é Amor. Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque a caridade procede de Deus, e todo o que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. O que não ama, não conhece a Deus; porque Deus é Amor. Insiste de forma particular na caridade fraterna, pois por Cristo nos tornamos filhos de Deus: vede que amor nos mostrou o Pai, querendo que nos chamemos filhos de Deus e que o sejamos.

E enquanto toca com toda a veemência as nossas consciências para que se tornem mais sensíveis à graça divina, insiste em que recebemos uma prova maravilhosa do amor do Pai pelos homens: nisto se manifestou a caridade de Deus para connosco, em que Deus enviou o seu Filho Unigénito ao mundo para que por Ele tenhamos a vida . O Senhor tomou a iniciativa, vindo ao nosso encontro. Deu-nos o exemplo para nos pormos com Ele ao serviço dos outros, para - gosto de repetir - pormos generosamente o nosso coração a servir de alcatifa, de modo que os outros caminhem suavemente e a sua luta resulte para eles mais amável. Devemos comportar-nos assim, porque somos filhos do mesmo Pai, que não hesitou em entregar-nos o seu Filho muito amado.

De que amor se trata? A Sagrada Escritura fala de dilectio, para que se entenda bem que não se refere apenas ao afecto sensível. É mais uma determinação firme da vontade. Dilectio deriva de electio, de escolher. Eu acrescentaria que amar, em sentido cristão, significa querer querer, decidir-se em Cristo a procurar o bem das almas sem discriminação de qualquer género, conseguindo para elas antes de mais o que há de melhor: que conheçam a Cristo e que se apaixonem por Ele.

O Senhor urge-nos: portai-vos bem com os que vos aborrecem e orai pelos que vos perseguem e caluniam. Podemos não nos sentir humanamente atraídos pelas pessoas que nos afastariam, se nos aproximássemos delas. Mas Jesus exige que não lhes devolvamos mal por mal; que não desperdicemos as ocasiões de as servir com o coração, ainda que nos custe; e que não deixemos nunca de as ter presentes nas nossas orações.

Essa dilectio, essa caridade, enche-se de matizes mais profundos quando se refere aos irmãos na fé, especialmente aos que, porque Deus assim o estabeleceu, trabalham mais perto de nós: os pais, o marido ou a mulher, os filhos e os irmãos, os amigos e os colegas, os vizinhos. Se não existisse este carinho, amor humano nobre e limpo, ordenado a Deus e n'Ele fundamentado, não haveria caridade.

Uma das suas primeiras manifestações concretiza-se em iniciar a alma nos caminhos da humildade. Quando sinceramente nos consideramos nada; quando compreendemos que, se não tivéssemos o auxílio divino, a mais débil e fraca das criaturas seria melhor do que nós; quando nos vemos capazes de todos os erros e de todos os horrores; quando nos reconhecemos pecadores, embora lutemos com empenho por nos afastarmos de tantas infidelidades, como havemos de pensar mal dos outros? Como se poderá alimentar no coração o fanatismo, a intolerância, o orgulho?

A humildade leva-nos pela mão a tratar o próximo da melhor forma: compreender a todos, conviver com todos, desculpar a todos; não criar divisões nem barreiras; comportarmo-nos - sempre! - como instrumentos de unidade. Não é em vão que existe no fundo do homem uma forte aspiração à paz, à união com os seus semelhantes e ao respeito mútuo pelos direitos da pessoa, de modo que tal aspiração se transforme em fraternidade. Isto reflecte uma nota característica do que há de mais valioso na condição humana: se todos somos filhos de Deus, a fraternidade nem se reduz a uma figura de retórica, nem consiste num ideal ilusório, pois surge como meta difícil, mas real.

Perante os cínicos, os cépticos, os insensíveis, os que fizeram da sua cobardia um modo de pensar, nós, os cristãos, havemos de demonstrar que esse carinho é possível. Existem talvez muitas dificuldades para nos comportarmos deste modo, pois o homem foi criado livre e tem a possibilidade de se levantar inútil e amargamente contra Deus; mas esse caminho é possível e é real, porque tal conduta nasce necessariamente como consequência do amor de Deus e do amor a Deus. Se tu e eu quisermos, Jesus Cristo também o quer. Então compreenderemos, em toda a sua profundidade e com toda a sua fecundidade, a dor, o sacrifício, a entrega desinteressada na convivência diária com os outros.

O único caminho

Já nos convencemos de que a caridade nada tem a ver com essa caricatura que às vezes se tem pretendido traçar da virtude central da vida cristã. Mas perguntamos agora: porque se exige pregá-la constantemente? Será uma espécie de tema obrigatório, mas com poucas possibilidades de se manifestar em factos concretos?

Olhando à nossa volta, talvez descobríssemos razões para pensar que a caridade é realmente uma virtude ilusória. Mas considerando as coisas com sentido sobrenatural, descobrirás também a raiz dessa esterilidade, que se cifra numa ausência de convívio intenso e contínuo, de tu a tu, com Nosso Senhor Jesus Cristo, e no desconhecimento da acção do Espírito Santo na alma, cujo primeiro fruto é precisamente a caridade.

Recolhendo um conselho do Apóstolo - levai uns as cargas dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo - acrescenta um Padre da Igreja: amando a Cristo, suportaremos facilmente a fraqueza dos outros, mesmo a daquele a quem ainda não amamos, porque não tem boas obras .

Por aí se eleva o caminho que nos faz crescer na caridade. Enganar-nos-íamos se imaginássemos que primeiro temos de nos exercitar em actividades humanitárias, em trabalhos de assistência, excluindo o amor do Senhor. Não descuidemos Cristo por causa do próximo que está enfermo, uma vez que devemos amar o enfermo por causa de Cristo.

Olhai constantemente para Jesus, que, sem deixar de ser Deus, se humilhou tomando a forma de servo para nos poder servir, porque só nessa mesma direcção se abrem os afãs por que vale a pena lutar. O amor procura a união, a identificação com a pessoa amada; e, ao unirmo-nos com Cristo, atrair-nos-á a ânsia de secundar a sua vida de entrega, de amor sem medida, de sacrifício até à morte. Cristo coloca-nos perante o dilema definitivo: ou consumirmos a existência de uma forma egoísta e solitária ou dedicarmo-nos com todas as forças a uma tarefa de serviço.

Com esta entrega, o zelo apostólico ateia-se, aumenta dia-a-dia - pegando esta ânsia aos outros - porque o bem é difusivo. Não é possível que a nossa pobre natureza, tão perto de Deus, não arda em desejos de semear no mundo inteiro a alegria e a paz, de regar tudo com as águas redentoras que brotam do lado aberto de Cristo, de começar e acabar todas as tarefas por Amor.

Falava antes de dores, de sofrimentos, de lágrimas. E não me contradigo se afirmo que, para um discípulo que procura amorosamente o Mestre, é muito diferente o sabor das tristezas, das penas, das aflições: desaparecem imediatamente, quando aceitamos deveras a Vontade de Deus, quando cumprimos com gosto os Seus desígnios, como filhos fiéis, ainda que os nervos pareçam rebentar e o suplício pareça insuportável.

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura
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