Lista de pontos

Há 4 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Mundo → o fermento e a massa.

Ao meditar as palavras de Nosso Senhor: Por amor deles santifico-me a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade, percebemos claramente o nosso único fim: a santificação, isto é, que temos de ser santos para santificar. Simultaneamente, como tentação subtil, talvez nos assalte o pensamento de que muito poucos estamos decididos a responder a esse convite divino, além de nos vermos como instrumentos de muito fraca categoria. É verdade, somos poucos, em comparação com o resto da humanidade e pessoalmente não valemos nada; mas a afirmação do Mestre ressoa com autoridade: o cristão é luz, sal, fermento do mundo e um pouco de fermento faz levedar toda a massa. Precisamente por isso, tenho pregado sempre que nos interessam todas as almas - as cem que há num cento - sem nenhuma espécie de discriminações, com a certeza de que Jesus Cristo nos redimiu a todos e quer servir-se de alguns de nós, apesar da nossa nulidade pessoal, para darmos a conhecer esta salvação.

Um discípulo de Jesus nunca trata ninguém mal; chama erro ao erro, mas deve corrigir com afecto o que erra: se não, não pode ajudá-lo, não pode santificá-lo. Temos que conviver, temos que compreender, temos que desculpar, temos que ser fraternos; e, como aconselhava S. João da Cruz, temos que pôr amor, onde não há amor, para tirar amor,sempre, mesmo nas circunstâncias aparentemente intranscendentes que o trabalho profissional e as relações familiares e sociais nos proporcionam. Portanto, tu e eu vamos aproveitar até as oportunidades mais banais que se apresentarem à nossa volta, para santificá-las, para nos santificarmos e para santificar os que compartilham connosco os mesmos afãs quotidianos, sentindo nas nossas vidas o peso doce e sugestivo da co-redenção.

O fermento e a massa

Nós queremos seguir o Senhor e desejamos difundir a sua Palavra. Humanamente falando, é lógico que também perguntemos a nós mesmos: mas que somos nós para tanta gente? Em comparação com o número de habitantes da Terra, ainda que nos contemos por milhões, somos poucos. Por isso, temos de considerar-nos como uma pequena levedura, preparada e disposta a fazer o bem à humanidade inteira, recordando as palavras do Apóstolo: Um pouco de levedura fermenta toda a massa, transforma-a. Precisamos, portanto, de aprender a ser esse fermento, essa levedura, para modificar e transformar as multidões.

Por si mesmo é o fermento melhor do que a massa? Não. Mas é o meio necessário para que a massa se transforme, tornando-se alimento comestível e são.

Pensai mesmo que seja a traços largos, na eficácia do fermento, que serve para fabricar o pão, alimento básico, simples, ao alcance de todos. A preparação da fornada, em muitos sítios, é uma verdadeira cerimónia, e dali sai um produto estupendo, saboroso que se come "com os olhos"… Talvez já a tenhais presenciado. Escolhem farinha boa; se é possível, da melhor. Trabalham a massa na masseira, para a misturar bem com o fermento, em longo e paciente labor. Depois um tempo de repouso, imprescindível para que a levedura cumpra a sua missão, inchando a massa.

Entretanto arde o lume no forno, animado pela lenha que se consome… E aquela massa, metida no calor do lume, torna-se o pão fresco, esponjoso, de grande qualidade. Resultado impossível de conseguir, se não fosse pela levedura - em pouca quantidade - que se diluiu, que desapareceu no meio dos outros elementos, num trabalho eficiente, mas que não se vê…

Fainas de pesca

Eis que mandarei muitos pescadores, promete o Senhor, e pescarei esses peixes. Assim nos indica Deus o nosso grande trabalho: pescar.

Falando ou escrevendo, às vezes compara-se o mundo com o mar. E há muita verdade nessa comparação. Na vida humana, tal como no mar, há períodos de calma e períodos de borrasca, de tranquilidade e de forte ventania. Muitas vezes, os homens nadam em águas amargas, no meio de grandes vagas; caminham no meio de tormentas; viajam cheios de tristeza, mesmo quando parece que têm alegria, mesmo quando falam ruidosamente: gargalhadas que pretendem encobrir o seu desalento, o seu desgosto, a sua vida sem caridade nem compreensão. E devoram-se uns aos outros, tanto os homens como os peixes…

É missão dos filhos de Deus conseguir que todos os homens entrem - com liberdade - dentro da rede divina, para que se amem. Se somos cristãos, temos de converter-nos nos pescadores de que fala o profeta Jeremias. Jesus Cristo também utilizou repetidamente essa metáfora: "Segui-me e Eu vos farei pescadores de homens", diz a Pedro e a André.

Acompanhemos Jesus nesta pesca divina. Jesus está junto do lago de Genesaré e as pessoas comprimem-se à sua volta, ansiosas por ouvirem a palavra de Deus. Tal como hoje! Não estais a ver? Estão desejando ouvir a mensagem de Deus, embora o dissimulem exteriormente. Talvez alguns se tenham esquecido da doutrina de Cristo; talvez outros, sem culpa sua, nunca a tenham aprendido e olhem para a religião como coisa estranha… Mas convencei-vos de uma realidade sempre actual: chega sempre um momento em que a alma não pode mais; em que não lhe bastam as explicações vulgares; em que não a satisfazem as mentiras dos falsos profetas. E, mesmo que nem então o admitam, essas pessoas sentem fome, desejam saciar a sua inquietação com os ensinamentos do Senhor.

Deixemos S. Lucas continuar a sua narrativa: E viu duas barcas à beira do lago; e os pescadores tinham saído e lavavam as redes. Entrando numa das barcas, que era a de Simão Pedro, pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra. E sentando-se dentro, ensinava o povo. Quando acabou a sua catequese, ordenou a Simão: Faz-te mais ao largo e lançai as vossas redes para pescar; é Cristo o dono da barca; é Ele quem prepara a faina. Para isso é que veio ao mundo: para tratar de que os seus irmãos descubram o caminho da glória e do amor ao Pai. Não fomos nós, portanto, quem inventou o apostolado cristão. Nós, os homens, só o dificultamos, com a nossa rudeza, com a nossa falta de fé.

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura
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