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Há 6 pontos em «Entrevistas a S. Josemaria» cujo tema é Apostolado → em casa.

Perdoe que insista no mesmo tema. Através de cartas que chegam à Redacção, sabemos que algumas mães de família numerosa se queixam por se verem reduzidas ao papel de trazer filhos ao mundo e sentem uma grande insatisfação por não poderem dedicar a vida a outros campos: trabalho profissional, acesso à cultura, projecção social… Que conselhos daria a essas pessoas?

Mas, vamos a ver: que é a projecção social senão dar-se aos outros com sentido de entrega e de serviço e contribuir eficazmente para o bem de todos? O trabalho da mulher na sua casa não só é, já de si, uma função social, como também pode ser facilmente a função social de maior projecção.

Imagine-se uma família numerosa: o trabalho da mãe e então comparável - e em muitos casos ganha na comparação - ao dos educadores profissionais. Um professor consegue, talvez ao longo de uma vida inteira, formar mais ou menos bem uns tantos rapazes ou raparigas. Uma mãe pode formar os seus filhos em profundidade, nos aspectos mais básicos, e pode fazer deles, por sua vez, outros formadores, de maneira que se origina uma cadeia ininterrupta de responsabilidade e de virtudes.

Também nestes temas é fácil deixar-se seduzir por critérios meramente quantitativos, e pensar: é preferível o trabalho de um professor, que vê passar pelas suas aulas milhares de pessoas, ou o de um escritor, que se dirige a milhares de leitores? Bem, mas a quantos dá realmente formação esse professor e esse escritor? Uma mãe tem ao seu cuidado três, cinco, dez ou mais filhos, e pode fazer deles uma verdadeira obra de arte, uma maravilha de educação, de equilíbrio, de compreensão, de sentido cristão da vida, de modo que sejam felizes e consigam ser realmente úteis aos outros.

Por outro lado, é natural que os filhos e as filhas ajudem nos trabalhos da casa. Uma mãe que saiba orientar bem os seus filhos, pode consegui-lo, e dispor assim de oportunidades, de tempo que - bem aproveitado - lhe permita cultivar as suas tendências e talentos pessoais e enriquecer a sua cultura. Felizmente, não faltam hoje meios técnicos, que, como sabeis muito bem, economizam muito trabalho, se forem convenientemente utilizados e se deles se tirar todo o partido possível. Nisto, como em tudo, são determinantes as condições pessoais. Há mulheres que têm uma máquina do último modelo e demoram mais tempo a lavar - e fazem-no pior - do que quando o faziam à mão. Os instrumentos só são úteis quando se sabem empregar.

Sei de muitas mulheres casadas e com bastantes filhos que dirigem muito bem o seu lar e além disso encontram tempo para colaborar em outros trabalhos apostólicos, como fazia aquele casal da primitiva cristandade: Áquila e Priscila. Os dois trabalhavam em casa e no seu ofício, e foram além disso esplêndidos cooperadores de S. Paulo; com a sua palavra e com o seu exemplo levaram a fé de Jesus Cristo a Apolo, que depois foi um grande pregador da Igreja nascente. Como já disse, se verdadeiramente se quer, podem-se superar muitas das limitações, sem deixar de se cumprir nenhum dever. Na realidade, há tempo para fazer muitas coisas: para dirigir o lar com sentido profissional, para se dar continuamente aos outros, para melhorar a sua própria cultura e para enriquecer a dos outros, para realizar muitas tarefas eficazes.

Na homilia que proferiu em Pamplona no passado mês de Outubro, durante a Missa que celebrou por ocasião da Assembleia dos Amigos da Universidade de Navarra, falou do amor humano com palavras que nos comoveram. Muitas leitoras nos escreveram comentando a impressão que experimentaram ao ouvir falar assim. Poderia dizer-nos quais são os valores mais importantes do matrimónio cristão?

Vou falar de algo que conheço bem e que é da minha experiência de sacerdote, de muitos anos e em muitos países. A maior parte dos sócios do Opus Dei vivem no estado matrimonial e, para eles, o amor humano e os deveres conjugais fazem parte da vocação divina. O Opus Dei fez do matrimónio um caminho divino, uma vocação, e isto tem muitas consequências para a santificação pessoal e para o apostolado. Há quase quarenta anos que prego o sentido vocacional do matrimónio. Que olhos cheios de luz vi mais de uma vez, quando - e pensando eles e elas que eram incompatíveis na sua vida a entrega a Deus e um amor humano nobre e limpo - me ouviam dizer que o matrimónio é um caminho divino na Terra!

O matrimónio existe para que aqueles que o contraem se santifiquem nele e através dele. Para isso, os cônjuges têm uma graça especial que o sacramento instituído por Jesus Cristo confere. Quem é chamado ao estado matrimonial, encontra nesse estado - com a graça de Deus - tudo o que é necessário para ser santo, para se identificar cada dia mais com Jesus Cristo e para levar ao Senhor as pessoas com quem convive.

É por isso que penso sempre com esperança e com carinho nos lares cristãos, em todas as famílias que brotaram do Sacramento do Matrimónio, que são testemunhos luminosos desse grande mistério divino - sacramentum magnum! (Ef. 5, 32), grande sacramento - da união e do amor entre Cristo e a sua Igreja. Devemos trabalhar para que essas células cristãs da sociedade nasçam e se desenvolvam com afã de santidade, com a consciência de que o sacramento inicial - o Baptismo - confere já a todos os cristãos uma missão divina, que cada um deve cumprir no caminho que lhe é próprio.

Os esposos cristãos têm de ter consciência de que são chamados a santificar-se santificando, a ser apóstolos, e de que o seu primeiro apostolado está no lar. Devem compreender a obra sobrenatural que significa a fundação de uma família, a educação dos filhos, a irradiação cristã na sociedade. Desta consciência da própria missão dependem, em grande parte, a eficácia e o êxito da sua vida, a sua felicidade.

Mas não esqueçam que o segredo da felicidade conjugal está no quotidiano, não em sonhos. Está em encontrar a alegria íntima que dá a chegada ao lar; está no convívio carinhoso com os filhos; no trabalho de todos os dias, em que colabora toda a família; no bom humor perante as dificuldades, que é preciso encarar com desportivismo; e também no aproveitamento de todos os progressos que nos proporciona a civilização para tornar a casa agradável, a vida mais simples, a formação mais eficaz.

Nunca deixo de dizer aos que foram chamados por Deus a formar um lar que se amem sempre, que se queiram com o amor cheio de entusiasmo que tinham quando eram noivos. Pobre conceito tem do matrimónio - que é um sacramento, um ideal e uma vocação - quem pensa que o amor acaba quando começam as penas e os contratempos que a vida traz sempre consigo. É então que o amor se fortalece. As torrentes dos desgostos e das contrariedades não são capazes de submergir o verdadeiro amor. O sacrifício partilhado generosamente une mais. Como diz a Escritura, aquae multae - as muitas dificuldades, físicas e morais - non potuerunt extinguere caritatem (Cant. 8,7), não poderão apagar o amor.

Sabemos que esta sua doutrina sobre o matrimónio como caminho de santidade não é uma novidade na sua pregação. Já em 1934, quando escreveu Considerações Espirituais, insistia em que era preciso ver o matrimónio como uma vocação. Mas, neste livro e depois em Caminho, escreveu também que o matrimónio é para os soldados e não para o estado-maior de Cristo. Poder-nos-ia explicar como se conciliam estes dois aspectos?

No espírito e na vida do Opus Dei, nunca houve impedimento algum para conciliar estes dois aspectos. Além disso, convém recordar que a maior excelência do celibato - por motivos espirituais - não é uma opinião teológica pessoal, mas doutrina de fé da Igreja.

Quando eu escrevi aquelas frases, lá pela década de 30, no ambiente católico - na vida pastoral concreta - havia tendência para promover a busca da perfeição cristã dos jovens, fazendo-os apreciar unicamente o valor sobrenatural da virgindade e deixando na sombra o valor do matrimónio cristão como outro caminho de santidade.

Normalmente, nos centros de ensino, não se costumava formar a juventude de modo a que apreciasse, como merece, a dignidade do matrimónio. Mesmo agora, é frequente, nos exercícios espirituais que se costumam dar aos alunos quando estão nos últimos anos dos estudos secundários, oferecer-lhes mais elementos para considerar a sua possível vocação religiosa do que a sua, também possível, orientação para o matrimónio. E não falta - ainda que seja cada vez menos - quem menospreze a vida conjugal, mostrando-a aos jovens como algo que a Igreja simplesmente tolera, como se a formação de um lar impedisse de aspirar seriamente à santidade.

No Opus Dei, temos procedido sempre de outro modo e - mostrando muito claramente a razão de ser e a excelência do celibato apostólico - temos indicado sempre o matrimónio como caminho divino na Terra.

A mim não me assusta o amor humano, o amor santo dos meus pais, de que o Senhor se valeu para me dar a vida. A esse amor, abençoo-o com ambas as mãos. Os cônjuges são os ministros e a própria matéria do sacramento do Matrimónio, como o pão e o vinho são a matéria da Eucaristia. Por isso gosto de todas as canções ao amor limpo dos homens, que são para mim coplas de amor humano ao divino. E, ao mesmo tempo, digo sempre que aqueles que seguem o caminho vocacional do celibato apostólico não são solteirões que não compreendem ou não apreciam o amor; pelo contrário, as suas vidas explicam-se pela realidade desse Amor divino - gosto de o escrever com maiúscula - que é a própria essência de toda a vocação cristã.

Não há qualquer contradição entre ter este apreço pela vocação matrimonial e compreender a maior excelência da vocação para o celibato propter regnum coelorum (Mat. 19, 12), por amor do Reino dos Céus. Estou convencido de que, se procurar conhecer, aceitar e amar a doutrina da Igreja; e qualquer cristão entenderá perfeitamente como estas duas coisas são compatíveis se procurar conhecer, aceitar e amar o ensinamento da Igreja. E se também procurar conhecer, aceitar e amar a sua própria vocação pessoal. Quer dizer, se tiver fé e viver da fé.

Quando eu escrevia que o matrimónio é para os soldados, não fazia mais do que descrever o que sucedeu sempre na Igreja. Como se sabe, os Bispos - que formam o Colégio Episcopal, que tem por cabeça o Papa e governam com ele toda a Igreja - são escolhidos dentre os que vivem o celibato. Isto mesmo acontece nas Igrejas orientais, onde se admitem os presbíteros casados. Além disso, é fácil de compreender e verificar que os não casados têm, de facto, maior liberdade de coração e de movimentos para se dedicarem estavelmente a dirigir e manter empresas apostólicas, mesmo no apostolado dos leigos. Isto não quer dizer que os outros leigos não possam fazer ou não façam de facto um apostolado esplêndido e de primeira importância. Quer dizer somente que há diversidade de funções, diversas dedicações em lugares de diferente responsabilidade.

Num exército - e só isso queria exprimir a comparação - os soldados são tão necessários como o estado-maior e podem ser mais heróicos e merecer mais glória. Em resumo: há diversas tarefas e todas são importantes e dignas. O que sobretudo interessa é a correspondência de cada um à sua própria vocação. O mais perfeito para cada um - sempre e exclusivamente - é fazer a vontade de Deus.

Por isso, um cristão que procura santificar-se no estado matrimonial e é consciente da grandeza da sua própria vocação, sente espontaneamente uma especial veneração e um profundo afecto pelos que são chamados ao celibato apostólico; e quando algum dos seus filhos, pela graça do Senhor, empreende esse caminho, alegra-se sinceramente. E acaba por amar mais ainda a sua própria vocação matrimonial que permitiu oferecer a Jesus Cristo - o grande Amor de todos, solteiros ou casados - os frutos do seu amor humano.

Talvez como reacção contra uma educação religiosa coactiva, reduzida às vezes a uma série de práticas rotineiras e sentimentais, parte da juventude de hoje prescinde quase totalmente da piedade cristã, porque a interpreta como beatice. Em sua opinião, qual é a solução para esse problema?

A solução é a que a pergunta traz já implícita: ensinar - primeiro com o exemplo e depois com a palavra - em que consiste a verdadeira piedade. A beatice não é mais do que uma triste caricatura pseudo-espiritual, fruto geralmente da falta de doutrina e também de certa deformação no humano. É lógico que repugne a quem ama o que é autêntico e sincero.

Vi com alegria como penetra nos jovens - nos de hoje como nos de há quarenta anos - a piedade cristã, quando a contemplam feita vida sincera, quando entendem que fazer oração é falar com o Senhor como se fala com um pai, com um amigo, sem anonimato, com um trato pessoal, uma conversa íntima; quando se procura que ressoem nas suas almas aquelas palavras de Jesus Cristo, que são um convite ao encontro confiante: vos autem dixi amicos (Jn. 15, 15), chamei-vos amigos; quando se faz um apelo forte à sua fé para que vejam que o Senhor é o mesmo ontem, hoje e sempre (Hebr. 13, 8).

Por outro lado, é muito necessário que vejam como essa piedade simples e cordial exige também o exercício das virtudes humanas e que não se pode reduzir a uns tantos actos de devoção semanais ou diários, mas que tem de penetrar na vida inteira, que tem de dar sentido ao trabalho, ao descanso, à amizade, à diversão, a tudo. Não podemos ser filhos de Deus só de vez em quando, ainda que haja alguns momentos especialmente dedicados a considerá-lo, a penetrarmo-nos desse sentido da nossa filiação divina, que é a essência da piedade.

Disse há pouco que a juventude entende tudo isto muito bem. E agora acrescento que quem procura vivê-lo sente-se sempre jovem. O cristão, mesmo que seja um velho de oitenta anos, se viver em união com Jesus Cristo, pode saborear com toda a verdade as palavras que se rezam ao pé do altar: subirei ao altar de Deus, do Deus que alegra a minha juventude (Ps. XVII, 4).

Então, parece-lhe importante educar os filhos desde pequenos na vida de piedade? Pensa que na família se devem realizar actos de piedade?

Considero que é precisamente o melhor caminho para dar aos filhos uma autêntica formação cristã. A Sagrada Escritura fala-nos dessas famílias dos primeiros cristãos - a Igreja doméstica, diz S. Paulo (1 Cor. 16, 1 9) - às quais a luz do Evangelho dava novo impulso e nova vida.

Em todos os ambientes cristãos se conhecem por experiência os bons resultados que dá essa natural e sobrenatural iniciação à vida de piedade, feita no calor do lar. A criança aprende a colocar o Senhor na linha dos primeiros e fundamentais afectos, aprende a tratar a Deus como Pai e à Virgem como Mãe, aprende a rezar seguindo o exemplo dos pais. Quando se compreende isto, vê-se a enorme tarefa apostólica que os pais podem realizar e como têm obrigação de ser sinceramente piedosos, para poderem transmitir - mais do que ensinar - essa piedade aos filhos.

E os meios? Há práticas de piedade - poucas, breves e habituais - que sempre se viveram nas famílias cristãs, e entendo que são maravilhosas: a oração antes e depois das refeições, a recitação do Terço juntos - apesar de não faltar, nestes tempos, quem ataque essa solidíssima devoção mariana -, as orações pessoais ao levantar e ao deitar. Tratar-se-á de costumes diversos segundo os lugares, mas penso que sempre se deve fomentar algum acto de piedade, que os membros da família realizem juntos, de forma simples e natural, sem beatices.

Dessa maneira conseguiremos que Deus não seja considerado um estranho a quem se vai ver uma vez por semana à igreja, ao Domingo. Que Deus seja visto e tratado como é na realidade, também no meio do lar, porque, como disse o Senhor, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio deles (Mat. 18, 20).

Digo com gratidão e com orgulho de filho que continuo a rezar - de manhã e à noite e em voz alta - as orações que aprendi, quando era criança, dos lábios de minha mãe. Essas orações levam-me a Deus, fazem-me sentir o carinho com que me ensinaram a dar os meus primeiros passos de cristão e, oferecendo ao Senhor o dia que começa ou dando-Lhe graças pelo que acaba, peço a Deus que aumente no Céu a felicidade dos que especialmente amo, e no Céu depois nos mantenha unidos para sempre.

Continuemos, se mo permite, com a juventude. Através da secção Gente jovem, da nossa revista, chegam-nos muitos problemas próprios deles. Um, muito frequente, é a imposição que às vezes os pais fazem no momento de determinar a orientação dos filhos. Isto sucede tanto na orientação do curso ou da profissão, como na escolha de noivo, ou, mais ainda, se pretendem seguir o chamamento de Deus para se dedicar ao serviço das almas. Haverá alguma justificação para essa atitude dos pais? Não será uma violação da liberdade, imprescindível para chegar à maturidade pessoal?

Em última instância, está claro que as decisões que determinam o rumo de uma vida deve tomá-las cada um pessoalmente, com liberdade, sem coacção nem pressão de espécie alguma.

Isto não quer dizer que não seja necessária, ordinariamente, a intervenção de outras pessoas. Precisamente porque são passos decisivos, que afectam uma vida inteira, e porque a felicidade depende em grande parte de como se dêem, é lógico que requeiram serenidade, que se evite a precipitação, que exijam responsabilidade e prudência. E uma parte da prudência consiste justamente em pedir conselho. Seria presunção - que se costuma pagar cara - pensar que podemos decidir sem a graça de Deus e sem o calor e a luz de outras pessoas, especialmente dos nossos pais.

Os pais podem e devem prestar aos filhos uma ajuda preciosa, descobrindo-lhes novos horizontes, comunicando-lhes a sua experiência, fazendo-os reflectir para que não se deixem arrastar por estados emocionais passageiros, oferecendo-lhes uma apreciação realista das coisas.

Umas vezes, prestarão essa ajuda com o seu conselho pessoal; outras, animando os seus filhos a recorrer a outras pessoas competentes: a um amigo sincero e leal, a um sacerdote douto e piedoso, a um perito em orientação profissional.

Mas o conselho não tira a liberdade, dá elementos de opinião, e isso amplia as possibilidades de escolha e faz com que a decisão não seja determinada por factores irracionais. Depois de ouvir os pareceres de outros e de ponderar tudo bem, chega um momento em que é preciso escolher, e então ninguém tem o direito de violar a liberdade. Os pais devem precaver-se da tentação de se quererem projectar indevidamente nos filhos - de construí-los segundo as próprias preferências -, devem respeitar as inclinações e as aptidões que Deus dá a cada um. Se há verdadeiro amor, isto, em geral, torna-se simples. Inclusive no caso extremo, quando o filho toma uma decisão que os pais têm fortes motivos para julgar errada e até para prevê-la como origem de infelicidade, a solução não está na violência mas em compreender e - mais de uma vez - em saber permanecer a seu lado para ajudá-lo a superar as dificuldades e, se fosse necessário, para extrair daquele mal todo o bem possível.

Os pais que amam deveras e procuram sinceramente o bem dos seus filhos, depois dos conselhos e das considerações oportunas, devem-se retirar com delicadeza, para que nada prejudique o grande bem da liberdade que torna o homem capaz de amar e servir a Deus. Devem lembrar-se de que o próprio Deus quer ser amado e servido com liberdade, e respeita sempre as nossas decisões pessoais: Deus deixou o homem - diz-nos a Escritura - nas mãos do seu livre-arbítrio (Ece. 15, 14).

Umas palavras mais para me referir expressamente ao último dos casos concretos expostos - a decisão de dedicar-se ao serviço da Igreja e das almas. Quando pais católicos não compreendem essa vocação, penso que fracassaram na sua missão de formar uma família cristã, que nem sequer são conscientes da dignidade que o Cristianismo dá à sua própria vocação matrimonial. Aliás, a experiência que tenho no Opus Dei é muito positiva. Costumo dizer aos sócios da Obra que devem noventa por cento da sua vocação aos seus pais, porque os souberam educar e os ensinaram a ser generosos. Posso assegurar que na imensa maioria dos casos - praticamente na totalidade - os pais não só respeitam como também amam essa decisão dos filhos e que passam a ver a Obra como uma ampliação da própria família. É uma das minhas grandes alegrias e uma confirmação mais de que, para sermos muito divinos, temos de ser também muito humanos.