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Há 2 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Coisas pequenas  → na sinceridade.

Sinceridade na direcção espiritual

Conhecem muito bem as obrigações do vosso caminho de cristãos, que os hão-de levar sem parar e com calma à santidade; também estão precavidos contra as dificuldades, praticamente contra todas, porque já se vislumbram desde o princípio do caminho. Agora insisto em que se deixem ajudar e guiar por um director de almas, a quem confiem todos os entusiasmos santos, os problemas diários que afectarem a vida interior, as derrotas que sofrerem e as vitórias.

Nessa direcção espiritual mostrem-se sempre muito sinceros: não deixem nada por dizer, abram completamente a alma, sem medo e sem vergonha. Olhem que, se não, esse caminho tão plano e tão fácil de andar complica-se e o que ao princípio não era nada acaba por se converter num nó que sufoca. Não penseis que os que se perdem caem vítimas de um fracasso repentino; cada um deles errou no princípio do seu caminho ou então descuidou por muito tempo a sua alma, de modo que, enfraquecendo progressivamente a força das suas virtudes e crescendo pelo contrário, pouco a pouco, a dos vícios, veio a desfalecer miseravelmente… Uma casa não se desmorona de repente por um acidente imprevisível: ou já havia algum defeito nos alicerces ou o desleixo dos que a habitavam se prolongou por muito tempo, de modo que os defeitos, a princípio pequeníssimos, foram corroendo a firmeza da estrutura, pelo que, quando chegou a tempestade ou surgiram as chuvas torrenciais, ruiu sem remédio, pondo a descoberto o antigo descuido.

Lembram-se da história do cigano que se foi confessar? Não passa de uma história, de uma historieta, porque da confissão nunca se fala e, além disso, estimo muito os ciganos. Coitadinho! Estava realmente arrependido: Senhor Padre,acuso-me de ter roubado uma arreata…- pouca coisa, não é? - e atrás vinha uma burra…; e depois outra arreata…; e outra burra… e assim até vinte. Meus filhos, o mesmo acontece no nosso comportamento: quando cedemos na arreata, depois vem o resto, a seguir vem uma série de más inclinações, de misérias que aviltam e envergonham; e acontece o mesmo na convivência: começa-se com uma pequena falta de delicadeza e acaba-se a viver de costas uns para os outros, no meio da indiferença mais gelada.

Caçai as raposas pequenas que destroem a vinha, as nossas vinhas em flor. Fiéis no pequeno, muito fiéis no pequeno. Se procurarmos esforçar-nos assim, também havemos de aprender a recorrer com confiança aos braços de Santa Maria, como seus filhos. Não vos lembrava eu ao princípio que todos nós temos muito poucos anos, tantos quantos passaram desde que nos decidimos a ter muita intimidade com Deus? Pois é razoável que a nossa miséria e a nossa insuficiência se aproximem da grandeza e da pureza santa da Mãe de Deus, que é também nossa Mãe.

Posso contar-vos outra história real, porque já passaram tantos, tantos anos desde que aconteceu; e porque há-de ajudá-los a pensar, pelo contraste e pela crueza das expressões. Estava a dirigir um retiro para sacerdotes de diversas dioceses. Procurava-os com afecto e com interesse, para que viessem falar comigo, aliviar a consciência desabafando, porque os sacerdotes também precisam do conselho e da ajuda de um irmão. Comecei a conversar com um, um pouco rude, mas muito nobre e sincero; puxava-lhe um pouco pela língua, com delicadeza e clareza para sarar qualquer ferida que existisse dentro do seu coração. A certa altura interrompeu-me, mais ou menos com estas palavras: tenho uma grande inveja da minha burra; tem prestado serviços paroquiais em sete freguesias e não há nada a apontar-lhe. Ah! Se eu tivesse feito o mesmo!

Referências da Sagrada Escritura