Lista de pontos

Há 2 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Opus Dei  → pobreza e confiança em Deus.

Permiti que, mais uma vez, vos manifeste uma pequena parte da minha experiência pessoal. Abro-vos a minha alma na presença de Deus, com a certeza mais absoluta de que não sou modelo de nada, de que sou um farrapo, um pobre instrumento - surdo e inapto - que o Senhor utilizou para que se comprove, com mais evidência, que Ele escreve perfeitamente com a perna de uma mesa. Portanto, ao falar-vos de mim, não me passa pela cabeça, nem de longe, o pensamento de que na minha actuação haja algum mérito meu; e muito menos pretendo impor-vos o caminho por onde o Senhor me levou, até porque pode suceder muito bem que o Mestre não vos peça o que tanto me ajudou a trabalhar sem impedimento nesta Obra de Deus a que dediquei toda a minha existência.

Asseguro-vos - toquei-o com as minhas mãos, contemplei-o com os meus olhos - que, se confiardes na divina Providência, se vos abandonardes nos seus braços omnipotentes, nunca vos faltarão os meios para servir a Deus, à Santa Igreja, às almas, sem descuidar nenhum dos vossos deveres. E, além disso, gozareis de uma alegria e de uma paz que mundus dare non potest, que a posse de todos os bens da terra não pode dar.

Desde os começos do Opus Dei, em 1928, além de que não contava com nenhum recurso humano, nunca utilizei pessoalmente um cêntimo sequer. Tão-pouco intervim directamente nos assuntos económicos que logicamente surgem ao realizar qualquer tarefa em que participam criaturas - homens de carne e osso, e não anjos - que precisam de instrumentos materiais para desenvolver eficazmente o seu trabalho apostólico.

O Opus Dei precisou e penso que precisará sempre, até ao fim dos tempos, da colaboração generosa de muitos para sustentar as obras apostólicas: por um lado, porque essas actividades nunca são rentáveis; por outro, porque ainda que aumentem o número dos que cooperam e o trabalho dos meus filhos, se há amor de Deus, o apostolado desenvolve-se e as necessidades multiplicam-se. Por isso, em mais de uma ocasião, fiz rir os meus filhos, pois enquanto os impulsionava com fortaleza a corresponderem fielmente à graça de Deus, animava-os a dirigirem-se descaradamente ao Senhor, pedindo-lhe mais graça e o dinheiro, de contado, que nos faltava.

Nos primeiros anos, faltava-nos até o mais indispensável. Atraídos pelo fogo de Deus, vinham ter comigo operários, mecânicos, universitários… que ignoravam o aperto e a indigência em que nos encontrávamos, porque no Opus Dei, com o auxílio do Céu, sempre procurámos trabalhar de maneira que o sacrifício e a oração fossem abundantes e escondidos. Ao rememorar agora aquela época, brota do coração uma acção de graças rendida. Que segurança havia nas nossas almas! Sabíamos que, procurando o reino de Deus e a sua justiça, o resto ser-nos-ia concedido por acréscimo . E posso garantir-vos que não deixou de realizar-se nenhuma iniciativa apostólica por falta de recursos materiais. No momento preciso, de uma forma ou doutra, o nosso Pai Deus com a sua Providência ordinária facilitava-nos o que era necessário, para que víssemos que Ele é sempre bom pagador.

O desprendimento que prego, depois de olhar o nosso modelo, é domínio e não miséria clamorosa que chame a atenção, disfarce da preguiça e do desmazelo. Deves andar vestido de acordo com o que é próprio da tua condição, do teu ambiente, da tua família, do teu trabalho…, como os teus companheiros, mas por Deus, com o afã de dar uma imagem autêntica e atraente da verdadeira vida cristã. Com naturalidade, sem extravagâncias, asseguro-vos que é preferível que pequeis por excesso do que por defeito. Como imaginas tu o porte de Nosso Senhor? Já pensaste com que dignidade vestiria aquela túnica inconsútil, que provavelmente terá sido tecida pelas mãos de Santa Maria? Não te lembras de como em casa de Simão se lamenta por não lhe haverem oferecido água para se lavar, antes de se sentar à mesa? Com certeza que o Senhor trouxe à baila essa falta de urbanidade, para realçar com tal facto o ensinamento de que é nos pormenores que se mostra o amor. Mas procura também deixar claro que se atém aos usos sociais do ambiente. Portanto, tu e eu esforçar-nos-emos por estar desapegados dos bens e das comodidades da terra, mas sem destoar e sem fazer coisas estranhas.

Para mim, uma manifestação de que nos sentimos senhores do mundo, administradores fiéis de Deus, é cuidar das coisas que usamos, com interesse em conservá-las, em fazê-las durar, em mantê-las impecáveis e em fazê-las servir o mais tempo possível para o seu fim, de maneira a não haver desperdício. Nos centros do Opus Dei, encontrais uma decoração simples, acolhedora e, sobretudo, limpa, porque não tem que se confundir uma casa pobre com o mau gosto ou com a sujidade. No entanto, compreendo que tu, de acordo com as tuas possibilidades e as tuas obrigações familiares e sociais, possuas objectos de valor e cuides deles com espírito de mortificação, com desprendimento.

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura