Lista de pontos
Aconselho-te que tentes voltar de vez em quando… ao começo da tua "primeira conversão", o que, se não é fazer-se como criança, é coisa muito parecida: na vida espiritual é preciso deixar-se levar com inteira confiança, sem medos nem duplicidades; tem de se falar com absoluta clareza do que se tem na cabeça e na alma.
Como hás-de sair tu desse estado de tibieza, de lamentável languidez, se não empregas os meios? Lutas muito pouco e, quando te esforças, faze-lo como que zangado e com falta de gosto, quase com o desejo de que os teus fracos esforços não produzam efeito, para te justificares: para não te exigires e para que não te exijam mais.
Estás a cumprir a tua vontade; não a de Deus. Enquanto não mudares, a sério, nem serás feliz nem conseguirás a paz, que agora te falta.
Humilha-te diante de Deus, e procura querer deveras.
Que perda de tempo e que visão tão humana, quando reduzem tudo a tácticas, como se aí estivesse o segredo da eficácia!
Esquecem-se de que a "táctica" de Deus é a caridade, o Amor sem limites; assim superou Ele a distância insuperável que o homem, com o pecado, estabelece entre o Céu e a Terra.
Tem sinceridade "selvagem" no exame de consciência; quer dizer, valentia. A mesma com que te olhas ao espelho, para saber onde te feriste ou te sujaste, ou onde estão os teus defeitos, que tens de eliminar.
Tenho de prevenir-te contra uma argúcia de "satanás" (assim, com minúscula, porque não merece mais), que tenta servir-se das circunstâncias mais normais para nos desviar pouco ou muito do caminho que nos leva a Deus.
Se lutas, e mais ainda se lutas deveras, não deves admirar-te de que venha o cansaço ou o tempo de "andar a contragosto", sem nenhuma consolação espiritual nem humana. Olha o que me escreviam há tempos, e que recolhi pensando em alguns que ingenuamente consideram que a graça prescinde da natureza: "Padre: estou há alguns dias com uma preguiça e uma apatia tremendas para cumprir o plano de vida; faço tudo à força e com muito pouco espírito. Peça por mim para que passe depressa esta crise, que me faz sofrer muito pensando que pode desviar-me do caminho".
Limitei-me a responder: não sabias que o Amor exige sacrifício? Lê devagar as palavras do Mestre: "Quem não toma a sua Cruz “cotidie” - cada dia - não é digno de Mim". E mais adiante: "Não vos deixarei órfãos…". O Senhor permite essa tua aridez, que tão dura se te faz, para que O ames mais, para que confies só n'Ele, para que co-redimas com a Cruz, para que O encontres.
- "Que pouco esperto parece o diabo!, dizias-me. Não entendo a sua estupidez: sempre os mesmos enganos, as mesmas falsidades!…".
Tens toda a razão: Mas nós, os homens, somos ainda menos espertos, e não aprendemos a escarmentar em cabeça alheia… E satanás conta com tudo isso para nos tentar.
Ouvi em certa ocasião que nas grandes batalhas se repete um fenómeno curioso: ainda que a vitória esteja garantida de antemão pela superioridade numérica e pelos meios, depois, no desenrolar do combate, não faltam momentos em que a derrota ameaça, pela fraqueza de um sector; chegam então as ordens terminantes do alto comando, e cobrem-se as brechas do flanco em dificuldades.
Pensei em ti e em mim. Com Deus, que não perde batalhas, seremos sempre vencedores. Por isso, na luta pela santidade, se te sentes sem forças, escuta os mandatos, faz caso deles, deixa--te ajudar… porque Ele não falha.
Abriste sinceramente o teu coração ao teu Director, falando na presença de Deus… E foi maravilhoso verificar como tu sozinho ias encontrando resposta adequada às tuas próprias tentativas de evasão.
Amemos a direcção espiritual!
Documento impresso de https://escriva.org/pt-pt/book-subject/surco/33139/ (08/05/2024)