29

A Associação insiste na liberdade dos seus sócios para exprimir as convicções que nobremente defendem. Se encararmos, no entanto, o tema numa outra perspectiva, até que ponto pensa V. Rev.ª que estará o Opus Dei, como associação, moralmente obrigado a exprimir, em público ou em privado, opiniões sobre problemas nevrálgicos, quer seculares quer espirituais? Haverá situações em que o Opus Dei exerça a sua influência e a dos seus sócios, em defesa de princípios que considere sagrados, como, num exemplo recente, para apoiar a legislação sobre liberdade religiosa em Espanha?

No Opus Dei, procuramos, sempre e em tudo, sentir com a Igreja de Cristo: não temos outra doutrina senão a que a Igreja ensina a todos os fiéis. A única coisa que nos é peculiar é que temos um espírito próprio, característico do Opus Dei; a saber, um modo concreto de viver o Evangelho, santificando-nos no mundo e fazendo apostolado com a profissão.

Daí resulta directamente que todos os sócios do Opus Dei têm a mesma liberdade que os outros católicos para formarem as suas opiniões e para actuarem em coerência com elas. Por isso o Opus Dei como tal não deve nem pode exprimir uma opinião própria, nem a pode ter. Se se trata de uma questão sobre a qual há doutrina definida pela Igreja, a opinião de cada um dos membros da Obra será essa. Se, pelo contrário, se trata de uma questão sobre a qual o Magistério - o Papa e os Bispos - não se pronunciou, cada um dos sócios do Opus Dei terá e defenderá livremente a opinião que lhe pareça melhor, e actuará de acordo com isso.

Por outras palavras, o princípio que regula a atitude dos directores do Opus Dei neste campo é o do respeito da liberdade de opção no temporal. O que é muito diferente do abstencionismo, pois cada membro da Obra é colocado diante das suas próprias responsabilidades e convidado a assumi-las de acordo com a sua consciência, agindo em liberdade. Por isso mesmo é incongruente falar do Opus Dei quando se trata de partidos, grupos ou tendências políticas, ou, em geral, de tarefas e empreendimentos humanos. Mais ainda: é injusto e quase calunioso, visto poder induzir ao erro de deduzir falsamente que os membros da Obra têm, em comum, alguma ideologia, mentalidade ou interesse temporal.

Certamente que os sócios da Obra são católicos, e católicos que procuram ser consequentes com a sua fé. Podem ser classificados como católicos, se se quiser. Mas tendo em conta que o facto de ser católico não significa formar grupo, nem mesmo no terreno cultural ou ideológico, e, com razão maior, no político. Desde o princípio da Obra - não só depois do Concílio - se tem procurado viver um catolicismo aberto, que defende a legítima liberdade das consciências, que leva a tratar com caridade fraterna todos os homens, católicos ou não, e a colaborar com todos, participando dos diversos ideais nobres que movem a humanidade.

Consideremos um exemplo. Em face do problema racial nos Estados Unidos, cada um dos sócios do Opus Dei terá em conta os claros ensinamentos da doutrina cristã sobre a igualdade de todos os homens e sobre a injustiça de qualquer discriminação. Também há-de conhecer as indicações concretas dos Bispos norte-americanos sobre este problema e sentir-se-á instado por elas. Defenderá, pois, os legítimos direitos de todos os cidadãos e opor-se-á a qualquer situação ou projecto discriminatório. Terá também em conta que, para um cristão, não basta respeitar os direitos dos outros, mas em qualquer homem se deve ver um irmão, a quem é devido um amor sincero e um serviço desinteressado.

Na formação que o Opus Dei dá aos seus sócios, insistir-se-á mais nestas ideias no vosso País do que em outros onde esse problema concreto não se apresenta ou se apresenta com menor urgência. O que o Opus Dei nunca fará é ditar, ou sugerir sequer, uma solução concreta para o problema. A decisão de apoiar, este ou aquele projecto de lei, de inscrever-se numa associação ou noutra associação, ou em nenhuma, de participar ou não participar em determinada manifestação, é coisa que fica à decisão de cada um dos sócios. E, de facto, em toda a parte se vê que os sócios do Opus Dei não actuam em bloco, mas com um natural pluralismo.

Estes mesmos critérios explicam o facto de tantos espanhóis que pertencem ao Opus Dei serem favoráveis ao projecto de lei sobre a liberdade religiosa no seu país, tal como foi recentemente redigido. Trata-se, como é óbvio, de uma opção pessoal, como pessoal é também a opinião de quem critique esse projecto. Todos, porém, aprenderam com o espírito da Obra a amar a liberdade e a compreender os homens de todas as crenças. O Opus Dei é a primeira associação católica que, desde 1950, com autorização da Santa Sé, admite como cooperadores os não-católicos e os não-cristãos, sem discriminação alguma, com amor por todos.

Este ponto noutra língua