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Há 6 pontos em «Amigos de Deus» cujo tema é Unidade de vida.

Virtudes humanas

Certa mentalidade laicista e outras maneiras de pensar a que poderíamos chamar pietistas coincidem em não considerar o cristão como homem íntegro e pleno. Para os primeiros, as exigências do Evangelho sufocariam as qualidades humanas; para os outros, a natureza caída poria em perigo a pureza da fé. O resultado é o mesmo: desconhecer a profundidade da Encarnação de Cristo, ignorar que o Verbo se fez carne, homem, e habitou entre nós .

A minha experiência de homem, de cristão e de sacerdote ensina-me precisamente o contrário: não existe coração, por mais empedernido no pecado, que não esconda, como rescaldo no meio da cinza, um lume de nobreza. Sempre que bati à porta desses corações, a sós e com a palavra de Cristo, sempre corresponderam. Neste mundo, muitos não privam com Deus; são criaturas que talvez não tenham tido ocasião de ouvir a palavra divina ou que a esqueceram. Mas as suas disposições são humanamente sinceras, leais, compassivas, honradas. Atrevo a afirmar que quem reúne essas condições está a ponto de ser generoso com Deus, porque as virtudes humanas constituem o fundamento das sobrenaturais.

É certo que não é suficiente essa capacidade pessoal: ninguém se salva sem a graça de Cristo. Mas se o indivíduo conserva e cultiva um espírito de rectidão, Deus aplanar-lhe-á o caminho e poderá ser santo, porque soube viver como homem de bem.

Talvez tenhais observado outros casos, de certo modo contrapostos: tantos e tantos que se dizem cristãos - porque foram baptizados e recebem outros Sacramentos -, mas que se mostram desleais, mentirosos, insinceros, orgulhosos… E caem de repente. Parecem estrelas que brilham durante alguns momentos no céu e, de súbito, despenham-se irremediavelmente.

Se aceitarmos a nossa responsabilidade de filhos de Deus, saberemos que Ele quer que sejamos muito humanos. A cabeça pode tocar o céu, mas os pés assentam na terra, com segurança. O preço de se viver cristãmente não é nem deixar de ser homem nem abdicar do esforço por adquirir essas virtudes que alguns têm, mesmo sem conhecerem Cristo. O preço de todo o cristão é o Sangue redentor de Nosso Senhor, que nos quer - insisto - muito humanos e muito divinos, com o empenho diário de O imitar, pois é perfectus Deus, perfectus homo.

Virtudes humanas e virtudes sobrenaturais

Quando uma alma se esforça por cultivar as virtudes humanas, o seu coração já está muito perto de Cristo.

E o cristão compreende que as virtudes teologais - a fé, a esperança, a caridade - e todas as outras que a graça de Deus traz consigo o animam a nunca descuidar essas boas qualidades, que compartilha com tantos homens.

As virtudes humanas - insisto - são o fundamento das sobrenaturais; e estas proporcionam sempre um novo vigor para progredir com honradez no sentido do bem. Mas, em qualquer caso, não é suficiente o desejo de possuir essas virtudes: é preciso aprender a praticá-las. Discite benefacere, aprendei a fazer o bem. Temos de nos exercitar habitualmente nos actos correspondentes - actos de sinceridade, de equanimidade, de serenidade, de paciência -, porque amores são obras e não se pode amar a Deus só de palavra, mas com obras e de verdade .

Se vivermos assim, realizaremos no mundo uma obra de paz; saberemos tornar amável aos outros o serviço a Nosso Senhor, porque Deus ama quem dá com alegria O cristão é uma pessoa igual às outras na sociedade; mas do seu coração transbordará a alegria de quem se propõe cumprir, com a ajuda constante da graça, a Vontade do Pai: e não se sente vítima, nem inferiorizado, nem coagido. Caminha de cabeça erguida, porque é homem e é filho de Deus.

A nossa fé dá todo o seu relevo a estas virtudes, que pessoa alguma deveria deixar de cultivar. Ninguém pode vencer o cristão em humanidade. Por isso, quem segue Cristo é capaz - não por mérito próprio, mas pela graça de Nosso Senhor - de comunicar aos que o rodeiam o que às vezes eles pressentem, embora não consigam compreender: que a verdadeira felicidade, o verdadeiro serviço ao próximo passa pelo Coração do Nosso Redentor; perfectus Deus, perfectus, homo.

Recorramos a Maria, nossa Mãe, a criatura mais excelsa que saiu das mãos de Deus. Peçamos-lhe que nos faça homens de bem e que essas virtudes humanas, engastadas na vida da graça, se tornem a melhor ajuda para aqueles que trabalham connosco no mundo pela paz e pela felicidade de todos.

A cada um o que lhe pertence

Lede com atenção o episódio evangélico para aproveitar essas estupendas lições acerca das virtudes que devem iluminar o nosso modo de proceder. Acabado o preâmbulo hipócrita e adulador, os fariseus e os herodianos apresentam o seu problema: Que te parece? É lícito ou não pagar tributo a César?Notai agora a sua astúcia - escreve S. João Crisóstomo - porque não lhe dizem: "explica-nos o que é bom, o que é conveniente, o que é lícito", mas "diz-nos o que te parece". Estavam obsessionados por atraiçoá-lo e torná-lo odioso ao poder político. Mas Jesus, conhecendo-lhes a malícia, retorquiu: Porque me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. Eles apresentaram-lhe um denário. De quem é, perguntou, essa imagem e a inscrição? De César, responderam. Disse-lhes então: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.

Já estais a ver que o dilema é antigo, assim como é clara e inequívoca a resposta do Mestre. Não há, não existe nenhuma contradição entre servir a Deus e servir os outros; entre o exercício dos nossos direitos e deveres cívicos, e os religiosos; entre o empenho por construir e melhorar a cidade temporal e a convicção de que passamos por este mundo como por um caminho que nos leva à pátria celeste.

Também aqui se manifesta a unidade de vida que - não me cansarei de o repetir - é uma condição essencial para os que procuram santificar-se no meio das circunstâncias ordinárias do trabalho, das relações familiares e sociais. Jesus não admite essa divisão: Ninguém pode servir a dois senhores, porque, ou há-de ter aversão a um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro.

A escolha exclusiva de Deus feita por um cristão quando responde plenamente ao seu chamamento, leva-o a dirigir tudo ao Senhor e, ao mesmo tempo, a dar ao próximo tudo o que em justiça lhe corresponde.

Como fazer oração

Como fazer oração? Atrevo-me a assegurar, sem temor de me enganar, que há muitas, infinitas maneiras de orar. Mas eu preferia para todos nós a autêntica oração dos filhos de Deus, não o palavreado dos hipócritas que hão-de ouvir de Jesus: nem todo o que me diz, Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus.

Os que são movidos pela hipocrisia podem talvez conseguir o ruído da oração - escrevia Santo Agostinho - mas não a sua voz, porque aí falta vida e há ausência de afã por cumprir a Vontade do Pai. Que o nosso clamor - Senhor! - vá unido ao desejo eficaz de converter em realidade essas moções interiores, que o Espírito Santo desperta na nossa alma.

Temos de nos esforçar para que da nossa parte não fique nem sombra de hipocrisia. O primeiro requisito para desterrar esse mal que o Senhor condena duramente, é procurar comportar-se com a disposição clara, habitual e actual de aversão ao pecado. Com fortaleza, com sinceridade, temos de sentir - no coração e na cabeça - horror ao pecado grave. E também há-de ser nossa a atitude, profundamente arreigada, de abominar o pecado venial deliberado, essas claudicações que não nos privam da graça divina, mas que debilitam as vias através das quais ela nos chega.

Referências da Sagrada Escritura
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