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Cristo na Cruz, com o Coração trespassado de Amor pelos homens, é uma resposta eloquente - as palavras não são necessárias - à pergunta sobre o valor das coisas e das pessoas. Pois valem tanto os homens, a sua vida, a sua felicidade, que o próprio Filho de Deus Se entrega para os remir, para os purificar, para os elevar! Quem não amará o seu coração tão ferido? - perguntava uma alma contemplativa. E continuava a perguntar: Quem não dará amor por amor? Quem não abraçará um Coração tão puro? Nós, que somos de carne, pagaremos amor com amor, abraçaremos o Ferido que encontrámos, Aquele a quem os ímpios atravessaram as mãos e os pés, o lado e o Coração. Peçamos-lhe que Se digne prender o nosso coração com o vínculo do seu amor, feri-lo com uma lança, pois é ainda duro e impenitente.

São pensamentos, afectos e palavras que as almas enamoradas desde sempre dedicaram a Jesus. Mas, para entender essa linguagem, para saber na verdade o que é o coração humano e o Coração de Cristo e o amor de Deus, são precisas a Fé e a humildade. Foi com Fé e humildade que Santo Agostinho escreveu para nós estas palavras universalmente famosas: criastes-nos, Senhor, para Vós, e o nosso coração está inquieto enquanto em Vós não repousa.

Quando não cultiva a humildade, o homem pretende apropriar-se de Deus, mas não dessa maneira divina que o próprio Cristo tomou possível ao dizer tomai e comei: isto é o meu Corpo;antes, tentando reduzir a grandeza divina aos limites humanos. A razão - razão fria e cega, que não é a inteligência nascida da Fé, nem sequer a recta inteligência da criatura capaz de saborear e amar as coisas - converte-se na sem-razão de quem tudo submete à sua pobre experiência vulgar, que amesquinha a verdade humana e cobre o coração do homem com uma crosta insensível às inspirações do Espírito Santo. A nossa pobre inteligência estaria perdida, se não fosse o poder misericordioso de Deus, que rasga as fronteiras da nossa miséria: hei-de dar-vos um coração novo e revestir-vos de um novo espírito; hei-de tirar-vos o vosso coração de pedra e dar-vos em seu lugar um coração de carne. E a alma recuperará a luz e há-de encher-se de alegria, por força das promessas da Sagrada Escritura.

Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição, declarou Deus pela boca do profeta Jeremias. A Liturgia aplica estas palavras a Jesus, porque n'Ele se nos manifesta com toda a clareza que é assim que Deus nos ama. Não vem condenar-nos; não vem para nos lançar em rosto a nossa indigência ou a nossa mesquinhez: vem salvar-nos, perdoar-nos, desculpar-nos, trazer-nos a paz e a alegria. Se reconhecermos esta maravilhosa relação do Senhor com os seus filhos, os nossos corações mudarão com certeza e veremos abrir-se diante dos nossos olhos um horizonte absolutamente novo, cheio de relevo, de profundidade e de luz.

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