88

Em algumas ocasiões, porém, a mulher não está segura de se encontrar realmente no lugar que lhe corresponde e a que é chamada. Muitas vezes, quando realiza um trabalho fora de casa, pesam sobre ela as solicitações do lar, e, quando permanece completamente dedicada à família, sente as suas possibilidades limitadas. Que diria às mulheres que sentem essas contradições?

Esse sentimento, que é muito real, procede com frequência, mais do que das limitações efectivas - que todos temos, porque somos humanos -, da falta de ideias bem determinadas, capazes de orientar a vida inteira, ou também de uma soberba inconsciente. As vezes, desejaríamos ser os melhores em qualquer aspecto e em qualquer nível. Como isso não é possível, origina-se um estado de desorientação e de ansiedade, ou, inclusivamente, de desânimo e de tédio. Não se pode estar em toda a parte ao mesmo tempo, não se sabe a que se há-de atender e não se atende eficazmente a coisa nenhuma. Nesta situação, a alma fica exposta à inveja e é natural que a imaginação se solte e procure um refúgio na fantasia, que afastando-nos da realidade, acaba por adormecer a vontade. É a isso que tenho chamado repetidas vezes mística ojalatera - mística do oxalá - feita de sonhos vãos e de idealismos falsos: oxalá não me tivesse casado, oxalá não tivesse esta profissão, oxalá tivesse mais saúde, ou menos anos ou mais tempo!

O remédio - custoso, como é tudo o que tem valor - está em procurar o verdadeiro centro da vida humana, o que pode dar uma hierarquia, uma ordem e um sentido a tudo: a intimidade com Deus, mediante uma vida interior autêntica. Se, vivendo em Cristo, tivermos n'Ele o nosso centro, descobriremos o sentido da missão que se nos confiou, teremos um ideal humano que se torna divino, novos horizontes de esperança se abrirão à nossa vida e chegaremos a sacrificar com gosto, já não este ou aquele aspecto da nossa actividade, mas a vida inteira, dando-lhe assim, paradoxalmente, a sua mais profunda realização.

O problema que levanta acerca da mulher não é extraordinário. Com outras particularidades, muitos homens experimentam algumas vezes algo de semelhante. A raiz costuma ser a mesma: falta de um ideal profundo, que só à luz de Deus se descobre.

Em todo o caso, é necessário também pôr em prática pequenos remédios, que parecem banais, mas que não o são: quando há muitas coisas a fazer, é preciso estabelecer uma ardem, é necessário organizar-se. Muitas dificuldades provêm da falta de ordem, da carência deste hábito. Há mulheres que fazem mil e uma coisas e todas bem, porque se organizam, porque, com fortaleza de ânimo, submetem a uma ordem as suas múltiplas tarefas. Souberam estar em cada momento no que deviam fazer, sem se perturbarem pensando no que viria depois ou no que talvez pudessem ter feito antes. A outras, pelo contrário, domina-as o muito que têm a fazer, e, assim dominadas, não fazem nada.

Sem dúvida que haverá sempre muitas mulheres que não tenham outra ocupação além de dirigir o seu lar. Digo-vos que esta é uma grande ocupação, que vale a pena. Através desta profissão - porque o é, verdadeira e nobre - influem positivamente, não só na família, como também em muitos amigos e conhecidos, em pessoas com as quais de um modo ou de outro se relacionam, realizando uma tarefa às vezes muito mais extensa que a de outros profissionais. E, se põem essa experiência e essa ciência ao serviço de centenas de pessoas, em centros destinados à formação da mulher, como os que dirigem em todos os países do Mundo as minhas filhas do Opus Dei, então convertem-se em professoras do lar, com mais eficácia educativa, diria eu, que muitos catedráticos da Universidade.

Referências da Sagrada Escritura
Este ponto noutra língua