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Há 5 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Virtudes → teologais.

Há já bastantes anos, com uma convicção que crescia de dia para dia, escrevi: Espera tudo de Jesus; tu nada tens, nada vales, nada podes. - Ele agirá, se n'Ele te abandonares. Passou o tempo e aquela minha convicção tornou-se ainda mais forte, mais profunda. Tenho visto, em muitas vidas, que a esperança em Deus acende maravilhosas fogueiras de amor, com um fogo que mantém palpitante o coração, sem desânimos, sem desfalecimentos, embora ao longo do caminho se sofra e, às vezes, se sofra deveras.

Enquanto lia o texto da Epístola da Missa, comovi-me e imagino que vos aconteceu o mesmo. Compreendia que Deus nos ajudava, com as palavras do Apóstolo, a contemplar a teia divina das três virtudes teologais, que compõem o fundo sobre o qual se tece a existência autêntica do homem cristão, da mulher cristã.

Ouvi de novo S. Paulo: Justificados pela fé, tenhamos paz com Deus, por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem temos acesso pela fé a esta graça, na qual permanecemos firmes e nos gloriamos na esperança da glória dos filhos de Deus. Mas não nos gloriamos somente nisto; alegramo-nos também nas tribulações, sabendo que a tribulação exercita a paciência, a paciência a prova e a prova a esperança; esperança que não engana, porque a caridade de Deus foi derramada em nossos corações pelo Espírito Santo.

Com o olhar no Céu

Cresçamos na esperança, que deste modo nos consolidaremos na fé, verdadeiro fundamento das coisas que se esperam e prova das que não se vêem . Cresçamos nesta virtude, que é suplicar ao Senhor que aumente a sua caridade em nós, porque só se confia verdadeiramente no que se ama com todas as forças. E vale a pena amar o Senhor. Vós haveis experimentado, como eu, que a pessoa enamorada se entrega confiante, com uma sintonia maravilhosa, em que os corações batem num mesmo querer. E que será o Amor de Deus? Não sabeis que Cristo morreu por cada um de nós? Sim, por este nosso coração pobre, pequeno, se consumou o sacrifício redentor de Jesus.

Frequentemente, o Senhor fala-nos do prémio que nos ganhou com a sua Morte e Ressurreição. Vou preparar um lugar para vós. Depois que eu tiver ido e vos tiver preparado o lugar, virei novamente e tomar-vos-ei comigo para que, onde eu estou, estejais Vós também. O Céu é a meta do nosso caminho terreno. Jesus Cristo precedeu-nos e ali, na companhia da Virgem e de S. José - a quem tanto venero - dos Anjos e dos Santos, aguarda a nossa chegada.

Nunca faltaram os hereges - mesmo na época apostólica - que pretenderam arrancar a esperança aos cristãos. Se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns de entre vós que não há ressurreição dos mortos? Pois, se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é pois vã a nossa pregação, e é também vã a nossa fé… A divindade do nosso caminho - Jesus, caminho, verdade e vida - é penhor seguro de que leva à felicidade eterna, se não nos afastarmos d'Ele.

Como será maravilhoso quando o nosso Pai nos disser: servo bom e fiel, porque foste fiel nas coisas pequenas, eu te confiarei as grandes: entra no gozo do teu Senhor!. Esperançados! Esse é o prodígio da alma contemplativa. Vivemos de Fé, de Esperança e de Amor; e a Esperança torna-nos poderosos. Recordais-vos de S. João? Eu vos escrevo, jovens, porque sois valentes e a palavra de Deus permanece em vós e vencestes o maligno. Deus urge-nos, para a juventude eterna da Igreja e de toda a humanidade. Podeis transformar em divino todo o humano, como o rei Midas convertia em ouro tudo o que tocava!

Nunca esqueçais que depois da morte vos receberá o Amor. E no amor de Deus encontrareis, além do mais, todos os amores limpos que tenhais tido na terra. O Senhor dispôs que passemos esta breve jornada da nossa existência, trabalhando e, como o seu Unigénito, fazendo o bem. Entretanto, temos de estar alerta, à escuta daquelas chamadas que Santo Inácio de Antioquia notava na sua alma, ao aproximar-se a hora do martírio: vem para junto do Pai, vem para o teu Pai que te espera ansioso.

Peçamos a Santa Maria, Spes nostra, que nos inflame no santo empenho de habitarmos todos juntos na casa do Pai. Nada nos poderá preocupar, se decidirmos firmar o coração no desejo da verdadeira Pátria: o Senhor nos conduzirá com a sua graça e impelirá a barca com bom vento para tão claras margens.

Portanto, repito-vos com S. Paulo: ainda que eu falasse as línguas dos homens e a linguagem dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que ressoa ou como o címbalo que tine. E ainda que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e possuísse toda a ciência, e tivesse toda a fé, de modo a mover montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres e entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, nada me aproveita .

Perante estas palavras do Apóstolo dos gentios, não faltam os que se assemelham àqueles discípulos de Cristo, que, ao anunciar-lhes Nosso Senhor o Sacramento da sua Carne e do seu Sangue, comentaram: - É dura esta doutrina; quem a pode escutar?. É dura, sim. Porque a caridade que o Apóstolo descreve não se limita à filantropia, ao humanitarismo ou à natural comiseração pelo sofrimento alheio; exige a prática da virtude teologal do amor a Deus e do amor, por Deus, aos outros. Por isso, a caridade nunca deixará de existir, ao passo que as profecias terminarão, as línguas cessarão e a ciência acabará… Agora permanecem estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade; mas, das três, a caridade é a mais excelente.

A Santíssima Trindade

Tínhamos começado com orações vocais, simples, encantadoras, que aprendemos na nossa meninice e que gostaríamos de não perder jamais. A oração, que começou com essa ingenuidade pueril, desenvolve-se agora em caudal largo, manso e seguro, porque acompanha a nossa amizade com Aquele que afirmou: Eu souo caminho. Se amarmos Cristo assim, se com divino atrevimento nos refugiarmos na abertura que a lança deixou no Seu peito, cumprir-se-á a promessa do Mestre: qualquer que me ame observará a minha doutrina e meu Pai o amará e viremos a ele e nele faremos morada.

O coração sente então a necessidade de distinguir e adorar cada uma das pessoas divinas. De certo modo, é uma descoberta que a alma faz na vida sobrenatural, como as de uma criancinha que vai abrindo os olhos à existência. E entretém-se amorosamente com o Pai e com o Filho e com o Espírito Santo; e submete-se facilmente à actividade do Paráclito vivificador, que se nos entrega sem o merecermos: os dons e as virtudes sobrenaturais!