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Há 4 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Fé → características.

Jesus, parando, mandou chamá-lo. E alguns dos melhores que o rodeiam, dirigem-se ao cego: Tem confiança; levanta-te;Ele chama-te. É a vocação cristã! Mas, na vida de cada um de nós, não há apenas um chamamento de Deus. O Senhor procura-nos a todo o instante: levanta-te - diz-nos - e sai da tua preguiça, do teu comodismo, dos teus pequenos egoísmos, dos teus problemazinhos sem importância. Desapega-te da terra; estás aí rasteiro, achatado e informe. Ganha altura, peso, volume e visão sobrenatural.

Aquele homem, deitando fora a capa, levantou-se de um salto e foi ter com Jesus . Atirou a capa! Não sei se estiveste alguma vez na guerra. Há já muitos anos, tive ocasião de andar por um campo de batalha, algumas horas depois de ter acabado a luta. Lá havia, abandonados pelo chão, mantas, cantis e mochilas cheias de recordações de família: cartas, fotografias de pessoas queridas… E não pertenciam aos derrotados, mas aos vitoriosos! Tudo aquilo lhes sobrava para correrem mais depressa e saltarem as trincheiras do inimigo. Tal como acontecia com Bartimeu, para correr atrás de Cristo.

Não te esqueças de que, para chegar até Cristo, é preciso o sacrifício. Deitar fora tudo o que estorva: manta, mochila, cantil. Tens de proceder da mesma maneira nesta luta pela glória de Deus, nesta luta de amor e de paz, com que procuramos difundir o reinado de Cristo. Para servires a Igreja, o Romano Pontífice e as almas, deves estar disposto a renunciar a tudo o que sobeja; a ficar sem essa manta, que é abrigo para as noites frias, sem essas recordações queridas da família e sem o refrigério da água. Lição de fé, lição de amor, porque é assim que se tem de amar Cristo.

Fé e humildade

Agora é S. Mateus quem nos descreve um quadro comovedor. Eis que uma mulher, que, havia doze anos, padecia de um fluxo de sangue, se chegou por detrás dele e tocou a fímbria do seu manto. Que humildade a desta mulher! Dizia dentro de si: Basta que eu toque somente o seu manto para ficar curada. Nunca faltam doentes que imploram, como Bartimeu, com uma fé grande, e que não têm pejo em confessá-la aos gritos. Mas reparai como, no caminho de Cristo, não há duas almas iguais. Grande é também a fé desta mulher, e não grita: aproxima-se sem que ninguém a note. Basta-lhe tocar ao de leve o traje de Jesus, porque tem a certeza de que será curada. E ainda mal tinha acabado de fazê-lo, quando Nosso Senhor se volta e a olha. Já sabe o que se passa no interior daquele coração. Apercebeu-se da sua segurança: Tem confiança, filha, a tua fé te salvou.

Tocou com delicadeza a orla do manto, aproximou-se com fé, acreditou e soube que tinha sido curada… Também nós, se queremos salvar-nos, devemos tocar com fé o manto de Cristo. Estás bem persuadido de como há-de ser a nossa fé? Humilde. Quem és tu, quem sou eu, para merecer este chamamento de Cristo? Quem somos nós, para estar tão perto dele? Tal como àquela pobre mulher no meio da multidão, ofereceu-nos uma oportunidade. E não só para tocar um pouco do seu traje ou, num breve momento, a ponta do seu manto, a orla. Temo-lo a ele próprio. Entrega-se-nos totalmente, com o seu Corpo, com o seu Sangue, com a sua Alma e com a sua Divindade. Comemo-lo todos os dias, falamos intimamente com Ele, como se fala com um pai, como se fala com o Amor. E isto é verdade. Não são imaginações.

Os discípulos, todavia - escreve S. João - não sabiam que era Jesus. Disse-lhes, pois, Jesus: Moços, tendes alguma coisa de comer? Esta cena tão familiar de Cristo, a mim, enche-me de alegria. Que diga isto Jesus Cristo, Deus! Ele, que já tem corpo glorioso! Lançai a rede para o lado direito da barca e encontrareis. Lançaram a rede e já não a podiam tirar por causa da grande quantidade de peixes. Agora compreendem. Recordam o que tinham ouvido tantas vezes dos lábios do Mestre: pescadores de homens, apóstolos!… E compreendem que tudo é possível, porque é Ele quem dirige a pesca.

Então aquele discípulo que Jesus amava disse a Pedro: É o Senhor! O amor vê. E de longe. O amor é o primeiro a captar aquela delicadeza. O Apóstolo adolescente, com o firme carinho que sentia por Jesus, pois amava Cristo com toda a pureza e toda a ternura de um coração que nunca se corrompera, exclamou: É o Senhor!

Simão Pedro, mal ouviu dizer que era o Senhor, cingiu a túnica e lançou-se ao mar. Pedro é a fé. E lança-se ao mar, com uma audácia maravilhosa. Com o amor de João e a fé de Pedro, aonde podemos nós chegar!?

Vida corrente

Interessa-me afirmar novamente que não me refiro a um modo extraordinário de viver cristãmente. Que cada um de nós medite no que Deus realizou por ele e como tem correspondido. Se formos valentes neste exame pessoal, perceberemos o que ainda nos falta. Ontem comovi-me ao saber de um catecúmeno japonês que ensinava o catecismo a outros que ainda não conheciam Cristo. E envergonhava-me. Precisamos de mais fé, de mais fé! E, com a fé, a contemplação.

Recordem com calma aquela divina advertência, que enche a alma de inquietação e, ao mesmo tempo, Lhe traz sabores de favo de mel: redemi te, et vocavi te nomine tuo: meus estu redimi-te e chamei-te pelo teu nome: és meu! Não roubemos a Deus o que é Seu. Um Deus que nos amou até ao ponto de morrer por nós, que nos escolheu desde toda a eternidade, antes da criação do mundo, para sermos santos na sua presença: e que continuamente nos oferece ocasiões de purificação e de entrega.

Se porventura ainda tivéssemos alguma dúvida, receberíamos outra prova dos Seus lábios: não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi a vós, para que possais ir longe e dar fruto; e permaneça abundante essefruto dovosso trabalhode almas contemplativas.

Portanto, fé, fé sobrenatural! Quando a fé fraqueja, o homem tende a imaginar Deus como se estivesse longe, sem se preocupar com os seus filhos. Pensa na religião como em algo de justaposto, de exterior à vida, que usa quando não há outro remédio; espera, não se sabe porquê, manifestações aparatosas, acontecimentos insólitos. Quando a fé vibra na alma, descobre-se, pelo contrário, que os passos do cristão não se separam da sua vida humana corrente e habitual. E que esta santidade grande, que Deus nos exige, se encerra aqui e agora, nas pequenas coisas de cada dia.

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura
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