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Há 6 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Humildade → nas fraquezas.

Que importa tropeçar, se na dor da queda encontramos a energia que nos levanta de novo e nos impulsiona a prosseguir com renovado alento? Não esqueçais que santo não é o que não cai, mas o que se levanta sempre, com humildade e com santa persistência. Se no livro dos Provérbios se comenta que o justo cai sete vezes ao dia, tu e eu - pobres criaturas - não nos devemos estranhar nem desalentar perante as misérias pessoais, perante os nossos tropeços, porque continuaremos em frente, se procurarmos a fortaleza n'Aquele que nos prometeu: Vinde a mim todos os que andais cansados e oprimidos, que eu vos aliviarei. Obrigado, Senhor, quia tu es, Deus, fortitudo mea, porque foste sempre Tu, e só Tu, meu Deus, a minha fortaleza, o meu refúgio, o meu apoio.

Se verdadeiramente desejas progredir na vida interior, sê humilde. Recorre constantemente, confiadamente, à ajuda do Senhor e de sua Mãe bendita, que é também a tua Mãe. Com serenidade, tranquilo, por muito que te doa a ferida ainda não sarada da tua última queda, abraça de novo a cruz e diz: Senhor, com o teu auxílio lutarei para não parar, responderei fielmente aos teus convites, sem temer as encostas íngremes, nem a aparente monotonia do trabalho habitual, nem os cardos e pedras do caminho. Sei que a tua misericórdia me assiste e que, no fim, acharei a felicidade eterna, a alegria e o amor pelos séculos em fim.

Depois, durante o mesmo sonho, aquele escritor descobria um terceiro itinerário: estreito, também semeado de asperezas e encostas duras como o segundo. Por ali avançavam alguns no meio de mil dificuldades com gesto solene e majestoso. Contudo, acabavam no mesmo precipício horrível a que levava o primeiro caminho. É o caminho que percorrem os hipócritas, os que não têm rectidão de intenção, os que se movem por um falso zelo, os que pervertem as obras divinas ao misturá-las com egoísmos temporais. É uma loucura lançar-se num empreendimento custoso com o fim de ser admirado; guardar os Mandamentos de Deus à custa de um árduo esforço, mas aspirar a uma recompensa terrena. Aquele que com o exercício das virtudes pretende benefícios humanos é como o que faz um mau negócio, vendendo um objecto precioso por poucas moedas: podia conquistar o Céu e, em contrapartida, contenta-se com um louvor efémero… Por isso se diz que as esperanças dos hipócritas são como a teia de aranha: tanto esforço para tecê-la e, no fim, o vento da morte leva-a com um sopro .

Piedade, intimidade de filhos

A piedade que nasce da filiação divina é uma atitude profunda da alma, que acaba por informar toda a existência: está presente em todos os pensamentos, em todos os desejos, em todos os afectos. Não tendes visto como, nas famílias, os filhos, mesmo sem repararem, imitam os pais: repetem os seus gestos, seguem os seus costumes, se parecem com eles em tantos modos de comportar-se?

Pois o mesmo acontece na conduta de um bom filho de Deus. Chega-se também, sem se saber como nem por que caminho, a esse endeusamento maravilhoso que nos ajuda a olhar os acontecimentos com o relevo sobrenatural da fé; amam-se todos os homens como o nosso Pai do Céu os ama e - isto é o que mais importa - consegue-se um brio novo no esforço quotidiano para nos aproximarmos do Senhor. As misérias não têm importância, insisto, porque aí estão ao nosso lado os braços amorosos do nosso Pai Deus para nos levantar.

Se reparardes bem, é muito diferente a queda de uma criança e a queda de uma pessoa crescida. Para as crianças, uma queda, em geral, não tem importância; tropeçam com tanta frequência! E se começam a chorar, o pai lembra-lhes: os homens não choram. Assim se encerra o incidente com o empenho do miúdo por contentar o seu pai.

Vede, pelo contrário, o que acontece quando um homem adulto perde o equilíbrio e cai no chão. Se não fosse por compaixão, provocaria hilariedade, riso. Mas, além disso, a queda talvez tenha consequências graves e, num ancião, pode mesmo produzir uma fractura irreparável. Na vida interior, a todos nos convém ser quasi modogeniti infantes, como esses miuditos que parecem de borracha, que se divertem até com os seus trambolhões, porque imediatamente se põem de pé e continuam com as suas correrias e também porque não lhes falta, quando é precisa, a consolação dos pais.

Se procurarmos portar-nos como eles, os tropeções e os fracassos - aliás inevitáveis - na vida interior, nunca se transformarão em amargura. Reagiremos com dor, mas sem desânimo, e com um sorriso que brota, como a água límpida, da alegria da nossa condição de filhos desse Amor, dessa grandeza, dessa sabedoria infinita, dessa misericórdia, que é o nosso Pai. Aprendi durante os meus anos de serviço ao Senhor a ser filho pequeno de Deus. E isto vos peço: que sejais quasi modo geniti infantes, meninos que desejam a palavra de Deus, o pão de Deus, o alimento de Deus, a fortaleza de Deus para se comportarem de agora em diante, como homens cristãos.

Que sejais, espiritualmente, muito crianças! Quanto mais, melhor. Di-lo a experiência deste sacerdote que teve de se levantar muitas vezes, ao longo destes trinta e seis anos (que longos e ao mesmo tempo, que curtos me parecem!) em que tem procurado cumprir uma Vontade precisa de Deus. Houve uma coisa que sempre me ajudou: ser sempre criança e meter-me continuamente no regaço de minha Mãe e no Coração de Cristo, meu Senhor.

As grandes quedas, as que causam destroços sérios na alma, e às vezes com resultados quase irremediáveis, procedem sempre da soberba de nos crermos adultos, auto-suficientes. Nesses casos, torna-se predominante na pessoa uma espécie de incapacidade de pedir ajuda a quem a pode dar: não só a Deus, mas também ao amigo ou ao sacerdote. E aquela pobre alma, isolada na sua desgraça, afunda-se na desorientação e no descaminho.

Peçamos a Deus, agora mesmo, que nunca permita que nos sintamos satisfeitos, que aumente sempre em nós a ânsia do seu auxílio, da sua Palavra, do seu Pão, do seu consolo, da sua fortaleza: rationabile, sine dolo lac concupiscite. Fomentai a fome, a aspiração de ser como crianças. Convencei-vos de que é a melhor forma de vencer a soberba. Persuadi-vos de que é o único remédio para que a nossa maneira de actuar seja boa, grande, divina. Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e vos tornardes como meninos, não entrareis no reino dos céus.

Vêm-me de novo à memória as recordações da minha juventude. Que demonstração de fé! Ainda julgo ouvir o cantar litúrgico, respirar o aroma do incenso, ver milhares de milhares de homens, cada um com um grande círio, como que simbolizando a sua miséria, mas com coração de meninos: como crianças que talvez não se atrevam a levantar os olhos para a cara do pai. Reconhece e compreende que má e amarga coisa é para ti o teres abandonado o Senhor teu Deus. Renovemos a firme decisão de nunca nos afastarmos do Senhor por causa dos interesses terrenos. Façamos crescer a sede de Deus, com propósitos concretos para a nossa vida: como crianças que reconhecem a sua indigência e procuram e chamam incessantemente o Pai.

Mas volto àquilo que antes estava a comentar. Precisamos de aprender a portar-nos como crianças, precisamos de aprender a ser filhos de Deus. E, simultaneamente, ir transmitindo aos outros essa mentalidade que, no meio das naturais fraquezas, nos tornará fortes na fé, fecundos nas obras, seguros no caminho, de tal forma que, seja qual for a espécie de erro que possamos cometer, mesmo o mais desagradável, nunca hesitaremos em reagir e em voltar ao caminho da nossa filiação divina, que nos leva aos braços abertos e expectantes do nosso Pai, Deus.

Qual de vós não se lembra dos braços de seu pai? Provavelmente não seriam tão carinhosos, tão meigos e delicados como os da mãe. Mas aqueles braços robustos, fortes, apertavam-nos com calor e com segurança. Senhor, obrigado por esses braços duros! Obrigado por essas mãos fortes! Obrigado por esse coração terno e firme! E ia agradecer-Te também os meus erros! Mas isso não, porque não os queres! No entanto, compreende-los, desculpa-los, perdoa-los.

Esta é a sabedoria que Deus espera que vivamos nas relações com Ele, verdadeira manifestação de ciência matemática: reconhecer que somos um zero à esquerda… Mas o nosso Pai Deus ama-nos a cada um de nós, tal como somos! Eu, que não passo de um pobre homem, gosto de cada um de vós tal como sois; imaginai como será o Amor de Deus, se lutarmos, se nos empenharmos em viver de acordo com a nossa consciência bem formada.

A castidade é possível

Todos nós temos paixões e todos enfrentamos, em qualquer idade, as mesmas dificuldades. Temos, por isso, de lutar. Lembrai-vos do que escrevia S. Paulo: datus est mihi stimulus carnis meæ, angelus Satanæ, qui me colaphizet, rebela-se o estímulo da carne, que é como um anjo de Satanás, que me esbofeteia para que eu não seja soberbo.

Não se pode viver uma vida limpa sem assistência divina. Deus quer que sejamos humildes e peçamos o seu auxílio. Deves pedir com confiança a Nossa Senhora, agora mesmo, na solidão acompanhada do teu coração, silenciosamente: Minha Mãe, este meu pobre coração rebela-se tolamente… se tu não me proteges… E amparar-te-á para que o guardes puro e percorras o caminho a que Deus te chamou.

Filhos: humildade, humildade! Aprendamos a ser humildes. Para guardar o Amor é preciso prudência, é preciso vigiar com cuidado e não se deixar dominar pelo medo. Entre os clássicos de espiritualidade, muitos comparam o demónio a um cão raivoso, preso a uma corrente: se não nos aproximarmos, não morde, ainda que ladre continuamente. Se fomentardes a humildade nas vossas almas, de certeza que evitareis as tentações, reagireis com a valentia de fugir e socorrer-vos-eis diariamente do auxílio do Céu para avançar com garbo por este caminho de apaixonados.

Tive oportunidade de observar, em algumas ocasiões, como reluziam os olhos de um desportista, perante os obstáculos que tinha de saltar. Que vitória! Observai como domina as dificuldades! Assim nos contempla Deus, que ama a nossa luta: seremos sempre vencedores, porque nunca nos nega a omnipotência da sua graça. E não importa então que haja luta, porque Ele não nos abandona.

A castidade é combate e não renúncia, já que respondemos com uma afirmação gozosa, com uma entrega livre e alegre. Não deves limitar-te a fugir da queda ou da ocasião, nem o teu comportamento deve reduzir-se, de maneira alguma, a uma negação fria e matemática. Já te convenceste de que a castidade é uma virtude e, como tal, deve desenvolver-se e aperfeiçoar-se? Não basta ser continente, cada um segundo o seu estado. Insisto: temos de viver castamente, com virtude heróica. Este comportamento é um acto positivo, com o qual aceitamos de boa vontade o pedido de Deus: Præbe, fili mi, cor tuum mihi et oculi tui vias meas custodiant, entrega-me, meu filho, o teu coração e espraia os teus olhos pelos meus campos de paz.

Pergunto-te eu, agora: como encaras tu esta batalha? Bem sabes que a luta já está vencida, se a mantivermos desde o princípio. Afasta-te imediatamente do perigo, mal percebas as primeiras chispas de paixão, e até antes. Fala, além disso, com quem dirige a tua alma; se possível antes, porque abrindo o coração de par em par não serás derrotado. Um acto repetido várias vezes cria um hábito, uma inclinação, uma facilidade. É preciso, pois, batalhar para alcançar o hábito da virtude, o hábito da mortificação, para não recusar o Amor dos Amores.

Meditai no conselho de S. Paulo a Timóteo: Te ipsum castum custodi, conserva-te a ti mesmo puro, para estarmos, também, sempre vigilantes, decididos a defender o tesouro que Deus nos entregou. Ao longo da minha vida, quantas e quantas pessoas não ouvi queixarem-se: Ah! Se eu tivesse cortado ao princípio! E diziam-no cheias de aflição e de vergonha.

Referências da Sagrada Escritura
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