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O Nosso Pai, Deus, deu-nos, com a Ordem sacerdotal, a possibilidade de que alguns fiéis, em virtude duma nova e inefável infusão do Espírito Santo, recebam um carácter indelével na alma, que os configura com Cristo Sacerdote, para actuarem em nome de Cristo Jesus, Cabeça do seu Corpo Místico. Com este sacerdócio ministerial, que difere do sacerdócio comum de todos os fiéis, essencialmente e não com diferença de grau, os ministros sagrados podem consagrar o Corpo e o Sangue de Cristo, oferecer a Deus o Santo sacrifício, perdoar os pecados na confissão sacramental e exercitar o ministério de doutrinar as pessoas in iis quae sunt ad Deum, em tudo e só no que se refere a Deus.

Por isso, o sacerdote deve ser exclusivamente um homem de Deus, rejeitando o pensamento de querer brilhar em campos em que os outros cristãos não precisem dele. O sacerdote não é um psicólogo, nem um sociólogo, nem um antropólogo: é outro Cristo, o próprio Cristo, para atender as almas dos seus irmãos. Seria triste que o sacerdote, baseando-se numa ciência humana - que só cultivará como amador e aprendiz, se se dedicar à sua tarefa sacerdotal - se julgasse, sem mais nem menos, habilitado a pontificar em teologia dogmática ou moral. A única coisa que faria, era demonstrar uma dupla ignorância - na ciência humana e na ciência teológica - ainda que com ar superficial de sábio conseguisse enganar alguns leitores ou ouvintes indefesos.

É um facto público que alguns eclesiásticos parecem hoje dispostos a fabricar uma nova Igreja, traindo Cristo, mudando os fins espirituais - a salvação das almas, uma a uma - por fins temporais. Se não resistirem a essa tentação, deixarão de cumprir o seu sagrado ministério, perderão a confiança e o respeito do povo e produzirão uma tremenda destruição dentro da Igreja, intrometendo-se, além disso, indevidamente, na liberdade política dos cristãos e dos restantes homens, com a consequente confusão - tornam-se eles mesmos perigosos - na convivência civil. A Sagrada Ordem é o sacramento do serviço sobrenatural aos irmãos na fé; alguns parecem querer convertê-la no instrumento terreno dum novo despotismo.

Referências da Sagrada Escritura
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