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Há 6 pontos em «Entrevistas a S. Josemaria» cujo tema é Catequese.

O Concílio Vaticano II utilizou abundantemente nos seus Documentos a expressão “Povo de Deus”, para designar a Igreja, e pôs assim a claro a responsabilidade comum de todos os cristãos na missão única deste Povo de Deus. Quais as características que, em seu entender, a “necessária opinião pública na Igreja” - da qual já Pio XII falou - deve ter, para reflectir essa responsabilidade comum? Como é afectado o fenómeno da “opinião pública na Igreja” pelas peculiares relações de autoridade e obediência que se verificam no seio da comunidade eclesial?

Não concebo que possa haver obediência verdadeiramente cristã, se essa obediência não for voluntária e responsável. Os filhos de Deus não são pedras ou cadáveres: são seres inteligentes e livres e elevados todos à mesma ordem sobrenatural, tal como a pessoa que manda. Mas não poderá nunca fazer uso recto da inteligência e da liberdade - para obedecer, da mesma maneira que para opinar - quem carecer de suficiente formação cristã. Por isso, o problema de fundo da “necessária opinião pública na igreja” é equivalente ao problema da necessária formação doutrinal dos fiéis. É certo que o Espírito Santo distribui a abundância dos seus dons entre os membros do Povo de Deus - que são todos corresponsáveis da missão da Igreja - mas isto não exime ninguém, antes pelo contrário, do dever de adquirir essa adequada formação doutrinal.

Entendo por doutrina o suficiente conhecimento que cada fiel deve ter da missão total da Igreja e da peculiar participação, e consequente responsabilidade específica, que lhe corresponde nessa missão única. Este é - como o tem recordado repetidas vezes o Santo Padre - o colossal trabalho de pedagogia que a Igreja tem de enfrentar nesta época pós-conciliar. Penso que a solução correcta do problema a que aludiu deve ser procurada - como outras esperanças latentes no seio da Igreja - em relação directa com esse trabalho. Não serão, com certeza, as intuições mais ou menos proféticas de alguns carismáticos sem doutrina que poderão assegurar a necessária opinião pública no Povo de Deus.

Quanto às formas de expressão dessa opinião pública, não considero que seja um problema de órgãos ou de instituições. Tão adequado pode ser um Conselho pastoral diocesano, como as colunas dum jornal - ainda que não seja oficialmente católico - ou a simples carta pessoal dum fiel ao seu Bispo, etc. As possibilidades e as modalidades legítimas pelas quais essa opinião dos fiéis se pode manifestar são muito variadas, e não parece que se possam nem devam espartilhar, criando uma nova entidade ou instituição. E menos ainda se se tratasse duma instituição que corresse o perigo - tão fácil - de chegar a ser monopolizada ou instrumentalizada por um grupo ou grupito de católicos oficiais, qualquer que fosse a tendência ou orientação em que essa minoria se inspirasse. Isto poria em perigo o próprio prestígio da Hierarquia e soaria a falso para os restantes membros do Povo de Deus.

Às vezes ouve-se criticar aqueles sacerdotes que assumem atitudes concretas em problemas de índole temporal e mais especialmente nos de carácter político. Muitas dessas atitudes tendem - o que não sucedia noutras épocas - a favorecer urna maior liberdade, a justiça social, etc. Também é certo que não é própria do sacerdócio ministerial a intervenção activa nestes terrenos a não ser em casos excepcionais. Mas, não lhe parece que o sacerdote deve denunciar a injustiça, a falta de liberdade, etc., por não serem cristãs? Como conciliar, concretamente, estas exigências?

O sacerdote deve pregar - porque é parte essencial do seu munus docendi - quais são as virtudes cristãs - todas -, e quais as exigências e manifestações concretas 5que essas virtudes devem ter nas diversas circunstâncias da vida dos homens a que ele dirige o seu ministério. Como deve também ensinar a respeitar e estimar a dignidade e a liberdade da pessoa humana que Deus criou, e a peculiar dignidade sobrenatural que o cristão recebe com o baptismo.

Nenhum sacerdote que cumpra este seu dever ministerial poderá - a não ser por ignorância ou má fé - ser acusado de meter-se em política. Nem sequer se poderá dizer que, ao expor estes ensinamentos, interfira na tarefa apostólica específica, que corresponde aos leigos, de ordenar cristãmente as estruturas e as actividades temporais.

Poderia descrever as diferenças que existem entre o modo como a Opus Dei, enquanto associação, cumpre a sua missão, e o modo como os membros da Obra, enquanto indivíduos, cumprem as suas? Por exemplo, que critérios levam a considerar que determinado projecto - um colégio, uma casa de retiros - deva ser de preferência realizado pela Associação, e outro - uma empresa editora ou comercial, por exemplo - caiba a pessoas individuais?

A actividade principal do Opus Dei consiste em dar aos seus sócios e a quem o deseje os meios espirituais necessários para viverem como bons cristãos no meio do mundo. Dá-lhes a conhecer a doutrina de Cristo, os ensinamentos da Igreja; proporciona-lhes um espírito que os leva a trabalhar bem, por amor de Deus e ao serviço de todos os homens. Numa palavra, trata-se de viver como cristão: convivendo com toda a gente, respeitando a legítima liberdade de todos e fazendo com que este nosso mundo seja mais justo.

Cada um dos sócios do Opus Dei ganha a vida e serve a sociedade com a profissão que tinha antes de entrar na Obra. Assim, uns são mineiros, outros ensinam em escolas ou Universidades, outros ainda são comerciantes, donas de casa, secretárias, lavradores. Entre as actividades honestas do homem, nenhuma há que não possa ser exercida por um sócio do Opus Dei. Quem, por exemplo, antes de pertencer à Obra, trabalhava numa actividade editorial ou comercial, continua nessa actividade. E, se, por causa desse trabalho ou de qualquer outro, procura novo emprego, ou decide, com os seus companheiros de profissão, fundar uma empresa qualquer, isso é matéria em que lhe cabe decidir livremente, aceitando ele pessoalmente os resultados do seu trabalho e assumindo também pessoalmente a respectiva responsabilidade.

Toda a actuação dos Directores do Opus Dei se baseia num rigorosíssimo respeito pela liberdade profissional dos sócios. É este um ponto de importância capital, do qual depende a própria existência da Obra, e que, por conseguinte, é posto em prática com fidelidade absoluta. Cada sócio pode trabalhar profissionalmente nos mesmos campos de actividade que lhe estariam abertos se não pertencesse ao Opus Dei. Assim, nem a Obra como tal, nem nenhum dos outros sócios, têm nada a ver com o trabalho profissional que esse sócio exerce. O compromisso que os sócios tomam ao vincularem-se à Obra é o de que se esforçarão por procurar a perfeição cristã no seu trabalho e por meio dele, e por ter uma consciência mais viva do carácter de serviço à humanidade que toda a vida cristã deve ter.

A principal missão da Obra - já atrás o afirmei - é, portanto, formar cristãmente os seus membros e outras pessoas que desejem receber essa formação. O desejo de contribuir para a solução dos problemas que afectam a sociedade e para os quais o ideal cristão representa tanto, leva além disso a que a Obra como tal, como instituição, ou corpo, desenvolva algumas actividades e iniciativas. O critério, neste campo, é que o Opus Dei, cujos fins são puramente espirituais, só pode realizar, corporativamente, aquelas actividades que constituam, de modo claro e imediato, um serviço cristão, um apostolado. Seria absurdo pensar que o Opus Dei como tal se pudesse dedicar a extrair carvão das minas ou a promover qualquer género de empresas de tipo económico. As suas obras próprias são, todas elas, actividades directamente apostólicas: uma escola para a formação de agricultores, um dispensário médico numa zona ou país subdesenvolvida, um colégio para a promoção social da mulher, etc. Portanto, obras assistenciais, educativas ou de beneficência, como as que costumam realizar, em toda a parte, instituições de qualquer credo religioso.

Para efectuar estas tarefas, conta-se, em primeiro lugar, com o trabalho pessoal dos membros, que, por vezes, a eles se consagram plenamente. Mas conta-se também com a ajuda generosa de muitas pessoas, cristãs ou não cristãs. Alguns sentem-se impulsionados a colaborar por motivos espirituais; outros, ainda que não compartilhem dos fins apostólicos, vêem que se trata de iniciativas em benefício da sociedade, abertas a todos, sem discriminação de raça, religião ou ideologia2.

A Associação insiste na liberdade dos seus sócios para exprimir as convicções que nobremente defendem. Se encararmos, no entanto, o tema numa outra perspectiva, até que ponto pensa V. Rev.ª que estará o Opus Dei, como associação, moralmente obrigado a exprimir, em público ou em privado, opiniões sobre problemas nevrálgicos, quer seculares quer espirituais? Haverá situações em que o Opus Dei exerça a sua influência e a dos seus sócios, em defesa de princípios que considere sagrados, como, num exemplo recente, para apoiar a legislação sobre liberdade religiosa em Espanha?

No Opus Dei, procuramos, sempre e em tudo, sentir com a Igreja de Cristo: não temos outra doutrina senão a que a Igreja ensina a todos os fiéis. A única coisa que nos é peculiar é que temos um espírito próprio, característico do Opus Dei; a saber, um modo concreto de viver o Evangelho, santificando-nos no mundo e fazendo apostolado com a profissão.

Daí resulta directamente que todos os sócios do Opus Dei têm a mesma liberdade que os outros católicos para formarem as suas opiniões e para actuarem em coerência com elas. Por isso o Opus Dei como tal não deve nem pode exprimir uma opinião própria, nem a pode ter. Se se trata de uma questão sobre a qual há doutrina definida pela Igreja, a opinião de cada um dos membros da Obra será essa. Se, pelo contrário, se trata de uma questão sobre a qual o Magistério - o Papa e os Bispos - não se pronunciou, cada um dos sócios do Opus Dei terá e defenderá livremente a opinião que lhe pareça melhor, e actuará de acordo com isso.

Por outras palavras, o princípio que regula a atitude dos directores do Opus Dei neste campo é o do respeito da liberdade de opção no temporal. O que é muito diferente do abstencionismo, pois cada membro da Obra é colocado diante das suas próprias responsabilidades e convidado a assumi-las de acordo com a sua consciência, agindo em liberdade. Por isso mesmo é incongruente falar do Opus Dei quando se trata de partidos, grupos ou tendências políticas, ou, em geral, de tarefas e empreendimentos humanos. Mais ainda: é injusto e quase calunioso, visto poder induzir ao erro de deduzir falsamente que os membros da Obra têm, em comum, alguma ideologia, mentalidade ou interesse temporal.

Certamente que os sócios da Obra são católicos, e católicos que procuram ser consequentes com a sua fé. Podem ser classificados como católicos, se se quiser. Mas tendo em conta que o facto de ser católico não significa formar grupo, nem mesmo no terreno cultural ou ideológico, e, com razão maior, no político. Desde o princípio da Obra - não só depois do Concílio - se tem procurado viver um catolicismo aberto, que defende a legítima liberdade das consciências, que leva a tratar com caridade fraterna todos os homens, católicos ou não, e a colaborar com todos, participando dos diversos ideais nobres que movem a humanidade.

Consideremos um exemplo. Em face do problema racial nos Estados Unidos, cada um dos sócios do Opus Dei terá em conta os claros ensinamentos da doutrina cristã sobre a igualdade de todos os homens e sobre a injustiça de qualquer discriminação. Também há-de conhecer as indicações concretas dos Bispos norte-americanos sobre este problema e sentir-se-á instado por elas. Defenderá, pois, os legítimos direitos de todos os cidadãos e opor-se-á a qualquer situação ou projecto discriminatório. Terá também em conta que, para um cristão, não basta respeitar os direitos dos outros, mas em qualquer homem se deve ver um irmão, a quem é devido um amor sincero e um serviço desinteressado.

Na formação que o Opus Dei dá aos seus sócios, insistir-se-á mais nestas ideias no vosso País do que em outros onde esse problema concreto não se apresenta ou se apresenta com menor urgência. O que o Opus Dei nunca fará é ditar, ou sugerir sequer, uma solução concreta para o problema. A decisão de apoiar, este ou aquele projecto de lei, de inscrever-se numa associação ou noutra associação, ou em nenhuma, de participar ou não participar em determinada manifestação, é coisa que fica à decisão de cada um dos sócios. E, de facto, em toda a parte se vê que os sócios do Opus Dei não actuam em bloco, mas com um natural pluralismo.

Estes mesmos critérios explicam o facto de tantos espanhóis que pertencem ao Opus Dei serem favoráveis ao projecto de lei sobre a liberdade religiosa no seu país, tal como foi recentemente redigido. Trata-se, como é óbvio, de uma opção pessoal, como pessoal é também a opinião de quem critique esse projecto. Todos, porém, aprenderam com o espírito da Obra a amar a liberdade e a compreender os homens de todas as crenças. O Opus Dei é a primeira associação católica que, desde 1950, com autorização da Santa Sé, admite como cooperadores os não-católicos e os não-cristãos, sem discriminação alguma, com amor por todos.

Esclarecido este ponto, gostava de lhe perguntar quais são as características da formação espiritual dos sócios, que fazem com que fique excluído qualquer tipo de interesse temporal no facto de pertencer ao Opus Dei.

Todo o interesse que não seja puramente espiritual está radicalmente excluído porque a Obra pede muito - desprendimento, sacrifício, abnegação, trabalho sem descanso - e não dá nada. Quero dizer que não dá nada no plano dos interesses temporais; porque, no plano da vida espiritual, dá muito: dá meios para combater e vencer na luta ascética, orienta por caminhos de oração, ensina a tratar a Jesus como um irmão, a ver Deus em todas as circunstâncias da vida, a sentir-se filho de Deus e, portanto, comprometido a difundir a sua doutrina.

Uma pessoa que não progredir pelo caminho da vida interior até compreender que vale a pena dar-se de todo, entregar a própria vida em serviço do Senhor, não pode perseverar no Opus Dei, porque a santidade não é uma etiqueta - é uma experiência profundíssima.

Por outro lado, o Opus Dei não tem nenhuma actividade de fins políticos, económicos ou ideológicos: nenhuma acção temporal. As suas únicas actividades são a formação sobrenatural dos seus sócios e as obras de apostolado, quer dizer, a contínua atenção espiritual a cada um dos seus sócios, e as obras corporativas apostólicas de assistência, de beneficência, de educação, etc.

Os sócios do Opus Dei uniram-se apenas para seguirem um caminho de santidade, bem definido, e para colaborarem em determinadas obras de apostolado. Os seus compromissos recíprocos excluem qualquer tipo de interesse terreno, pelo simples facto de que neste campo todos os sócios do Opus Dei são livres, e portanto cada um seque a seu próprio caminho, com finalidades e interesses diferentes e por vezes contrapostos.

Como consequência do fim exclusivamente divino da Obra, o seu espírito é um espírito de liberdade, de amor à liberdade pessoal de todos os homens. E como esse amor à liberdade é sincero e não um mero enunciado teórico, amamos a necessária consequência da liberdade: quer dizer, o pluralismo. No Opus Dei, o pluralismo é querido e amado, não simplesmente tolerado, e de modo algum dificultado. Quando observo entre os sócios da Obra tantas ideias diversas, tantas atitudes distintas - a respeito das questões políticas económicas, sociais ou artísticas, etc. - esse espectáculo dá-me muita alegria, porque é sinal de que tudo funciona diante de Deus como deve ser.

Unidade espiritual e variedade nas coisas temporais são compatíveis quando não reina o fanatismo e a intolerância e, sobretudo, quando se vive de fé e se sabe que nós, os homens, estamos unidos não por meros laços de simpatia ou de interesse, mas pela acção de um mesmo Espírito, que, fazendo-nos irmãos de Cristo, nos conduz a Deus Pai.

Um verdadeiro cristão nunca pensa que a unidade na fé, a fidelidade ao Magistério e à Tradição da Igreja e a preocupação por fazer chegar aos outros o anúncio salvador de Cristo, estejam em contraste com a variedade de atitudes nas coisas que Deus deixou, como se costuma dizer, à livre discussão dos homens. Mais, tem plena consciência de que essa variedade faz parte do plano divino, é querida por Deus, que distribui os seus dons e as suas luzes como quer. O cristão deve amar os outros e portanto respeitar as opiniões contrárias às suas e conviver com plena fraternidade com aqueles que pensam de outro modo.

Precisamente porque os sócios da Obra se formaram segundo este espírito, é impossível que alguém pense aproveitar-se do facto de pertencer ao Opus Dei para conseguir vantagens pessoais, ou para tentar impor aos outros opções políticas ou culturais: porque os outras não lho tolerariam e o levariam a mudar de atitude ou a deixar a Obra. Este é um ponto no qual ninguém no Opus Dei poderá permitir nunca o menor desvio, porque deve defender não só a sua liberdade pessoal como também a natureza sobrenatural da actividade a que se entregou. Penso, por isso, que a liberdade e a responsabilidade pessoais são a melhor garantia da finalidade sobrenatural da Obra de Deus.

Acaba de falar da unidade familiar como de um grande valor. Isto pode dar ocasião à minha pergunta seguinte. como é que o Opus Dei não organiza actividades de formação espiritual onde participem juntamente marido e mulher?

Nisto, como em tantas outras coisas, nós os cristãos temos a possibilidade de escolher entre várias soluções, de acordo com as preferências ou opiniões próprias, sem que ninguém possa pretender impor-nos um sistema único. É preciso fugir, como da peste, dessa maneira de conceber a pastoral e, em geral, o apostolado, que não parece mais do que uma nova edição, corrigida e aumentada, do partido único na vida religiosa.

Sei que há grupos católicos que organizam retiros espirituais e outras actividades formativas para casais. Parece-me muitíssimo bem que, usando da sua liberdade, façam o que consideram conveniente e que também vão a essas actividades os que encontram nelas um meio que os ajuda a viver melhor a sua vocação cristã. Mas considero que não é essa a única possibilidade e nem sequer é evidente que seja a melhor.

Há muitas facetas da vida eclesial que os casais, e inclusivamente toda a família, podem e, às vezes, devem viver juntos, como seja a participação no Sacrifício Eucarístico e em outros actos do culto. Penso, no entanto, que determinadas actividades de formação espiritual são mais eficazes se a elas forem separadamente o marido e a mulher. Por um lado, afirma-se mais o carácter fundamentalmente pessoal da própria santificação, da luta ascética, da união com Deus, que depois reverterá a favor dos outros, mas onde a consciência de cada um não pode ser substituída. Por outro lado, assim é mais fácil adequar a formação às exigências e às necessidades pessoais de cada um, e inclusivamente à sua própria psicologia. Isto não quer dizer que, nessas actividades, se prescinda do estado matrimonial dos assistentes - nada mais longe do espírito do Opus Dei.

Há quarenta anos que venho dizendo de palavra e por escrito que cada homem, cada mulher, tem de se santificar na sua vida habitual, nas condições concretas da sua existência quotidiana; que, portanto, os esposos têm de se santificar vivendo com perfeição as suas obrigações familiares. Nos retiros espirituais e em outros meios de formação que o Opus Dei organiza e aos quais assistem pessoas casadas, procura-se sempre que os esposos tomem consciência da dignidade da sua vocação matrimonial e que com a ajuda de Deus se preparem para vivê-la melhor.

Em muitos aspectos, as exigências e as manifestações práticas do amor conjugal são diferentes para o homem e para a mulher. Com meios de formação específicos, pode-se ajudar cada um a descobri-los eficazmente na realidade da sua vida, de modo que essa separação de umas horas ou de uns dias fá-los estar mais unidos e amarem-se mais e melhor ao longo de todo o outro tempo, com um amor também cheio de respeito.

Repito que nisto não pretendemos sequer que o nosso modo de actuar seja o único bom, ou que toda a gente o deva adoptar. Parece-me simplesmente que dá muito bons resultados e que há razões sólidas - além de uma longa experiência - para proceder assim, mas não ataco a opinião contrária.

Além disso, devo dizer que, se no Opus Dei seguimos este critério para determinadas iniciativas de formação espiritual, em variadíssimas actividades de outro género os casais participam e colaboram como tais. Penso, por exemplo, no trabalho que se faz com os pais dos alunos em colégios dirigidos por membros do Opus Dei, nas reuniões, conferências, tríduos, etc., especialmente dedicados aos pais dos estudantes que vivem em Residências dirigidas pela Obra.

Como vê, quando a natureza da actividade requer a presença do casal, são marido e mulher quem participa nestes trabalhos. Mas este tipo de reuniões e iniciativas é diferente dos que se dirigem directamente à formação espiritual pessoal.

Notas
2

Estas obras corporativas, de carácter claramente apostólico, são promovidas, como acaba de assinalar Mons. Escrivá de Balaguer, pelos membros do Opus Dei juntamente com outras pessoas. A Prelatura do Opus Dei assume exclusivamente a responsabilidade pela orientação doutrinal e espiritual; e nem as empresas proprietárias dessas iniciativas, nem os correspondentes bens móveis ou imóveis pertencem à Prelatura. Os fiéis do Opus Dei que trabalham nessas obras fazem-no com liberdade e responsabilidade pessoais, em plena conformidade com as leis do país, e obtendo das autoridades o mesmo reconhecimento legal que se concede a outras actividades similares dos demais cidadãos.