Lista de pontos

Há 2 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Coração → cordialidade.

Não é prudente quem nunca se engana, mas quem sabe rectificar os seus erros. É prudente, porque prefere não acertar vinte vezes a deixar-se ficar num cómodo abstencionismo. Não age com precipitação desenfreada ou com absurda temeridade, mas assume o risco das suas decisões e não renuncia a conseguir o bem com medo de não acertar. Na nossa vida encontramos companheiros ponderados, objectivos, que não se deixam arrastar pela paixão inclinando a balança para o lado que mais lhes convém. Quase instintivamente, fiamo-nos dessas pessoas, porque procedem sempre bem, com rectidão, sem presunção e sem espectáculo.

Esta virtude cordial é indispensável no cristão; mas os objectivos últimos da prudência não são a concórdia social ou a tranquilidade de evitar fricções. O motivo fundamental é o cumprimento da Vontade de Deus, que nos quer simples, mas não pueris; amigos da verdade, mas nunca aturdidos ou superficiais. O coração prudente possuirá a ciência ;e essa ciência é a do amor de Deus, o saber definitivo, o que pode salvar-nos, dando a todas as criaturas frutos de paz e de compreensão e, para cada alma, a vida eterna.

Assim actua o Nosso Deus. Quando aquele filho regressa, depois de ter gasto o seu dinheiro, vivendo mal, depois - sobretudo - de se ter esquecido do pai, o pai diz: depressa, trazei aqui o vestido mais rico e vesti-lho e colocai-lhe um anel no dedo; calçai-lhe as sandálias. Tomai um vitelo gordo, matai-o e comamose celebremos um banquete. O Nosso Pai, Deus, quando recorremos a Ele com arrependimento, tira riqueza da nossa miséria e força da nossa debilidade. Que preparará para nós, se não O abandonarmos, se O procurarmos todos os dias, se Lhe dirigirmos palavras carinhosas confirmadas pelas nossas acções, se Lhe pedirmos tudo, confiados na Sua omnipotência e na Sua misericórdia? Só por o filho voltar a Ele, depois de o atraiçoar, prepara um banquete. Que nos concederá, a nós, que procurámos ficar sempre ao Seu lado?

Longe da nossa conduta, portanto, a lembrança das ofensas que nos tenham feito, das humilhações que tenhamos padecido - por mais injustas, grosseiras e rudes que tenham sido - porque é impróprio de um filho de Deus ter um registo preparado para apresentar depois uma lista de ofensas. Não podemos esquecer o exemplo de Cristo. Não se muda a nossa fé cristã como quem muda um vestido: pode enfraquecer ou robustecer-se ou perder-se. Com esta vida sobrenatural revigora-se a fé e a alma aterra-se ao considerar a miserável nudez humana sem o auxílio divino. E perdoa e agradece: meu Deus, se contemplo a minha pobre vida não encontro nenhum motivo de vaidade e menos ainda de soberba; só encontro abundantes razões para viver sempre humilde e compungido. Sei bem que a melhor nobreza é servir.

Referências da Sagrada Escritura