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Mas continuemos a contemplar a maravilha dos Sacramentos. Na Unção dos Enfermos, como agora chamam à Extrema Unção, assistimos a uma amorosa preparação da viagem, que terminará na casa do Pai. E com a Sagrada Eucaristia, sacramento - se assim nos podemos exprimir - da loucura do amor divino, concede-nos a sua graça, e entrega-se-nos o próprio Deus, Jesus Cristo, que está realmente sempre presente nas espécies consagradas - e não apenas durante a Santa Missa - com o seu Corpo, com a sua Alma, com o seu Sangue e com a sua Divindade.

Penso repetidas vezes na responsabilidade que incumbe aos sacerdotes, de assegurar a todos os cristãos esse caminho divino dos Sacramentos. A graça de Deus vem em socorro de cada alma; cada criatura requer uma assistência concreta, pessoal. As almas não se podem tratar massivamente! Não é lícito defender a dignidade humana e a dignidade de filho de Deus, não atendendo a cada um pessoalmente com a humildade de quem se sabe instrumento para ser veículo do amor de Cristo; porque cada alma é um tesouro maravilhoso; cada homem é único, insubstituível. Cada um vale todo o sangue de Cristo.

Falávamos antes de luta. Mas a luta exige treino, uma alimentação adequada, uma terapêutica urgente em caso de doença, de contusões, de feridas. Os Sacramentos, medicina principal da Igreja, não são supérfluos: quando se abandonam voluntariamente, não é possível dar um passo no caminho por onde se segue Cristo. Necessitamos deles como da respiração, como da circulação do sangue, como da luz, para poder apreciar em qualquer instante o que o Senhor quer de nós.

A ascética do cristão exige fortaleza; e essa fortaleza encontra-a no Criador. Nós somos a obscuridade e Ele é resplendor claríssimo; somos a doença e Ele a saudável robustez; somos a escassez e Ele a infinita riqueza; somos a debilidade e Ele sustenta-nos, quia tu es, Deus, fortitudo mea, porque és sempre, ó meu Deus, a nossa fortaleza. Nada há nesta terra capaz de se opor ao brotar impaciente do Sangue redentor de Cristo. Mas a pequenez humana pode velar os olhos de modo a que não descortinem a grandeza divina. Daí a responsabilidade de todos os fiéis e especialmente dos que têm o ofício de dirigir - de servir - espiritualmente o Povo de Deus, de não fecharem as fontes da graça, de não se envergonharem da Cruz de Cristo.

Referências da Sagrada Escritura
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