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Há 4 pontos em «Entrevistas a S. Josemaria» cujo tema é Jornalismo → amor e respeito pela liberdade .

É claro que V. Rev.ª não ignora que, em certos sectores da opinião pública, o Opus Dei tem fama de ser de certo modo discutido. Poderia dar-me a sua opinião sobre a origem deste facto, e, em especial, dizer-me como se pode responder à acusação sobre “o segredo de conspiração” e “a secreta conspiração”, que frequentemente se faz ao Opus Dei?

lncomoda-me profundamente tudo o que possa ter um tom de auto-elogio. Mas, já que V. me propõe este tema, não posso deixar de lhe dizer que me parece que o Opus Dei é uma das organizações católicas que mais amigos conta no mundo inteiro. Milhões de pessoas, incluindo muitos não-católicos e não-cristãos, a estimam e ajudam.

Por outro lado, o Opus Dei é urna organização espiritual e apostólica. Quem esquecer este facto fundamental, ou se negar a acreditar na boa-fé dos sócios da Obra que assim o afirmam, não poderá entender o que estes fazem. Ora, na impossibilidade de compreender, inventam-se versões complicadas e segredos que nunca existiram.

Refere-se à acusação de segredo. É história já antiga. Poderia dizer-lhe, ponto por ponto, qual a origem histórica dessa acusação caluniosa. Durante muitos anos, uma poderosa organização, da qual prefiro não falar (amamo-la e sempre a amámos), entreteve-se a falsear o que não conhecia. Insistiam em considerar-nos como religiosos e interrogavam-se: por que não pensam todos da mesma maneira? Por que não usam hábito ou distintivo? E, ilogicamente, concluíam que constituíamos uma sociedade secreta.

Hoje, isso passou, e qualquer pessoa medianamente informada sabe que não há segredo nenhum. Sabe que não usamos distintivo porque não somos religiosos, mas cristãos como quaisquer outros. Que não pensamos da mesma maneira, porque admitimos o máximo pluralismo em tudo quanto é temporal e nas questões teológicas opináveis. O melhor conhecimento da realidade e a superação de infundados ciúmes permitiram que se encerrasse essa triste e caluniosa situação.

No entanto, não se estranhe que, de vez em quando, alguém renove os velhos mitos: porque procuramos trabalhar por Deus, defendendo a liberdade pessoal de todos os homens, sempre havemos de ter contra nós os sectários, inimigos dessa liberdade pessoal, sejam de que campo forem, e tanto mais agressivos quanto mais se tratar de pessoas incapazes de suportar a simples ideia de religião, ou, pior ainda, se se apoiarem num pensamento religioso de tipo fanático.

Apesar de tudo, são, felizmente, em maior número as publicações que não se contentam com repetir coisas velhas e falsas, e que têm clara consciência de que ser imparcial não é difundir uma coisa que fique a meio caminho entre a realidade objectiva e a calúnia, sem um esforço por reflectir a verdade objectiva. Por mim, penso que também é notícia dizer a verdade, especialmente quando se trata de informar sobre a actividade de tantas pessoas que, pertencendo ao Opus Dei ou colaborando com ele, se esforçam, apesar dos erros pessoais (assim como eu erro, não me espanto de que os outros errem), por realizar uma tarefa de serviço a todos os homens. Desfazer um falso mito é sempre interessante. Considero que é um grave dever do jornalista documentar-se bem e manter actualizada a sua informação, embora, algumas vezes, isso implique modificar os juízos anteriormente feitos. Será assim tão difícil admitir que alguma coisa seja límpida, nobre e boa, sem misturar absurdas, velhas e desacreditadas falsidades?

Informar-se sobre o Opus Dei é bem simples. Em todos os países a Obra trabalha à luz do dia, juridicamente reconhecida pelas autoridades civis e eclesiásticas. São perfeitamente conhecidos os nomes dos seus directores e das suas obras apostólicas. Quem quer que deseje informações sobre a nossa Obra pode obtê-las sem dificuldade, pondo-se em contacto com os seus directores ou visitando alguma das nossas obras próprias. O meu amigo, se quiser, pode ser testemunha de que nunca nenhum dos dirigentes do Opus Dei, ou os que recebem os jornalistas, deixaram de lhes facilitar a tarefa informativa, respondendo às suas perguntas ou dando a documentação adequada.

Nem eu nem nenhum dos membros do Opus Dei pretendemos que toda a gente nos compreenda ou compartilhe connosco os mesmos ideais espirituais. Sou muito amigo da liberdade e gosto muito de que cada um siga o seu próprio caminho. Mas é evidente que temos o direito elementar de ser respeitados.

Se, como pretendem os seus sócios, o Opus Dei é simplesmente uma associação religiosa, em que cada indivíduo é livre de seguir as suas opiniões, como explica a convicção, muito espalhada, de que o Opus Dei é uma organização monolítica, com posições bem definidas em assuntos temporais?

Não me parece que esta opinião esteja realmente muito difundida. Bastantes dos órgãos mais qualificados da imprensa internacional reconheceram já o pluralismo dos sócios da Obra.

Houve de facto algumas pessoas que defenderam a opinião errónea a que se refere. É possível que alguns, por diversos motivos, tenham difundido tal ideia, mesmo sabendo que não corresponde à realidade. Penso que, em muitos outros casos, isso se pode atribuir à falta de conhecimento, ocasionado talvez por deficiência de informação: não estando bem informadas, não é de estranhar que as pessoas que não têm suficiente interesse por entrarem em contacto pessoal com o Opus Dei e por se informarem bem, atribuam à Obra, como tal, as opiniões de alguns sócios.

O que é certo é que ninguém medianamente informado sobre os assuntos espanhóis pode desconhecer a realidade do pluralismo existente entre os sócios da Obra. Você mesmo poderia citar com certeza muitos exemplos.

Outro factor pode ser o preconceito subconsciente de pessoas que têm mentalidade de partido único, no campo político ou no espiritual. Para quem tem esta mentalidade e pretende que todos opinem do mesmo modo que ele, é difícil acreditar que haja quem seja capaz de respeitar a liberdade dos outros. Atribuem assim à Obra o carácter monolítico que têm os seus próprios grupos.

Tem-se falado por vezes do Opus Dei como uma organização de aristocracia intelectual, que deseja penetrar nos ambientes políticos, económicos e culturais de maior relevo, para os controlar a partir de dentro, ainda que com fins bons. É verdade?

Quase todas as instituições que trouxeram uma mensagem nova, ou que se esforçaram por servir seriamente a humanidade vivendo plenamente o cristianismo, sofreram a incompreensão, sobretudo nos começos. É isto que explica que, no princípio, algumas pessoas não entendessem a doutrina sobre o apostolado dos leigos que o Opus Dei vivia e proclamava.

Devo dizer também - embora não goste de falar destas coisas - que no nosso caso não faltou, além disso, uma campanha organizada e perseverante de calúnias. Houve quem dissesse que trabalhávamos secretamente - isso talvez fosse o que eles faziam -, que queríamos ocupar postos elevados, etc. Posso dizer-lhe, concretamente, que esta campanha foi iniciada, há aproximadamente trinta anos, por um religioso espanhol que depois deixou a sua ordem e a Igreja, contraiu casamento civil e agora é pastor protestante.

A calúnia, uma vez lançada, continua a viver por inércia durante algum tempo: porque há quem escreva sem se informar, e porque nem todos são como os jornalistas competentes, que não se consideram infalíveis e têm a nobreza de rectificar quando verificam a verdade. E foi isso o que aconteceu, embora estas calúnias estejam desmentidas por uma realidade que toda a gente tem podido verificar; além de que logo à primeira vista são inacreditáveis. Basta dizer que os falatórios a que se referiu, apenas respeitam à Espanha; e, para já, pensar que uma instituição internacional como o Opus Dei gravita em torno dos problemas de um só país, demonstra ter horizontes estreitos, ser vítima de provincianismo.

Por outro lado, a maioria dos sócios do Opus Dei - em Espanha e noutros países - são donas de casa, operários, pequenos comerciantes, empregados de escritório, camponeses, etc.; quer dizer, pessoas com funções sem especial peso político ou social. Que haja um grande número de operários membros do Opus Dei não chama a atenção; que haja um político, sim. Na realidade, para mim é tão importante a vocação para o Opus Dei de um carregador como a de um dirigente de empresa. A vocação é Deus que a dá, e nas obras de Deus não cabem discriminações, menos ainda se estas forem demagógicas.

Quem, ao ver os sócios do Opus Dei trabalhando nos mais diversos campos da actividade humana, não pensa senão em pretensas influências e controlos, demonstra ter uma pobre concepção da vida cristã. O Opus Dei não domina nem pretende dominar nenhuma actividade temporal; quer apenas difundir uma mensagem evangélica: que Deus pede que todos os homens, que vivem no mundo, O amem e O sirvam partindo precisamente das suas actividades terrenas. Consequentemente, os sócios da Obra, que são cristãos correntes, trabalham onde e como lhes parece oportuno: a Obra só se ocupa de os ajudar espiritualmente, para que actuem sempre com consciência cristã.

Mas falemos concretamente do caso de Espanha. Os poucos sócios do Opus Dei que, neste país, trabalham em postos de transcendência social ou intervêm na vida pública, fazem-no - como em todas as outras nações - com liberdade e responsabilidade pessoais, agindo cada um segundo a sua consciência. Isto explica que na prática tenham adoptado posições diversas, e, em muitas ocasiões, opostas.

Finalmente, pode dizer-nos alguma coisa a nós, que trabalhamos na imprensa universitária?

O jornalismo é uma grande coisa, também o jornalismo universitário. Podeis contribuir muito para promover entre os vossos companheiros o amor aos ideais nobres, o afã de superação do egoísmo pessoal, a sensibilidade ante os afazeres colectivos, a fraternidade. E agora, uma vez mais, não posso deixar de vos convidar a amar a verdade.

Não vos oculto que me repugna o sensacionalismo de alguns jornalistas que dizem a verdade a meias. Informar não é ficar a meio caminho entre a verdade e a mentira. Isso nem se pode chamar informação, nem é moral, nem se podem chamar jornalistas aqueles que misturam, com poucas meias verdades, bastantes erros e mesmo calúnias premeditadas; não se podem chamar jornalistas porque não são mais do que as engrenagens - mais ou menos lubrificadas - de qualquer organização propaladora de falsidades, que sabe que serão repetidas até à saciedade sem má fé, pela ignorância e estupidez de muitos. Tenho de confessar-vos que, pela minha parte, esses falsos jornalistas ficam a ganhar, porque não há dia em que não reze carinhosamente por eles, pedindo a Nosso Senhor que lhes esclareça as consciências.

Rogo-vos, pois, que difundais o amor ao bom jornalismo, que é aquele que não se contenta com rumores infundados, com os boatos inventados por imaginações febris. lnformai com factos, com resultados, sem julgar as intenções, mantendo a legítima diversidade de opiniões, num plano equânime, sem descer ao ataque pessoal. É difícil que haja verdadeira convivência onde falte a verdadeira informação; e a informação verdadeira é aquela que não tem medo à verdade e que não se deixa levar por desejos de subir, de falso prestígio ou de vantagens económicas.