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Há 4 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Laboriosidade → exigência e rendimento no trabalho.

Jesus tinha trabalhado muito na véspera e, ao percorrer o caminho, sentiu fome. Movido por esta necessidade, dirige-se àquela figueira que, lá adiante, apresenta uma esplêndida folhagem. Relata-nos S. Marcos que não era tempo de figos; mas Nosso Senhor aproxima-se para os colher, sabendo muito bem que nessa estação não os encontraria. Todavia, ao comprovar a esterilidade da árvore com aquela aparência de fecundidade, com aquela abundância de folhas, ordena: Nunca jamais coma alguém fruto de ti .

São palavras duras! Nunca jamais haja fruto em ti! Como ficariam os discípulos, sobretudo ao considerarem que era a sabedoria de Deus que falava!? Jesus amaldiçoou esta árvore, porque só encontrou aparência de fecundidade, folhagem. Assim aprendemos que não há desculpas para a ineficácia. Talvez digam: não tenho conhecimentos suficientes… Não há desculpa! Ou afirmem: é que a doença…; é que o meu talento não é grande; é que não são favoráveis as condições; é que o ambiente… Também não valem essas desculpas! Ai de quem se enfeita com a folhagem de um falso apostolado, ai de quem ostenta a frondosidade de uma aparente vida fecunda, sem intenções sinceras de conseguir fruto! Parece que aproveita o tempo, que se mexe, que organiza, que inventa um novo modo de resolver tudo… Mas é improdutivo. Ninguém se alimentará com as suas obras sem seiva sobrenatural.

Peçamos ao Senhor para sermos almas dispostas a trabalhar com heroísmo fecundo, pois não faltam muitos na terra que, quando as pessoas se aproximam deles, só apresentam folhas: grandes, reluzentes, lustrosas. Só folhagem, exclusivamente, e nada mais. E as almas olham para nós com a esperança de saciar a sua fome, que é fome de Deus! Não é possível esquecer que contamos com todos os meios para isso, ou seja, com a doutrina suficiente e com a graça do Senhor, apesar das nossas misérias.

Recordo-vos de novo que nos resta pouco tempo: tempus breve est, porque é breve a vida sobre a terra. Além disso, recordo-vos também que, tendo aqueles meios, não necessitamos senão de boa vontade para aproveitar as ocasiões que Deus nos concedeu. Desde que Nosso Senhor veio a este mundo, iniciou-se a era favorável, o dia da salvação, para nós e para todos. Que o Nosso Pai, Deus, não tenha de dirigir-nos a censura que já manifestou pela boca de Jeremias: a cegonha conhece no céu a sua estação; a rola, a andorinha, o grou conhecem o tempo da sua arribação; mas o meu povo não conhece o juízo do Senhor.

Não existem datas más ou inoportunas. Todos os dias são bons para servir a Deus. Só surgem os maus dias quando o homem os desaproveita com a sua falta de fé, com a sua preguiça, com a sua inércia que o inclina a não trabalhar com Deus e por Deus. Bendirei o Senhor em todo o tempo!. O tempo é um tesouro que passa, que se escapa, que corre pelas nossas mãos como a água pelas penhas altas. Ontem já passou e o dia de hoje está a passar. Amanhã será bem depressa outro ontem. A duração de uma vida é muito curta. Mas, quantas coisas se podem realizar neste pequeno espaço, por amor de Deus!

Nenhuma desculpa nos aproveitará. O Senhor foi pródigo connosco. Instruiu-nos pacientemente; explicou-nos os seus preceitos com parábolas e insistiu connosco sem descanso. Como a Filipe, pode perguntar-nos: há tanto tempo que estou convosco e ainda não me conhecestes? Chegou o momento de trabalhar deveras, de ocupar todos os momentos da jornada, de suportar - gostosamente, com alegria - o peso do dia e do calor.

Fazer do trabalho oração

Costumo dizer com frequência que, nestes momentos de conversa com Jesus, que nos vê e nos ouve do sacrário, não podemos cair numa oração impessoal. E observo também que, para meditar de modo a que se inicie imediatamente um diálogo com o Senhor, não é preciso pronunciar palavras. Precisamos, sim, de sair do anonimato e de nos pôr na sua presença tal como somos, sem nos escondermos na multidão que enche a igreja, nem nos diluirmos num palavreado oco, que não brota do coração mas de um costume desprovido de conteúdo.

Posto isto, acrescento agora que também o teu trabalho deve ser oração pessoal e há-de converter-se numa grande conversa com o Nosso Pai do Céu. Se procuras a santificação na tua actividade profissional e através dela, terás necessariamente de te esforçar para que ela se converta numa oração sem anonimato. E nem sequer estes teus afãs podem cair na obscuridade anódina de uma tarefa rotineira, impessoal, porque nesse mesmo instante teria morrido o aliciante divino que anima o teu trabalho quotidiano.

Vêm-me neste momento à memória as minhas viagens às frentes de batalha durante a Guerra Civil Espanhola. Sem contar com qualquer meio humano, acudia aonde houvesse alguém que necessitasse do meu trabalho de sacerdote. Naquelas circunstâncias tão peculiares, talvez propícias a que muitos justificassem os seus abandonos e os seus descuidos, não me limitava a sugerir um conselho simplesmente ascético. Movia-me então a mesma preocupação que sinto agora e que estou a procurar que o Senhor desperte em cada um de vós. Interessava-me pelo bem das suas almas e também pela sua alegria aqui na terra. Por isso, animava-os a aproveitarem o tempo com tarefas úteis, evitando que a guerra se tornasse numa espécie de parêntesis na sua vida. Pedia-lhes que não se desleixassem e fizessem o possível por não converter a trincheira e a guarita numa espécie de sala de espera das estações de caminhos de ferro da época, onde a gente matava o tempo à espera daqueles comboios que parecia que nunca mais chegariam…

Sugeria-lhes concretamente que se ocupassem com alguma actividade proveitosa, compatível com o seu serviço de soldados, como, por exemplo, estudar ou aprender línguas, aconselhando-os também a que nunca deixassem de ser homens de Deus e procurassem que toda a sua conduta fosse operatio Dei, trabalho de Deus. E ficava comovido ao comprovar que esses rapazes, em situações nada fáceis, correspondiam tão maravilhosamente, que se notava a solidez da sua têmpera interior.

Possumus!. Podemos vencer também esta batalha com a ajuda do Senhor. Convencei-vos de que não se torna difícil converter o trabalho num diálogo de oração. Basta oferecê-lo a Deus e meter mãos à obra, pois Ele já nos está a ouvir e a alentar. Assim, nós, no meio do trabalho quotidiano, conquistamos o modo de ser das almas contemplativas, porque nos invade a certeza de que Deus nos olha, sempre que nos pede uma nova e pequena vitória: um pequeno sacrifício, um sorriso à pessoa importuna, começar pela tarefa menos agradável e mais urgente, ter cuidado com os pormenores de ordem, ser perseverante no dever quando era tão fácil abandoná-lo, não deixar para amanhã o que temos de terminar hoje… E tudo isto para dar gosto ao Nosso Pai Deus! Entretanto, talvez sobre a tua mesa ou num lugar discreto que não chame a atenção, para te servir de despertador do espírito contemplativo, pões o crucifixo, que já se tornou para a tua alma e para a tua mente o manual onde aprendes as lições de serviço.

Se te decidires - sem fazer coisas esquisitas, sem abandonar o mundo, no meio das tuas ocupações habituais - a entrar por estes caminhos de contemplação, sentir-te-ás imediatamente amigo do Mestre e com o encargo divino de abrir os caminhos divinos da terra a toda a humanidade. Sim, com esse teu trabalho contribuirás para que se estenda o reinado de Cristo em todos os continentes e seguir-se-ão, uma atrás da outra, as horas de trabalho oferecidas pelas longínquas nações que nascem para a fé, pelos povos do leste barbaramente impedidos de professar com liberdade as suas crenças, pelos países de antiga tradição cristã onde parece que se obscureceu a luz do Evangelho e as almas se debatem nas sombras da ignorância… Que valor adquire então essa hora de trabalho, esse continuar com o mesmo empenho durante um pouco mais de tempo, alguns minutos mais, até rematar a tarefa. Convertes assim, de um modo prático e simples, a contemplação em apostolado, como necessidade imperiosa do coração, que pulsa em uníssono com o dulcíssimo e misericordioso Coração de Jesus, Nosso Senhor.

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura