1 |
 |
Que a tua vida não seja uma vida estéril. - Sê útil. - Deixa rasto. - Ilumina, com o resplendor da tua fé e do teu amor.
Apaga, com a tua vida de apóstolo, o rasto viscoso e sujo que deixaram os semeadores impuros do ódio. - E incendeia todos os caminhos da Terra com o fogo de Cristo que levas no coração.
|
2 |
 |
Oxalá fossem tais as tuas atitudes e as tuas palavras, que todos pudessem dizer quando te vissem ou ouvissem falar: "Este lê a vida de Jesus Cristo".
|
3 |
 |
Gravidade. - Deixa esses meneios e caretas de menina ou de garoto. Que o teu porte exterior seja o reflexo da paz e da ordem do teu espírito.
|
4 |
 |
Não digas: "Eu sou assim..., são coisas do meu carácter". São coisas da tua falta de carácter. Sê homem - "esto vir".
|
5 |
 |
Acostuma-te a dizer que não.
|
6 |
 |
Vira as costas ao infame, quando sussurra aos teus ouvidos: "Para que te hás-de meter em complicações?".
|
7 |
 |
Não tenhas espírito provinciano. - Dilata o teu coração, até que seja universal, "católico".
Não voes como ave de capoeira, quando podes subir como as águias.
|
8 |
 |
Serenidade. - Por que te zangas, se zangando-te ofendes a Deus, incomodas os outros, passas tu mesmo um mau bocado... e por fim tens de te acalmar?
|
9 |
 |
Isso mesmo que disseste, di-lo noutro tom, sem ira, e ganhará força o teu raciocínio e, sobretudo não ofenderás a Deus.
|
10 |
 |
Não repreendas quando sentes a indignação pela falta cometida. - Espera pelo dia seguinte, ou mais tempo ainda. - E depois, tranquilo e com a intenção purificada, não deixes de repreender. - Conseguirás mais com uma palavra afectuosa, do que ralhando três horas. - Modera o teu génio.
|
11 |
 |
Vontade. - Energia. - Exemplo. - O que é preciso fazer, faz-se... Sem hesitar... Sem contemplações...
Sem isso, nem Cisneros* teria sido Cisneros; nem Teresa de Ahumada, Santa Teresa...; nem Iñigo de Loyola, Santo Inácio...
Deus e audácia! - "Regnare Christum volumus!".
*N. do T.: Cisneros (1436 - 1517): Cardeal Espanhol, Regente do Trono de Espanha e confessor da Rainha Isabel a Católica. O Cardeal Cisneros iniciou a reforma da Igreja em Espanha, adiantando-se à que, anos depois, começaria o Concílio de Trento para toda a cristandade. Foram notórias a têmpera e a energia do seu carácter.
|
12 |
 |
Supera-te ante os obstáculos. - A graça do Senhor não te há-de faltar: "inter medium montium pertransibunt aquae!" - passarás através dos montes!
Que importa que de momento tenhas de restringir a tua actividade, se em breve, como mola que foi comprimida, chegarás incomparavelmente mais longe do que nunca sonhaste?
|
13 |
 |
Afasta de ti esses pensamentos inúteis que, pelo menos, te fazem perder tempo.
|
14 |
 |
Não percas as tuas energias e o teu tempo, que são de Deus, atirando pedras aos cães que te ladrem no caminho. Despreza-os.
|
15 |
 |
Não deixes o teu trabalho para amanhã.
|
16 |
 |
Aburguesar-te? Tu... da multidão?! Mas, se tu nasceste para chefe!
Entre nós não há lugar para os tíbios. Humilha-te, e Cristo voltará a inflamar-te com fogo de Amor.
|
17 |
 |
Não caias nessa doença do carácter que tem por sintomas a falta de firmeza para tudo, a leviandade no agir e no dizer, o atordoamento,...: a frivolidade, numa palavra.
Essa frivolidade, que - não o esqueças - torna os teus planos de cada dia tão vazios ("tão cheios de vazio"), se não reages a tempo - não amanhã; agora! - fará da tua vida um boneco morto e inútil.
|
18 |
 |
Obstinas-te em ser mundano, frívolo e irreflectido, porque és cobarde. Que é, senão cobardia, o não quereres enfrentar-te contigo mesmo?
|
19 |
 |
Vontade. É uma característica muito importante. Não desprezes as pequenas coisas, porque, através do contínuo exercício de negar e negares-te a ti próprio nessas coisas - que nunca são futilidades nem ninharias - fortalecerás, virilizarás com a graça de Deus, a tua vontade, para seres em primeiro lugar, inteiro senhor de ti mesmo. E depois, guia, condutor..., chefe! - que domines, que empurres, que arrastes, com o teu exemplo e com a tua palavra, com a tua ciência e com o teu poder.
|
20 |
 |
Chocas com o carácter deste ou daquele... Necessariamente há-de ser assim; não és moeda de ouro que a todos agrade.
Além disso, sem esses choques que se produzem ao lidar com o próximo, como haverias de perder as pontas, arestas e saliências - imperfeições, defeitos - do teu temperamento, para adquirires a forma cinzelada, polida e vigorosamente suave da caridade, da perfeição?
Se o teu carácter e o carácter dos que vivem contigo fossem adocicados e brandos como merengues, não te santificarias.
|
21 |
 |
Pretextos. - Nunca te faltarão para deixares de cumprir os teus deveres. Que abundância de razões... sem razão!
Não pares a considerá-las. - Repele-as e cumpre a tua obrigação.
|
22 |
 |
Sê forte. - Sê viril. - Sê homem. - E depois... sê anjo.
|
23 |
 |
Dizes que... não podes fazer mais?! - Não será que... não podes fazer menos?
|
24 |
 |
Tens ambições: de saber..., de ser chefe.... de ser audaz.
Muito bem. - Mas... por Cristo, por Amor.
|
25 |
 |
Não discutais. - Da discussão não costuma sair a luz, porque é apagada pela paixão.
|
26 |
 |
O Matrimónio é um sacramento santo. - A seu tempo, quando tiveres de o receber, que o teu director ou o teu confessor te aconselhem a leitura de algum livro útil. - E estarás mais preparado para levar dignamente as cargas do lar.
|
27 |
 |
Ris-te porque te digo que tens "vocação matrimonial"? - Pois é verdade: assim mesmo, vocação.
Pede a São Rafael que te conduza castamente ao termo do caminho, como a Tobias.
|
28 |
 |
O matrimónio é para os soldados e não para o estado-maior de Cristo. - Ao passo que comer é uma exigência de cada indivíduo, procriar é apenas uma exigência da espécie, podendo dela desinteressar-se as pessoas individualmente.
Ânsia de filhos?... Filhos, muitos filhos e um rasto indelével de luz deixaremos, se sacrificarmos o egoísmo da carne.
|
29 |
 |
A relativa e pobre felicidade do egoísta que se encerra na sua torre de marfim, na sua própria carcaça..., não é difícil de conseguir neste mundo. - Mas a felicidade do egoísta não é duradoira.
Quererás perder, por essa caricatura do céu, a felicidade da Glória, que não terá fim?
|
30 |
 |
És calculista. - Não me digas que és jovem. A juventude dá tudo quanto pode; dá-se a si mesma sem medida.
|
31 |
 |
Egoísta! - Tu, sempre tu, sempre o que é "teu". - Pareces incapaz de sentir a fraternidade de Cristo: nos outros, não vês irmãos; vês "degraus".
Pressinto o teu rotundo fracasso. - E, quando te tiveres afundado, quererás que tenham para contigo a caridade que agora não queres ter.
|
32 |
 |
Não serás chefe se na massa só vires o escabelo para te elevares. - Serás chefe se tiveres a ambição de salvar todas as almas.
Não podes viver de costas voltadas para a multidão. É preciso que tenhas ânsia de a tornar feliz.
|
33 |
 |
Nunca queres "esgotar a verdade". - Umas vezes, por correcção. Outras - a maioria - para não passares um mau bocado. Algumas, para o evitares aos outros. E, sempre, por cobardia.
Assim, com esse medo de aprofundar, nunca serás homem de critério.
|
34 |
 |
Não tenhas medo à verdade, ainda que a verdade te acarrete a morte.
|
35 |
 |
Não gosto de tanto eufemismo: à cobardia chamais prudência. - E a vossa "prudência" é ocasião para que os inimigos de Deus, com o cérebro vazio de ideias, tomem ares de sábios e ascendam a postos a que nunca deviam ascender.
|
36 |
 |
Esse abuso não é irremediável. - É falta de carácter permitir que continue, como um caso desesperado e sem rectificação possível.
Não te esquives ao dever. - Cumpre-o integralmente, ainda que outros o deixem de cumprir.
|
37 |
 |
Tens, como por aí se diz, "muita cantiga" - Mas, com toda a tua verborreia, não conseguirás que eu justifique ("Foi providencial!", disseste-me) o que não tem justificação.
|
38 |
 |
Será verdade (não creio, não creio) que na Terra não há homens, mas "estômagos"?
|
39 |
 |
"Peça que eu nunca queira deter-me no fácil". - Já o pedi. Agora só falta que te empenhes em cumprir esse belo propósito.
|
40 |
 |
Fé, alegria, optimismo, - mas não a estupidez de fechar os olhos à realidade.
|
41 |
 |
Que modo tão transcendente de viver patetices vazias, e que maneira de chegar a ser alguém na vida - subindo, subindo à força de "pesar pouco", de não ter nada, nem no cérebro nem no coração!
|
42 |
 |
Porquê essas variações de carácter? Quando fixarás a tua vontade em alguma coisa? - Acaba com o teu gosto pelas primeiras pedras, e assenta a última ao menos num dos teus projectos.
|
43 |
 |
Não sejas tão... susceptível. - Magoas-te por qualquer coisa. - É preciso medir as palavras para falar contigo do assunto mais insignificante.
Não te ofendas se te digo que és... insuportável. - Enquanto não te corrigires, nunca serás útil.
|
44 |
 |
Apresenta a desculpa amável que a caridade cristã e o trato social exigem. - E, depois, para a frente! - com santo descaramento, sem parar, até subires inteiramente a encosta do cumprimento do dever.
|
45 |
 |
Por que te doem esses erróneos comentários que de ti fazem? - A mais baixo chegarias, se Deus te abandonasse. - Encolhe os ombros e persevera no bem.
|
46 |
 |
Não achas que a igualdade, tal como a entendem, é sinónimo de injustiça?
|
47 |
 |
Essa ênfase e esse ar emproado ficam-te mal; vê-se que são postiços. - Procura, pelo menos, não os empregar com o teu Deus, nem com o teu Director, nem com os teus irmãos. E haverá uma barreira a menos entre ti e eles.
|
48 |
 |
Pouco firme é o teu carácter: que ânsia de te meteres em tudo! - Obstinas-te em ser o sal de todos os pratos... e - não te aborreças se te falo claro - tens pouca graça para ser sal; não és capaz de te desfazeres e passares inadvertido à vista, como esse condimento.
Falta-te espírito de sacrifício. E sobeja-te espírito de curiosidade e de exibição.
|
49 |
 |
Cala-te. - Não sejas agarotado, caricatura de criança, coscuvilheiro, intriguista, linguareiro. - Com as tuas histórias e mexericos, esfriaste a caridade: fizeste a pior das obras. E... se por acaso abalaste - com a tua má língua! - os muros fortes da perseverança dos outros, a tua perseverança deixa de ser graça de Deus, porque é instrumento traiçoeiro do inimigo.
|
50 |
 |
És curioso e coscuvilheiro, bisbilhoteiro e intrometido. Não tens vergonha de ser, até nos defeitos, tão pouco masculino? Sê homem. - E esses desejos de saber da vida dos outros, troca-os por desejos e realidades de conhecimento próprio.
|
51 |
 |
O teu espírito varonil, rectilíneo e simples, confrange-se ao sentir-se envolvido em enredos e mexericos, que não acaba de compreender e em que nunca se quis misturar. - Sofre a humilhação de andar assim na boca dos outros e procura que essa dura experiência te dê mais discrição.
|
52 |
 |
Por que razão, ao julgares os outros, pões na tua crítica o amargor dos teus próprios fracassos?
|
53 |
 |
Esse espírito crítico (concedo-te que não é murmuração), não o deves exercitar no teu apostolado, nem com os teus irmãos. - Esse espírito crítico é, para o vosso empreendimento sobrenatural (perdoas-me que to diga?), um grande estorvo, porque, enquanto examinas (com a mais elevada intenção, acredito) o trabalho dos outros, sem teres nada por que examiná-lo, não fazes nenhuma obra positiva e dificultas, com o exemplo da tua passividade, o bom andamento de todos.
"Então - perguntas tu, inquieto - esse espirito crítico, que é como que a substância do meu carácter...?".
Olha (vou tranquilizar-te): pega numa caneta e num papel, escreve simples e confiadamente - ah!, e com brevidade - os motivos que te preocupam, entrega a nota ao superior, e não penses mais nela. - Ele, que é quem vos dirige e tem graça de estado, arquivará a nota... ou deitá-la-á no cesto dos papéis. - Para ti, como o teu espírito crítico não é murmuração, e só o exercitas para fins elevados, tanto te faz.
|
54 |
 |
Contemporizar? É palavra que só se encontra ("há que contemporizar!") no léxico dos que não têm vontade de lutar - comodistas, manhosos ou cobardes - porque de antemão se sabem vencidos.
|
55 |
 |
Sê um pouco menos ingénuo, homem (ainda que sejas muito criança, e mesmo por o seres, diante de Deus), e não "ponhas na berlinda" os teus irmãos diante de estranhos.
|