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Há 2 pontos em «Cristo que Passa» cujo tema é Graça → Nossa Senhora, medianeira da graça.

Se procurais Maria, encontrareis Jesus. E aprendereis a entender um pouco o que há nesse coração divino, que se aniquila, que renuncia a manifestar o seu poder e a sua majestade, para se apresentar sob a forma de escravo. Falando humanamente, poderíamos dizer que Deus Se excede, pois não se limita ao que seria essencial e imprescindível para salvar-nos, mas vai mais além. A única norma ou medida que nos permite compreender de algum modo essa maneira de actuar de Deus é reparar que não tem medida, ver que nasce de uma loucura de amor, que O leva a tomar a nossa carne e a carregar com o peso dos nossos pecados.

Como é possível dar-nos conta disto, advertirmos que Deus nos ama e não ficarmos também nós loucos de amor? É necessário deixar que estas verdades da nossa fé nos vão penetrando na alma, até transformarem toda a nossa vida. Deus ama-nos! O Omnipotente, o que fez os Céus e a Terra!

Deus interessa-Se pelas mais pequenas coisas das suas criaturas - pelas vossas e pelas minhas - e chama-nos, um a um, pelo nosso próprio nome. Esta certeza que a Fé nos dá faz-nos olhar o que nos cerca a uma luz nova e, permanecendo tudo igual, leva-nos a ver que tudo é diferente, porque tudo é expressão do amor de Deus.

A nossa vida converte-se, desse modo, numa continua oração, num bom humor e numa paz que nunca se acabam, num acto de acção de graças desfiado ao longo das horas. A minha alma glorifica a Senhor - cantou a Virgem Maria - e o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humilde condição da sua Serva. Por isso, desde agora todas as gerações me hão-de chamar bem-aventurada, porque fez em mim grandes coisas o Omnipotente, cujo nome é Santo.

A nossa oração pode acompanhar e imitar essa oração de Maria. Tal como Ela, sentiremos desejo de cantar, de proclamar as maravilhas de Deus, para que a Humanidade inteira e todos os seres participem da nossa felicidade.

A escola da oração

O Senhor ter-vos-á feito descobrir muitos outros aspectos da correspondência fiel da Santíssima Virgem, que por si mesmos já são um convite para que os tomemos como modelo: a sua pureza, a sua humildade, a sua fortaleza, a sua generosidade, a sua fidelidade… Eu gostaria de falar sobre um aspecto que engloba todos os outros, porque é o clima do progresso espiritual, isto é, a vida de oração.

Para aproveitar a graça que nos concede a Nossa Mãe no dia de hoje e para secundar também, em qualquer momento, as inspirações do Espírito Santo, pastor das nossas almas, devemos estar seriamente comprometidos numa actividade que nos leve a ter intimidade com Deus. Não podemos esconder-nos no anonimato, porque a vida interior, se não for um encontro pessoal com Deus, não existe. A superficialidade não é cristã. Admitir a rotina, na nossa luta ascética, equivale a assinar a certidão de óbito da alma contemplativa. Deus procura-nos um a um, e precisamos de Lhe responder um a um: eis-me aqui, pois Tu me chamaste.

Oração, sabêmo-lo todos, é falar com Deus. É possível, porém, que alguém pergunte: falar, de quê? Do que há-de ser, senão das coisas de Deus e das que enchem o nosso dia? Do nascimento de Jesus, do seu caminhar por este mundo, da sua vida oculta e da sua pregação, dos seus milagres, da sua Paixão Redentora, da sua Cruz e da sua Ressurreição… E na presença de Deus, Uno e Trino, tendo por Medianeira Santa Maria e por advogado S. José, Nosso Pai e Senhor - a quem tanto amo e venero - falaremos também do nosso trabalho de todos os dias, da família, das relações de amizade, dos grandes projectos e das pequenas coisas sem importância.

O tema da minha oração é o tema da minha vida. Eu faço assim. E à vista da minha situação concreta, surge naturalmente o propósito, determinado e firme, de mudar, de melhorar, de ser mais dócil ao amor de Deus. Um propósito sincero, concreto. E não pode faltar opedido urgente, mas confiado, de que o Espírito Santo nos não abandone, porque tu és, Senhor, a minha fortaleza.

Somos cristãos correntes. Trabalhamos em profissões muito diferentes. Toda a nossa actividade segue o caminho da normalidade. Tudo se desenvolve com um ritmo previsível. Os dias parecem iguais, inclusivamente monótonos… Pois bem: esse programa, aparentemente tão comum, tem um valor divino e é algo que interessa a Deus, porque Cristo quer encarnar nos nossos afazeres, animando, a partir de dentro, até as nossas mais humildes acções.

Este pensamento é uma realidade sobrenatural, nítida, inequívoca; não é uma consideração destinada a consolar ou a confortar aqueles que, como nós, não conseguem gravar o seu nome no livro de oiro da História. Cristo interessa-se por esse trabalho que devemos realizar - uma vez e mil vezes - no escritório, na fábrica, na oficina, na escola, no campo, no exercício da profissão manual ou intelectual. Interessa-lhe também o sacrifício oculto que fazemos para não derramar sobre os outros o fel do nosso mau humor.

Recordai na oração estes temas, aproveitai-os precisamente para dizer a Jesus que o adorais, e assim, estareis a ser contemplativos no meio do mundo, no meio do ruído da rua, em toda a parte. Essa é a primeira lição, na escola da intimidade com Jesus Cristo. Dessa escola, Maria é a melhor professora, porque a Virgem manteve sempre essa atitude de fé, de visão sobrenatural, perante tudo o que sucedia à sua volta: conservava todas estas coisas ponderando-as no seu coração.

Supliquemos hoje a Santa Maria que nos torne contemplativos, que nos ajude a compreender os contínuos apelos que o Senhor nos dirige, batendo à porta do nosso coração. Peçamos-lhe: Mãe, tu trouxeste ao mundo Jesus, que nos revela o amor do nosso Pai, Deus; ajuda-nos a reconhecê-lo, no meio das preocupações de cada dia; remove a nossa inteligência e a nossa vontade, para que saibamos escutar a voz de Deus, o impulso da graça.