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Há 2 pontos em «Cristo que Passa» cujo tema é Eucaristia → caridade, unidade .

O pão e a ceifa: comunhão com todos os homens

Jesus, dizia-vos no começo, é o semeador. E por intermédio dos cristãos continua a sua sementeira divina. Cristo aperta o trigo nas suas mãos chagadas, embebe-o com o seu sangue, limpa-o, purifica-o e lança-o no sulco que é o mundo. Lança os grãos um a um, para que cada cristão, no seu próprio ambiente, dê testemunho da fecundidade da Morte e da Ressurreição do Senhor.

Se estamos nas mãos de Cristo, devemos impregnar-nos do seu Sangue redentor, deixar-nos lançar ao vento, aceitar a nossa vida tal como Deus a quer. E convencer-nos de que a semente, para frutificar, tem que se enterrar e morrer. Depois ergue-se o caule e surge a espiga. Da espiga, o pão, que será convertido por Deus no Corpo de Cristo. Dessa forma voltaremos a reunir-nos em Jesus, que foi o nosso semeador. Visto que há um só pão, nós, embora muitos formamos um só corpo, nós todos que participamos de um mesmo pão.

Nunca percamos de vista que não há fruto se antes não houve sementeira: por isso é preciso difundir generosamente a Palavra de Deus, fazer com que os homens conheçam Cristo e que, ao conhecê-Lo, tenham fome d'Ele. Esta festa do Corpus Christi - Corpo de Cristo, Pão da vida é uma boa ocasião para meditar na fome de verdade, de justiça, de unidade e de paz que se adverte nos homens. Perante a fome de paz, teremos de repetir com S. Paulo: Cristo é a nossa paz, pax nostra. Os desejos de verdade hão-de levar-nos a recordar que Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Aos que procuram a unidade, temos de colocá-los perante Cristo, que pede que estejamos consummati in unum, consumados na unidade. A fome de justiça deve conduzir-nos à fonte originária da concórdia entre os homens: ser e saber-se filhos do Pai, irmãos.

Paz, verdade, unidade, justiça. Que difícil parece por vezes o trabalho de superar as barreiras, que impedem o convívio entre os homens! E contudo nós, os cristãos somos chamados a realizar esse grande milagre da fraternidade: conseguir, com a graça de Deus, que os homens se tratem cristãmente, levando uns as cargas dos outros,vivendo o mandamento do Amor, que é o vínculo da perfeição e o resumo da lei.

ão deixemos de reparar que fica ainda muito por fazer. Em determinada ocasião, talvez contemplando o suave movimento das espigas já gradas, disse Jesus aos seus discípulos: A messe é grande mas os operários são poucos. Rogai pois ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe. Como então, também agora faltam homens que queiram suportar o peso do dia e do calor . E se nós, os que trabalhamos, não formos fiéis, acontecerá o que escreveu o profeta Joel: destruída a colheita a terra ficou de luto: porque o trigo está seco, o vinho arruinado, o azeite perdido. Confundi-vos, lavradores; gritai, vinhateiros, pelo trigo e pela cevada. Não há colheita.

Não há colheita, quando não se está disposto a aceitar generosamente o trabalho constante, que pode tornar-se longo e fatigante: lavrar a terra, semear, cuidar do campo, fazer a ceifa e a debulha… Na história, no tempo, edifica-se o Reino de Deus. O Senhor confiou-nos a todos essa tarefa e ninguém se pode sentir dispensado dela. Ao adorarmos e contemplarmos hoje Cristo na Eucaristia, pensemos que ainda não chegou a hora do descanso, porque a jornada continua.

Está dito no livro dos Provérbios: quem lavrar a sua campina terá pão em abundância. Tiremos a lição espiritual destas palavras: quem não lavra o terreno de Deus, quem não é fiel à missão divina de se entregar aos outros, ajudando-os a conhecer Cristo, dificilmente conseguirá entender o que é o Pão eucarístico. Ninguém gosta daquilo que não lhe custou esforço. Para apreciar e amar a Sagrada Eucaristia, é preciso percorrer o caminho de Jesus; sermos trigo, morrermos para nós próprios, ressuscitarmos cheios de vida e darmos fruto abundante: cem por um!

Esse caminho resume-se numa única palavra: amar. Amar é ter o coração grande, sentir as preocupações dos que estão à nossa volta, saber perdoar e compreender: sacrificar-se, com Jesus Cristo, por todas as almas. Se amamos com o coração de Cristo, aprenderemos a servir, e defenderemos a verdade claramente e com amor. Para amar desta maneira, é preciso que cada um expulse da sua vida tudo o que estorva a Vida de Cristo em nós: o apego à nossa comodidade, a tentação do egoísmo, a tendência à exaltação pessoal. Só reproduzindo em nós a Vida de Cristo, poderemos transmiti-la aos outros; só experimentando a morte do grão de trigo, poderemos trabalhar nas entranhas da terra, transformá-la por dentro, torná-la fecunda.