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Há 2 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Pobreza → exemplo de Cristo.

Este início da Semana Santa, já tão próximo do momento em que se consumou no Calvário a Redenção de toda a humanidade, parece-me um tempo particularmente apropriado para tu e eu considerarmos por que caminhos nos salvou Jesus, Nosso Senhor; para contemplarmos esse seu amor, verdadeiramente inefável, por umas pobres criaturas formadas com barro da terra.

Memento homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris, lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás-de tornar, advertia-nos a Igreja, Nossa Mãe, no início da Quaresma, a fim de nunca esquecermos que somos muito pouca coisa, que um dia qualquer o nosso corpo - agora tão cheio de vida - se desfará como a ligeira nuvem de pó que os nossos pés levantam ao caminhar; dissipar-se-á como a névoa afugentada pelos raios do sol.

Exemplo de Cristo

Mas, depois de recordar tão cruamente a nossa insignificância pessoal, eu queria encarecer ante os vossos olhos outra estupenda realidade: a magnificência divina que nos sustenta e nos endeusa. Escutai as palavras do Apóstolo: Conheceis a liberalidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo rico se fez pobre por vós, a fim de que vós fôsseis ricos pela sua pobreza.

Reparai com calma no exemplo do Mestre e compreendereis rapidamente que dispomos de tema abundante para meditar durante toda a vida, para concretizar propósitos sinceros de maior generosidade. Porque, não percais de vista esta meta que temos de alcançar, cada um de nós deve identificar-se com Cristo, que - já o ouvistes - se fez pobre por ti, por mim, e padeceu dando-nos exemplo para que sigamos os seus passos.

Ao comportarmo-nos com normalidade - como os nossos semelhantes - e com sentido sobrenatural, não fazemos mais que seguir o exemplo de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Reparai que toda a sua vida está cheia de naturalidade. Passa trinta anos oculto, sem chamar a atenção, como qualquer outro trabalhador e conhecem-no na sua aldeia como o filho do carpinteiro. Ao longo da sua vida pública, também não se nota nada que destoe, que pareça estranho ou excêntrico. Rodeava-se de amigos, como qualquer dos seus concidadãos, e no seu porte não se diferenciava deles. De tal maneira que Judas, para o denunciar, precisa de combinar um sinal: aquele a quem eu beijar, é esse. Não havia em Jesus nenhum indício extravagante. A mim, emociona-me esta norma de conduta do nosso Mestre, que passa como mais um entre os homens.

João Baptista - seguindo um chamamento especial - vestia pele de camelo e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. O Salvador usava uma túnica de uma só peça, comia e bebia como os outros, enchia-se de alegria com a felicidade alheia, comovia-se ante a dor do próximo, não recusava os momentos de descanso que lhe ofereciam os seus amigos e a ninguém escondia que tinha ganho o seu sustento, durante muitos anos, trabalhando com as suas próprias mãos junto a José, o artesão. Assim temos nós de comportar-nos neste mundo: como Nosso Senhor. Dir-te-ia, em poucas palavras, que temos de andar com a roupa limpa, com o corpo limpo e, principalmente, com a alma limpa.

Inclusivamente - porque não notá-lo? - o Senhor, que prega um tão maravilhoso desprendimento dos bens terrenos, mostra ao mesmo tempo um cuidado admirável em não os desperdiçar. Depois daquele milagre da multiplicação dos pães, com que tão generosamente saciou mais de cinco mil homens, ordenou aos seus discípulos: recolhei os pedaços que sobraram, para que não se percam. Recolheram-nos e encheram doze cestos. Se meditardes atentamente toda esta cena, aprendereis a nunca ser preguiçosos, mas bons administradores dos talentos e meios materiais que Deus vos conceder.