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Há 5 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Dignidade humana .

Se consentires que Deus seja o senhor da tua nave, que Ele seja o amo, que segurança!…, mesmo quando a tempestade se levanta no meio das trevas mais escuras e parece que Ele se ausenta, que está a dormir, que não se preocupa. S. Marcos relata que os Apóstolos se encontravam nessas circunstâncias; e Jesus, vendo-os cansados de remar (porque o vento lhes era contrário), cerca da quarta vigília da noite foi ter com eles, andando sobre o mar… Tende confiança, sou eu, não temais. E subiu para a barca, para junto deles e cessou o vento.

Meus filhos, acontecem tantas coisas na terra…! Podia pôr-me a falar de penas, de sofrimentos, de maus tratos, de martírios - não tiro nem uma letra -, do heroísmo de muitas almas. Aos nossos olhos, na nossa inteligência, surge às vezes a impressão de que Jesus dorme, de que não nos ouve; mas S. Lucas narra como Nosso Senhor se comporta com os seus: Enquanto iam navegando, Jesus adormeceu e levantou-se uma tempestade de vento sobre o lago e a barca enchia-se de água e estavam em perigo. Aproximando-se dele, despertaram-no dizendo: Mestre, nós perecemos! Ele, levantando-se, increpou o vento e as ondas, que acalmaram e veio a bonança. Então disse-lhes: onde está a vossa fé?

Se nos dermos, Ele dá-se-nos. Temos de confiar plenamente no Mestre, temos de nos abandonar nas suas mãos sem mesquinhez; de lhe manifestar, com as nossas obras, que a barca é dele, que queremos que disponha à vontade de tudo o que nos pertence.

Termino, recorrendo à intercessão de Santa Maria, com estes propósitos: viver de fé; perseverar com esperança; permanecer unidos a Jesus Cristo, amá-lo de verdade, de verdade, de verdade; percorrer e saborear a nossa aventura de Amor, pois estamos apaixonados por Deus; deixar que Cristo entre na nossa pobre barca e tome posse da nossa alma como Dono e Senhor; manifestar-lhe com sinceridade que havemos de nos esforçar por nos mantermos sempre na sua presença, de dia e de noite, porque Ele nos chamou à fé: ecce ego quia vocasti me! e que vimos ao seu redil atraídos pela sua voz e pelos seus assobios de Bom Pastor, com a certeza de que só à sua sombra encontraremos a verdadeira felicidade temporal e eterna.

Repito: não aceito outra escravidão senão a do Amor de Deus. E isto porque, como já tenho comentado noutras ocasiões, a religião é a maior rebeldia do homem, que não tolera viver como um animal, que não se conforma - não sossega - enquanto não ganha intimidade e conhece o Criador. Quero-os rebeldes, livres de todas os laços, porque os quero - Cristo quer-nos! - filhos de Deus. Escravidão ou filiação divina: eis o dilema da nossa vida. Ou filhos de Deus ou escravos da soberba, da sensualidade, desse egoísmo angustiante em que tantas almas parecem debater-se.

O Amor de Deus marca o caminho da verdade, da justiça, do bem. Quando nos decidimos a responder a Nosso Senhor: a minha liberdade para Ti, encontramo-nos libertos de todas as cadeias que nos atavam a coisas sem importância, a preocupações ridículas, a ambições mesquinhas. E a liberdade - tesouro incalculável, pérola maravilhosa que seria triste lançar aos animais - emprega-se inteiramente em aprender a fazer o bem.

Esta é a liberdade gloriosa dos filhos de Deus. Os cristãos amedrontados - coibidos ou invejosos - na sua conduta, perante a libertinagem dos que não aceitam a Palavra de Deus, demonstram ter um conceito miserável da nossa fé. Se cumprirmos verdadeiramente a Lei de Cristo - se nos esforçarmos por cumpri-la, porque nem sempre o conseguiremos - descobrir-nos-emos dotados dessa maravilhosa elegância de espírito, que não precisa de ir buscar a outro sítio o sentido da mais plena dignidade humana.

A nossa fé não é uma carga, nem uma limitação. Que pobre ideia da verdade cristã manifestaria quem assim pensasse! Ao decidirmo-nos por Deus não perdemos nada; ganhamos tudo. Quem, à custa da sua alma, conserva a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a sua vida por amor de Mim, voltará a achá-la.

Tirámos a carta que ganha, conseguimos o primeiro prémio. Quando alguma coisa nos impedir de ver isto com clareza, examinemos o interior da nossa alma. Talvez haja pouca fé, pouca intimidade pessoal com Deus, pouca vida de oração. Temos de pedir a Nosso Senhor - através de sua Mãe e nossa Mãe - que aumente em nós o seu amor, que nos conceda saborear a doçura da sua presença; porque só quando se ama se chega à mais plena liberdade: a de jamais querer abandonar, por toda a eternidade, o objecto dos nossos amores.

A naturalidade e a simplicidade são duas maravilhosas virtudes humanas, que tornam o homem capaz de receber a mensagem de Cristo. Em contrapartida, tudo o que é emaranhado e complicado, as voltas e mais-voltas em torno de nós mesmos levantam um muro que impede com frequência de ouvir a voz de Nosso Senhor. Recordemos as acusações que Cristo lança aos fariseus: meteram-se num mundo retorcido que exige pagar dízimos da hortelã, do endro e do cominho, e abandonam as obrigações essenciais da lei, a justiça e a fé; esmeram-se a coar tudo o que bebem, para que não passe nem um mosquito, mas engolem um camelo .

Não! Nem a nobre vida humana daquele que - sem culpa - não conhece Jesus Cristo, nem a vida do cristão devem ser esquisitas e estranhas. Estas virtudes humanas, que estamos hoje a considerar, levam todas à mesma conclusão. É verdadeiramente homem aquele que se empenha em ser veraz, leal, sincero, forte, temperado, generoso, sereno, justo, laborioso, paciente. Comportar-se desta maneira pode ser difícil, mas nunca é estranho. Se alguns se admirassem, seria por olharem com olhos turvos, nublados por uma secreta cobardia, por falta de rijeza.

Não deis o mínimo crédito aos que apresentam a virtude da humildade como um amesquinhamento humano ou como uma condenação perpétua à tristeza. Sentir-se barro, recomposto com gatos, é fonte contínua de alegria; significa reconhecer-se pouca coisa diante de Deus: criança, filho. E haverá maior alegria do que a daquele que, sabendo-se pobre e débil, se sabe também filho de Deus? Porque é que nós, homens, nos entristecemos? Porque a vida na terra, não se passa como nós, pessoalmente, esperávamos e porque surgem obstáculos que impedem ou dificultam a satisfação do que pretendemos.

Nada disto acontece quando a alma vive essa realidade sobrenatural da sua filiação divina. Se Deus é por nós, quem será contra nós. Que estejam tristes os que se empenham em não se reconhecerem filhos de Deus, tenho eu repetido sempre.

Para terminar, descobrimos na liturgia de hoje duas petições que hão-de sair como setas, da nossa boca e do nosso coração: concede-nos, Senhor todo-poderoso, que realizando sempre os divinos mistérios mereçamos abeirar-nos dos dons celestiais. E, pedimos-Te, Senhor, que nos deixes servir-Te constantemente segundo a tua vontade. Servir, servir, filhos meus, é o que é próprio de nós. Sermos criados de todos, para que nos nossos dias o povo fiel aumente em mérito e número.

Sigamos o relato de S. Mateus: Sabemos que és verdadeiro e que ensinas o caminho de Deus segundo a pura verdade. Nunca deixo de me surpreender perante este cinismo. Tudo fazem com a intenção de retorcer as palavras de Jesus, Senhor Nosso, de o apanhar nalgum descuido e, em vez de lhe exporem lhanamente o que eles consideravam problema insolúvel, tentam aturdir o Mestre com louvores que só deviam sair de lábios convictos, de corações rectos. Detenho-me intencionalmente na análise destes matizes, para aprendermos a ser, não desconfiados, mas prudentes; para que não aceitemos a fraude do fingimento, mesmo que apareça revestido de frases ou de gestos que, em si mesmos, correspondem à realidade, como sucede na passagem que estamos a contemplar: Tu não fazes acepção de pessoas, dizem-lhe; Tu vieste para todos os homens; a Ti, nada te impede de proclamar a verdade e de ensinar o bem…

Repito: prudentes, sim; desconfiados, não. Concedei a todos a mais absoluta confiança; sede muito nobres. Para mim, vale mais a palavra de um cristão, de um homem leal - fio-me inteiramente de cada um - do que a assinatura autêntica de cem notários unânimes, apesar de me terem talvez enganado nalguma ocasião por seguir este critério. Prefiro expor-me a que um irresponsável abuse desta confiança, a retirar a quem quer que seja o crédito que merece como pessoa e como filho de Deus. Garanto-vos que nunca me senti defraudado com os resultados desta atitude.

Referências da Sagrada Escritura
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