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Há 2 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Apostolado → e humildade.

Tenho recordado com frequência aquela cena comovedora que o Evangelho nos relata: Jesus está na barca de Pedro, de onde tinha falado ao povo. Essa multidão que o seguia moveu o afã de almas que consome o seu Coração e o Divino Mestre quer que os discípulos participem quanto antes desse zelo. Depois de lhes dizer que se façam ao largo - duc in altum! -sugere a Pedro que lance as redes para pescar.

Não me vou demorar agora nos pormenores, tão instrutivos, desses momentos. Desejo que consideremos a reacção do Príncipe dos Apóstolos perante o milagre: afasta-te de mim, Senhor, que sou um homem pecador . É uma verdade - disso não tenho dúvidas - que se ajusta perfeitamente à situação pessoal de todos. No entanto, asseguro-vos que, ao tropeçar durante a minha vida com tantos prodígios da graça, realizados através de mãos humanas, tenho-me sentido inclinado, diariamente cada vez mais inclinado, a gritar: Senhor, não te afastes de mim, pois sem Ti não posso fazer nada de bom.

Precisamente por isso, percebo muito bem aquelas palavras do Bispo de Hipona, que soam como um cântico maravilhoso à liberdade: Deus, que te criou sem ti, não tesalvará sem ti, porque cada um de nós, tu, eu, temos sempre a possibilidade - a triste desventura - de nos levantarmos contra Deus, de rejeitá-lo - talvez só com a nossa conduta - ou de exclamar: não queremos que reine sobre nós .

Recordo-vos que, se formos sinceros, se nos mostrarmos tal como somos, se nos endeusarmos com humildade, não com soberba, vós e eu manter-nos-emos sempre seguros em qualquer ambiente. Poderemos falar sempre de vitórias e chamar-nos-emos vencedores, com essas íntimas vitórias do amor de Deus que nos trazem a serenidade, a felicidade da alma, a compreensão.

A humildade animar-nos-á a levar a cabo grandes trabalhos, com a condição de não perdermos de vista a consciência da nossa pequenez e de ir aumentando, um pouco mais cada dia, a convicção da nossa pobre indigência. Admite sem vacilares que és um servidor obrigado a fazer um grande número de serviços. Não te pavoneies por seres chamado filho de Deus - reconheçamos a graça, mas não esqueçamos a nossa natureza-; não te envaideças, se serviste bem, porque cumpriste o que tinhas a fazer. O sol efectua a sua tarefa, a lua obedece; os anjos desempenham o seu papel. O instrumento escolhido pelo Senhor para os gentios, diz: eu não mereço o nome de Apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus (1 Cor XV, 9)… Por isso, não procuremos nós ser louvados por nós mesmos, por méritos nossos, aliás sempre mesquinhos.

Referências da Sagrada Escritura