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Há 3 pontos em «Cristo que Passa» cujo tema é Responsabilidade → perante Deus .

É hora de despertar

A Epístola da Missa recorda-nos que temos de assumir esta responsabilidade de apóstolos com novo espírito, com ânimo, despertos. Porque já é hora de nos levantarmos do sono. Porquanto agora está mais perto a nossa salvação do que quando abraçámos a fé. A noite está quase passada e o dia aproxima-se. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Dir-me-eis que isso não é fácil, e não vos faltará razão. Os inimigos do homem, que são os inimigos da santidade, procuram impedir essa vida nova, que é revestirmo-nos com o espírito de Cristo. Não conheço melhor enumeração dos obstáculos à fidelidade cristã do que a que nos dá S. João: concupiscentia carnis, concupiscentia oculorum et superbia vitae.Tudo o que há no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba de vida.

Lares luminosos e alegres

Não se pode falar do matrimónio sem pensar ao mesmo tempo na família, que é o fruto e a continuação daquilo que se inicia com o matrimónio. Uma família compõe-se, não apenas do marido e da mulher, mas também dos filhos e, num grau maior ou menor, dos avós, dos outros parentes, das empregadas domésticas. A todos eles há-de chegar o calor íntimo, do qual depende o ambiente familiar.

É certo que há casais a quem o Senhor não concede filhos; é sinal de que, nesse caso lhes pede que continuem a amar-se com igual amor e que dediquem as suas energias - se puderem - a serviços e tarefas em benefício de outras almas.

O normal, porém, é que um casal tenha descendência. Para estes esposos, a primeira preocupação têm de ser os seus filhos. A paternidade e a maternidade não terminam com o nascimento; essa participação no poder de Deus, que é a faculdade de gerar, há-de prolongar-se na cooperação com o Espírito Santo, para que culmine com a formação de autênticos homens cristãos e autênticas mulheres cristãs.

Os pais são os principais educadores dos seus filhos, tanto no aspecto humano como no sobrenatural, e hão-de sentir a responsabilidade dessa missão, que exige deles compreensão, prudência, saber ensinar e, sobretudo, saber amar; e devem preocupar-se por dar bom exemplo. A imposição autoritária e violenta não é caminho acertado para a educação. O ideal para os pais é chegarem a ser amigos dos filhos; amigos a quem se confiam as inquietações, a quem se consulta sobre os problemas, de quem se espera uma ajuda eficaz e amável.

É necessário que os pais arranjem tempo para estar com os filhos e falar com eles. Os filhos são o que há de mais importante; mais importante do que os negócios, do que o trabalho, do que o descanso. Nessas conversas, convém escutá-los com atenção, esforçar-se por compreendê-los, saber reconhecer a parte de verdade - ou a verdade inteira - que possa haver em algumas das suas rebeldias. E, ao mesmo tempo, apoiar as suas aspirações, ensiná-los a ponderar as coisas e a raciocinar; não lhes impor uma conduta, mas mostrar-lhes os motivos, sobrenaturais e humanos, que a aconselham. Numa palavra, respeitar a sua liberdade, já que não há verdadeira educação sem responsabilidade pessoal, nem responsabilidade sem liberdade.

S. João conserva no seu Evangelho uma frase maravilhosa da Virgem, num dos episódios que já considerámos: o das bodas de Caná. Narra-nos o evangelista que dirigindo-se aos serventes, Maria lhes disse: Fazei tudo o que Ele vos disser. É disso que se trata - de levar as almas a situarem-se diante de Jesus e a perguntarem-Lhe: Domine, quid me vis facere? Senhor, que queres que eu faça?

O apostolado cristão - e refiro-me agora em concreto ao de um cristão corrente, ao do homem ou da mulher que vive realmente como outro qualquer entre os seus iguais - é uma grande catequese, em que, através de uma amizade leal e autêntica, se desperta nos outros a fome de Deus, ajudando-os a descobrir novos horizontes - com naturalidade, com simplicidade, como já disse, com o exemplo de uma fé bem vivida, com a palavra amável, mas cheia da força da verdade divina.

Sede audazes. Contais com a ajuda de Maria, Regina apostolorum. E Nossa Senhora, sem deixar de se comportar como Mãe, sabe colocar os filhos diante das suas próprias responsabilidades. Maria, aos que se aproximam d'Ela e contemplam a sua vida, faz-lhes sempre o imenso favor de levá-los até à Cruz, de colocá-los defronte do exemplo do Filho de Deus. E, nesse confronto, em que se decide a vida cristã, Maria intercede para que a nossa conduta culmine numa reconciliação do irmão mais pequeno - tu e eu - com o Filho primogénito do Pai.

Muitas conversões, muitas decisões de entrega ao serviço de Deus, foram precedidas de um encontro com Maria. Nossa Senhora fomentou os desejos de busca, activou maternalmente a inquietação da alma, fez aspirar a uma transformação, a uma vida nova. E assim, o fazei o que Ele vos disser converteu-se numa realidade de amorosa entrega, na vocação cristã que ilumina desde então toda a nossa vida.

Este tempo de conversa diante do Senhor, em que meditamos sobre a devoção e o carinho à sua Mãe e nossa Mãe, pode, portanto, reavivar a nossa fé. Está a começar o mês de Maio. O Senhor quer que não desaproveitemos esta ocasião de crescer no seu amor através da intimidade com a sua Mãe. Que cada dia saibamos ter para com Ela aqueles pormenores filiais - pequenas coisas, atenções delicadas - que se vão tornando grandes realidades de santidade pessoal e de apostolado, quer dizer, empenho constante por contribuir para a salvação que Cristo veio trazer ao mundo.

Santa Maria, spes nostra, ancilla Domini, sedes Sapientiae, ora pro nobis! Santa Maria, esperança nossa, escrava do Senhor, sede de Sabedoria, roga por nós!

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura