Lista de pontos

Há 3 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Caridade → e entrega.

Recordem a parábola dos talentos. Aquele servo que só recebeu um podia - como os companheiros - empregá-lo bem, procurar que rendesse, usando as suas qualidades. E que decide? Tem medo de o perder. E está certo. Mas, e depois? Enterra-o! E acaba por não dar fruto.

Não esqueçamos este caso de temor doentio de aproveitar honradamente a capacidade de trabalho, a inteligência, a vontade, o homemtodo. Enterro-o - parece afirmar esse desgraçado -, mas a minha liberdade fica a salvo! Não. A liberdade inclinou-se para uma coisa muito concreta, para a mais pobre e árida secura. Optou, porque não tinha outro remédio senão escolher; mas escolheu mal.

Nada mais falso do que opor a liberdade à entrega, porque a entrega surge como consequência da liberdade. Reparem que, quando uma mãe se sacrifica por amor aos filhos, escolheu; e, segundo a medida desse amor, assim se manifestará a sua liberdade. Se esse amor é grande, a liberdade será fecunda e o bem dos filhos nasce dessa bendita liberdade, que pressupõe entrega, e nasce dessa bendita entrega, que é precisamente liberdade.

Mas, perguntar-me-ão, quando conseguimos o que amamos com toda a alma, já não continuamos a procurá-lo. Desapareceu a liberdade? Garanto-vos que então é mais activa do que nunca, porque o amor não se contenta com um cumprimento rotineiro, nem se coaduna com o fastio e a apatia. Amar significa recomeçar todos os dias a servir, com obras de carinho.

Insisto, e gostaria de gravá-lo a fogo em cada um: a liberdade e a entrega não se contradizem; apoiam-se mutuamente. A liberdade só se pode entregar por amor; não concebo outra espécie de desprendimento. Não é um jogo de palavras mais ou menos acertado. Na entrega voluntária, em cada instante dessa dedicação, a liberdade renova o amor e renovar-se é ser continuamente jovem, generoso, capaz de grandes ideais e de grandes sacrifícios. Lembro-me que tive uma grande alegria quando soube que em português chamam aos jovens os novos. E são isso. Conto-vos isto, porque já tenho muitos anos, mas quando rezo junto do altar ao Deus que enche de alegria a minha juventude,sinto-me muito jovem e sei que nunca me hei-de considerar velho, porque, se permanecer fiel ao meu Deus, o

Amor vivificar-me-á continuamente. A minha juventude renovar-se-á como a da águia.

Por amor à liberdade nos prendemos. Só a soberba sente nesses laços o peso de uma cadeia. A verdadeira humildade, que nos é ensinada por Aquele que é manso e humilde de coração, mostra-nos que o seu jugo é suave e a sua carga leve: o jugo é a liberdade; o jugo é o amor; o jugo é a unidade; o jugo é a vida que Ele ganhou para nós na Cruz.

Vamos pedir agora ao Senhor, para terminar este tempo de conversa com Ele, que nos conceda poder repetir com S. Paulo que triunfamos por virtude daquele que nos amou. Pelo qual estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as virtudes, nem o presente, nem o futuro, nem a força, nem o que há de mais alto, nem de mais profundo, nem qualquer outra criatura poderá jamais separar-nos do amor de Deus que está em Jesus Cristo Nosso Senhor .

Este amor também a Escritura o canta com palavras inflamadas: as águas copiosas não puderam extinguir a caridade, nem os rios afogá-la. Este amor encheu sempre o Coração de Santa Maria, ao ponto de enriquecê-la com entranhas de Mãe para toda a humanidade. Em Nossa Senhora o amor a Deus confunde-se com a solicitude por todos os seus filhos. O seu Coração dulcíssimo teve de sofrer muito, atento aos mínimos pormenores - não têm vinho - ao presenciar aquela crueldade colectiva, aquele encarniçamento dos verdugos, que foi a Paixão e Morte de Jesus. Mas Maria não fala. Como o seu Filho, ama, cala e perdoa. Essa é a força do amor.

Referências da Sagrada Escritura
Referências da Sagrada Escritura