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Há 6 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Aproveitamento do tempo → exigência no trabalho, rendimento.

Desde a primeira hora

O reino dos céus é semelhante a um pai de família que, ao romper da manhã, saiu a contratar operários para a sua vinha. Conheceis já a narração: aquele homem volta à praça em diferentes ocasiões para contratar trabalhadores, sendo uns chamados ao romper da aurora e outros muito perto da noite.

Todos recebem um denário: o salário que te tinha prometido, isto é, a minha imagem e semelhança. No denário está impressa a imagem do Rei. Esta é a misericórdia de Deus, que chama a cada um de acordo com as suas circunstâncias pessoais, porque quer que todos os homens se salvem. Mas nós nascemos cristãos, fomos educados na fé, fomos escolhidos claramente pelo Senhor. Esta é a realidade. Então, quando vos sentis chamados a corresponder, mesmo que seja à última hora, podereis continuar na praça pública a apanhar sol, como muitos daqueles operários, porque lhes sobrava tempo?

Não nos deve sobrar o tempo. Nem um segundo. E não exagero! Trabalho há sempre. O mundo é grande e são milhões as almas que não ouviram ainda falar claramente da doutrina de Cristo. Dirijo-me a cada um de vós. Se te sobra tempo, medita um pouco: é muito possível que vivas no meio da tibieza, ou que, sobrenaturalmente, sejas um paralítico. Não te mexes, estás parado, estéril, sem realizar todo o bem que deverias comunicar aos que se encontram a teu lado, no teu ambiente, no teu trabalho, na tua família.

Jesus tinha trabalhado muito na véspera e, ao percorrer o caminho, sentiu fome. Movido por esta necessidade, dirige-se àquela figueira que, lá adiante, apresenta uma esplêndida folhagem. Relata-nos S. Marcos que não era tempo de figos; mas Nosso Senhor aproxima-se para os colher, sabendo muito bem que nessa estação não os encontraria. Todavia, ao comprovar a esterilidade da árvore com aquela aparência de fecundidade, com aquela abundância de folhas, ordena: Nunca jamais coma alguém fruto de ti .

São palavras duras! Nunca jamais haja fruto em ti! Como ficariam os discípulos, sobretudo ao considerarem que era a sabedoria de Deus que falava!? Jesus amaldiçoou esta árvore, porque só encontrou aparência de fecundidade, folhagem. Assim aprendemos que não há desculpas para a ineficácia. Talvez digam: não tenho conhecimentos suficientes… Não há desculpa! Ou afirmem: é que a doença…; é que o meu talento não é grande; é que não são favoráveis as condições; é que o ambiente… Também não valem essas desculpas! Ai de quem se enfeita com a folhagem de um falso apostolado, ai de quem ostenta a frondosidade de uma aparente vida fecunda, sem intenções sinceras de conseguir fruto! Parece que aproveita o tempo, que se mexe, que organiza, que inventa um novo modo de resolver tudo… Mas é improdutivo. Ninguém se alimentará com as suas obras sem seiva sobrenatural.

Peçamos ao Senhor para sermos almas dispostas a trabalhar com heroísmo fecundo, pois não faltam muitos na terra que, quando as pessoas se aproximam deles, só apresentam folhas: grandes, reluzentes, lustrosas. Só folhagem, exclusivamente, e nada mais. E as almas olham para nós com a esperança de saciar a sua fome, que é fome de Deus! Não é possível esquecer que contamos com todos os meios para isso, ou seja, com a doutrina suficiente e com a graça do Senhor, apesar das nossas misérias.

Recordo-vos de novo que nos resta pouco tempo: tempus breve est, porque é breve a vida sobre a terra. Além disso, recordo-vos também que, tendo aqueles meios, não necessitamos senão de boa vontade para aproveitar as ocasiões que Deus nos concedeu. Desde que Nosso Senhor veio a este mundo, iniciou-se a era favorável, o dia da salvação, para nós e para todos. Que o Nosso Pai, Deus, não tenha de dirigir-nos a censura que já manifestou pela boca de Jeremias: a cegonha conhece no céu a sua estação; a rola, a andorinha, o grou conhecem o tempo da sua arribação; mas o meu povo não conhece o juízo do Senhor.

Não existem datas más ou inoportunas. Todos os dias são bons para servir a Deus. Só surgem os maus dias quando o homem os desaproveita com a sua falta de fé, com a sua preguiça, com a sua inércia que o inclina a não trabalhar com Deus e por Deus. Bendirei o Senhor em todo o tempo!. O tempo é um tesouro que passa, que se escapa, que corre pelas nossas mãos como a água pelas penhas altas. Ontem já passou e o dia de hoje está a passar. Amanhã será bem depressa outro ontem. A duração de uma vida é muito curta. Mas, quantas coisas se podem realizar neste pequeno espaço, por amor de Deus!

Nenhuma desculpa nos aproveitará. O Senhor foi pródigo connosco. Instruiu-nos pacientemente; explicou-nos os seus preceitos com parábolas e insistiu connosco sem descanso. Como a Filipe, pode perguntar-nos: há tanto tempo que estou convosco e ainda não me conhecestes? Chegou o momento de trabalhar deveras, de ocupar todos os momentos da jornada, de suportar - gostosamente, com alegria - o peso do dia e do calor.

Lutai contra essa excessiva compreensão que cada um tem para consigo mesmo: sede exigentes para vós próprios. Às vezes, pensamos demasiadamente na saúde e no descanso, que aliás não deve faltar, precisamente porque é preciso voltar ao trabalho com forças renovadas. Esse descanso, porém, escrevi-o há já tantos anos, não é não fazer nada, mas distrairmo-nos em actividades que exigem menos esforço.

Noutras ocasiões, com falsas desculpas, somos excessivamente comodistas, esquecemo-nos da bendita responsabilidade que pesa sobre os nossos ombros, conformamo-nos com fazer o que é minimamente indispensável e deixamo-nos arrastar por razões sem razão para nada fazermos, enquanto Satanás e os seus amigos não tiram férias. Ouve e medita com atenção o que S. Paulo escrevia aos cristãos que eram escravos; instava-os a obedecerem aos seus amos: não os sirvais como quem trabalha somente porque é visto e para agradar aos homens, mas como servos de Cristo que fazem a vontade de Deus com todo o coração e servi-os com amor, sabendo que servis ao Senhor e não a homens . Que bom conselho para que o sigamos tu e eu!

Peçamos luz a Jesus Cristo Nosso Senhor e roguemos-lhe que nos ajude a descobrir, a cada instante, o sentido divino que transforma a nossa vocação profissional no gonzo sobre o qual assenta e gira a nossa chamada à santidade. Verificareis no Evangelho que Jesus era conhecido como faber, filius Mariæ, o trabalhador, o filho de Maria. Também nós, com orgulho santo, temos de demonstrar com factos que somos trabalhadores, homens e mulheres de trabalho!

Porque havemos de nos comportar sempre como enviados de Deus, devemos ter bem presente que não o servimos com lealdade quando abandonamos a nossa tarefa, quando não compartilhamos com os outros o empenho e a abnegação no cumprimento dos compromissos profissionais ou quando nos possam classificar como inconstantes, inconvenientes, frívolos, desordenados, preguiçosos e inúteis… Na verdade, quem descuida essas obrigações aparentemente menos importantes, só com dificuldade vencerá nas da vida interior que, certamente, são mais custosas. Quem é fiel nas coisas pequenas, é fiel também nas grandes; e quem é injusto nas pequenas coisas, é injusto também nas grandes.

Fazer do trabalho oração

Costumo dizer com frequência que, nestes momentos de conversa com Jesus, que nos vê e nos ouve do sacrário, não podemos cair numa oração impessoal. E observo também que, para meditar de modo a que se inicie imediatamente um diálogo com o Senhor, não é preciso pronunciar palavras. Precisamos, sim, de sair do anonimato e de nos pôr na sua presença tal como somos, sem nos escondermos na multidão que enche a igreja, nem nos diluirmos num palavreado oco, que não brota do coração mas de um costume desprovido de conteúdo.

Posto isto, acrescento agora que também o teu trabalho deve ser oração pessoal e há-de converter-se numa grande conversa com o Nosso Pai do Céu. Se procuras a santificação na tua actividade profissional e através dela, terás necessariamente de te esforçar para que ela se converta numa oração sem anonimato. E nem sequer estes teus afãs podem cair na obscuridade anódina de uma tarefa rotineira, impessoal, porque nesse mesmo instante teria morrido o aliciante divino que anima o teu trabalho quotidiano.

Vêm-me neste momento à memória as minhas viagens às frentes de batalha durante a Guerra Civil Espanhola. Sem contar com qualquer meio humano, acudia aonde houvesse alguém que necessitasse do meu trabalho de sacerdote. Naquelas circunstâncias tão peculiares, talvez propícias a que muitos justificassem os seus abandonos e os seus descuidos, não me limitava a sugerir um conselho simplesmente ascético. Movia-me então a mesma preocupação que sinto agora e que estou a procurar que o Senhor desperte em cada um de vós. Interessava-me pelo bem das suas almas e também pela sua alegria aqui na terra. Por isso, animava-os a aproveitarem o tempo com tarefas úteis, evitando que a guerra se tornasse numa espécie de parêntesis na sua vida. Pedia-lhes que não se desleixassem e fizessem o possível por não converter a trincheira e a guarita numa espécie de sala de espera das estações de caminhos de ferro da época, onde a gente matava o tempo à espera daqueles comboios que parecia que nunca mais chegariam…

Sugeria-lhes concretamente que se ocupassem com alguma actividade proveitosa, compatível com o seu serviço de soldados, como, por exemplo, estudar ou aprender línguas, aconselhando-os também a que nunca deixassem de ser homens de Deus e procurassem que toda a sua conduta fosse operatio Dei, trabalho de Deus. E ficava comovido ao comprovar que esses rapazes, em situações nada fáceis, correspondiam tão maravilhosamente, que se notava a solidez da sua têmpera interior.

Possumus!. Podemos vencer também esta batalha com a ajuda do Senhor. Convencei-vos de que não se torna difícil converter o trabalho num diálogo de oração. Basta oferecê-lo a Deus e meter mãos à obra, pois Ele já nos está a ouvir e a alentar. Assim, nós, no meio do trabalho quotidiano, conquistamos o modo de ser das almas contemplativas, porque nos invade a certeza de que Deus nos olha, sempre que nos pede uma nova e pequena vitória: um pequeno sacrifício, um sorriso à pessoa importuna, começar pela tarefa menos agradável e mais urgente, ter cuidado com os pormenores de ordem, ser perseverante no dever quando era tão fácil abandoná-lo, não deixar para amanhã o que temos de terminar hoje… E tudo isto para dar gosto ao Nosso Pai Deus! Entretanto, talvez sobre a tua mesa ou num lugar discreto que não chame a atenção, para te servir de despertador do espírito contemplativo, pões o crucifixo, que já se tornou para a tua alma e para a tua mente o manual onde aprendes as lições de serviço.

Se te decidires - sem fazer coisas esquisitas, sem abandonar o mundo, no meio das tuas ocupações habituais - a entrar por estes caminhos de contemplação, sentir-te-ás imediatamente amigo do Mestre e com o encargo divino de abrir os caminhos divinos da terra a toda a humanidade. Sim, com esse teu trabalho contribuirás para que se estenda o reinado de Cristo em todos os continentes e seguir-se-ão, uma atrás da outra, as horas de trabalho oferecidas pelas longínquas nações que nascem para a fé, pelos povos do leste barbaramente impedidos de professar com liberdade as suas crenças, pelos países de antiga tradição cristã onde parece que se obscureceu a luz do Evangelho e as almas se debatem nas sombras da ignorância… Que valor adquire então essa hora de trabalho, esse continuar com o mesmo empenho durante um pouco mais de tempo, alguns minutos mais, até rematar a tarefa. Convertes assim, de um modo prático e simples, a contemplação em apostolado, como necessidade imperiosa do coração, que pulsa em uníssono com o dulcíssimo e misericordioso Coração de Jesus, Nosso Senhor.

Referências da Sagrada Escritura
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