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Há 5 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Trabalho → exemplaridade.

Lutai contra essa excessiva compreensão que cada um tem para consigo mesmo: sede exigentes para vós próprios. Às vezes, pensamos demasiadamente na saúde e no descanso, que aliás não deve faltar, precisamente porque é preciso voltar ao trabalho com forças renovadas. Esse descanso, porém, escrevi-o há já tantos anos, não é não fazer nada, mas distrairmo-nos em actividades que exigem menos esforço.

Noutras ocasiões, com falsas desculpas, somos excessivamente comodistas, esquecemo-nos da bendita responsabilidade que pesa sobre os nossos ombros, conformamo-nos com fazer o que é minimamente indispensável e deixamo-nos arrastar por razões sem razão para nada fazermos, enquanto Satanás e os seus amigos não tiram férias. Ouve e medita com atenção o que S. Paulo escrevia aos cristãos que eram escravos; instava-os a obedecerem aos seus amos: não os sirvais como quem trabalha somente porque é visto e para agradar aos homens, mas como servos de Cristo que fazem a vontade de Deus com todo o coração e servi-os com amor, sabendo que servis ao Senhor e não a homens . Que bom conselho para que o sigamos tu e eu!

Peçamos luz a Jesus Cristo Nosso Senhor e roguemos-lhe que nos ajude a descobrir, a cada instante, o sentido divino que transforma a nossa vocação profissional no gonzo sobre o qual assenta e gira a nossa chamada à santidade. Verificareis no Evangelho que Jesus era conhecido como faber, filius Mariæ, o trabalhador, o filho de Maria. Também nós, com orgulho santo, temos de demonstrar com factos que somos trabalhadores, homens e mulheres de trabalho!

Porque havemos de nos comportar sempre como enviados de Deus, devemos ter bem presente que não o servimos com lealdade quando abandonamos a nossa tarefa, quando não compartilhamos com os outros o empenho e a abnegação no cumprimento dos compromissos profissionais ou quando nos possam classificar como inconstantes, inconvenientes, frívolos, desordenados, preguiçosos e inúteis… Na verdade, quem descuida essas obrigações aparentemente menos importantes, só com dificuldade vencerá nas da vida interior que, certamente, são mais custosas. Quem é fiel nas coisas pequenas, é fiel também nas grandes; e quem é injusto nas pequenas coisas, é injusto também nas grandes.

Não estou a falar de ideais imaginários. Atenho-me a uma realidade muito concreta, de capital importância, capaz de modificar o ambiente mais pagão e mais hostil às exigências divinas, como aconteceu na primeira época da era da nossa salvação. Saboreai estas palavras de um autor anónimo desses tempos, o qual resume assim a grandeza da nossa vocação: os cristãos são para o mundo o que a alma é para o corpo. Vivem no mundo, mas não são mundanos, tal como a alma está no corpo, mas não é corpórea. Habitam em todos os povoados, como a alma está em todas as partes do corpo. Agem mediante a sua vida interior sem se fazerem notar, como a alma mediante a sua essência… Vivem como peregrinos entre coisas perecedoiras, na esperança da incorruptibilidade dos céus, como a alma imortal vive agora numa tenda mortal. Multiplicam-se dia-a-dia sob o peso das perseguições, como a alma se aformoseia pela mortificação… E não é lícito aos cristãos abandonarem a sua missão no mundo, como não é permitido à alma separar-se voluntariamente do corpo.

Por esta razão, enganar-nos-íamos no caminho, se não déssemos importância às ocupações temporais. Também aí vos espera o Senhor. Podeis ter a certeza de que nós, homens, nos havemos de aproximar de Deus através das circunstâncias da vida corrente, ordenadas ou permitidas pela Providência na sua sabedoria infinita. Não atingiremos esse fim, se não nos esforçarmos por terminar bem a nossa tarefa; se não perseverarmos no afã pelo trabalho começado com empenho humano e sobrenatural; se não desempenharmos bem o nosso ofício como o melhor e, se é possível - e penso que, se tu verdadeiramente quiseres, assim será - melhor do que o melhor, porque usaremos todos os meios terrenos honrados e os espirituais que forem necessários para oferecer a Nosso Senhor um trabalho primoroso, acabado como uma peça de filigrana, perfeito.

Convencidos de que Deus se encontra em toda a parte, nós cultivamos os campos louvando ao Senhor, sulcamos os mares e trabalhamos em todas as outras nossas profissões, cantando as suas misericórdias . Desta maneira estamos unidos a Deus a todo o momento. Mesmo quando vos encontrardes isolados, fora do vosso ambiente habitual - como aqueles rapazes na trincheira - vivereis metidos no Senhor, através desse trabalho pessoal e esforçado, contínuo, que soubestes converter em oração, porque o haveis começado e concluído na presença de Deus Pai, de Deus Filho e de Deus Espírito Santo.

Não esqueçais, contudo, que estais também na presença dos homens e que estes esperam de vós - de ti! - um testemunho cristão. Por isso, na ocupação profissional, temos de actuar de tal maneira, do ponto de vista humano, que não fiquemos envergonhados nem façamos corar quem nos conhece e nos ama. Se vos conduzirdes de acordo com este espírito que procuro ensinar-vos, além de não desiludirdes aqueles que confiam em vós, não ficareis com a cara ruborizada e nem sequer vos acontecerá como àquele homem da parábola que se propôs edificar uma torre: depois de lançar os alicerces, não podendo concluí-la, começaram todos os que a viram a zombar dele, dizendo: "Este começou a construir e não pôde chegar ao fim".

Garanto-vos que, se não perderdes a visão sobrenatural, poreis o coroamento na vossa tarefa, acabareis a vossa catedral, até colocar a última pedra.

Acontece, porém, que algumas pessoas - são boas, bondosas - afirmam por palavras que aspiram a difundir o formoso ideal da nossa fé, mas se contentam na prática com uma conduta profissional superficial e descuidada, própria de cabeças-no-ar. Se nos encontrarmos com alguns destes cristãos de fachada, temos de ajudá-los com carinho e com clareza e recorrer, quando for necessário, a esse remédio evangélico da correcção fraterna: Irmãos, se porventura alguém for surpreendido nalguma falta, vós, os espirituais, corrigi-o com espírito de mansidão; e tu, acautela-te a ti mesmo, não venhas também a cair na tentação. Levai os fardos uns dos outros e desse modo cumprireis a lei de Cristo. E se para além da sua profissão de católicos se acrescentam outros motivos - mais idade, experiência ou responsabilidade - nessa altura, por maioria de razão temos de falar, temos que procurar que reajam, a fim de conseguirem maior influência na sua vida de trabalho, orientando-os como um bom pai, como um mestre, sem humilhar.

Sensibiliza bastante meditar calmamente o comportamento de S. Paulo: De facto, vós sabeis como deveis comportar-vos para nos imitardes, porquanto não fomos, entre vós, preguiçosos, nem foi a expensas alheias que comemos o pão, de quem quer que fosse, mas trabalhámos noite e dia, entre fadigas e privações, para não sermos pesados a nenhum de vós… Daí a razão por que, justamente quando nos encontrávamos entre vós, vos intimávamos que se alguém não quer trabalhar, abstenha-se também de comer.

Temos de dar exemplo, por amor a Deus, por amor às almas e para corresponder à nossa vocação de cristãos. Para que não escandalizeis, nem levanteis a mínima sombra de suspeita de que os filhos de Deus são negligentes ou não servem, para que não sejais causa de desedificação…, haveis de vos esforçar por oferecer com a vossa conduta a medida justa, a boa vontade de um homem responsável. Tanto o camponês, que ara a terra enquanto vai levantando continuamente o seu coração a Deus, como o carpinteiro, o ferreiro, o empregado de escritório, o intelectual, em suma, todos os cristãos, têm de ser modelo para os seus colegas. No entanto, devem sê-lo sem orgulho, porque temos na nossa alma a clara convicção de só conseguirmos alcançar a vitória desde que contemos com Ele. Nós, sozinhos, não podemos sequer levantar uma palhinha do chão . Por isso, cada pessoa, na sua tarefa e no lugar que ocupa na sociedade, há-de sentir a obrigação de fazer um trabalho de Deus, que em toda a parte semeie a alegria e a paz do Senhor. O perfeito cristão leva sempre consigo a serenidade e a alegria. Serenidade, porque se sente na presença de Deus; alegria, porque se vê rodeado dos seus dons. Um cristão assim é de verdade um personagem real, um sacerdote santo de Deus.

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura